ઇઉ Janeiro de 2024
Ser sozinha não é para todo mundo.
E com isso quero dizer também que ser sozinha é bastante diferente de estar sozinha. Eu, por exemplo, tenho alguns amigos que, a propósito, são fundamentais em minha vida e me fazem um bem inestimável. Entretanto, foi com o tempo que consegui construir a sabedoria de separar o tempo em que passo com eles, do tempo em que cada um direciona-se para seu canto e seu próprio lado da vida e, adivinha só: vivem. Bem longe e independente de mim.
Não posso negar que existem dias em que se torna difícil me deparar com somente minha presença na casa. Mais ainda à noite. Quando não há sequer um barulho, uma televisão ligada, um som tocando bem alto – tão somente o som da minha respiração, meus passos – e logo a solidão vem querendo me engolir da cabeça aos pés, tentando me fazer sentir mal. Por vezes, ela consegue.
Então, posso reformular meu pensamento: ser sozinha não é para todos os dias.
Ao menos tenho os gatos da vizinha, que sempre aparecem por aqui para me fazer companhia.
Na maioria das vezes curto a minha própria companhia, e me aprofundei tanto nessa zona de conforto de estar apenas comigo mesma que simplesmente me recuso a deixar alguém entrar. Nesse momento de reflexão e lembranças desgostosas, estou fazendo faxina (mais especificamente, limpando o cocô dos gatinhos na varanda) ao som de Taylor Swift, bem alto, quando sinto meu celular vibrar no bolso do short.
Vou até o aparelho de som cantarolando I knew you were trouble, pego o pano em cima dele e enxugo minhas mãos. Ao pegar o celular, vejo que é a gerente do meu setor no site. Pauso a música – um pouco assustada, confesso – e levo o celular ao ouvido.
— Bom dia, senhora Gomez. A que devo a honra da ligação?
— Bom dia, pequena Júlia — responde, e já me sinto levemente tranquila, pois seu tom de voz não é ameaçador. — Preciso que entre na reunião no Meet.
— Hum... — olho para as louças, mordendo os lábios — agora?
— Sim, neste exato momento.
— Tudo bem. Me dê apenas 5 minutos para me arrumar...
— Não — fala por cima, me causando um susto —, realmente preciso que seja agora. Não nos importamos com como esteja sua aparência. Por favor. — Sua voz agora me pressiona, mas não parece de fato sua intenção.
— Tudo bem, já estou ligando o notebook.
Ela desliga e eu vou rapidamente entrando no Google Meet. O convite para a reunião pisca em minha tela. Aceito. O que eu não esperava era que na sala estivessem todos os maiores responsáveis pelo site, incluindo uma das donas, algumas gerentes de diversos setores e até mesmo diretores de mídia visual. De imediato fico assustada e com medo. Meu reflexo no canto da tela mostra meus cabelos totalmente caóticos e afoitos, apontando para todas as direções ao mesmo tempo. Passo a mão.
Demissão? Não é possível que precise disso tudo para me demitir. A menos que eu tenha cometido algum crime inconscientemente em alguma matéria. Fui preconceituosa e estamos sendo altamente processados juridicamente? Sem querer, deixei escapar que todos os homens devem morrer? Publiquei uma das minhas fanfics sobre o Ben Solo, sem querer?
— Bom dia, Maria Júlia Soares — a maioral, dona principal do site, Cecília Moraes, me cumprimenta com o nome completo e todos permanecem calados.
Jesus, que tensão do caralho! Precisa mesmo falar meu nome completo?
— Bom dia... — respondo, meio sem saber o que ou como dizer. Quero perguntar o que fiz de errado, quero logo saber o motivo desta grande e importante reunião, e por que estou no meio dela.
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efeito borboleta || joseph quinn
RomanceMaria Júlia é uma jornalista brasileira que atualmente trabalha como editora e criadora de conteúdo para o site midiático Sensation. Há algum tempo sofreu um trauma ao perder seu esposo em um acidente de avião. Ela tem como hobby a dança, onde enco...