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Tudo aconteceu rápido demais.

Não pensei que fosse ficar tão péssima. Assim que fechei o notebook, devo ter permanecido fitando obsessivamente a parede por minutos a fio. As pernas fechadas, travadas e encostadas no chão frio, as mãos sob o colo. As lágrimas realmente querendo vir e, meu Deus, já não aguento mais chorar

Uma retrospectiva de todos os últimos anos trabalhando na Sensation, e de quase uma década me dedicando ao jornalismo com alma e coração. Desde os vinte e dois anos de idade, quando me formei e fui contratada por eles – logo depois, influenciada a fazer a pós em jornalismo digital, para me adaptar melhor às mídias (agora ouço que não sei lidar com elas), e anos depois, em marketing.  Cada passo em minha jornada ao lado deles. Agora sinto como se tudo tivesse sido arruinado, como se o único caminho que eu pudesse seguir fosse com eles.

As coisas teimam em ir embora da minha vida, mesmo sabendo que sou compulsivamente viciada no passado. Não supero nada. Eu e a minha nostalgia.

Cada conquista, cada arquivo. Como vou conseguir me levantar disso?

Mas sou retirada do transe com meu celular vibrando, enxergo Joseph a me ligar.

Sei que ele está bastante animado com a viagem, e talvez até se culpe por tudo o que aconteceu ontem. Imagine ter que viajar com um peso na consciência – que deveria estar leve. O que aconteceu hoje só vai gerar ainda mais dessa culpa nele.

Então, engulo o sofrimento goela abaixo e atendo.

— Oi.

Ei, linda — ele fala animado. Sua voz poderia, facilmente, ser a fortaleza dos meus dias ruins. — Já estamos indo ao aeroporto, mas solicitei que adiantassem as coisas para mim, pois estou indo até aí para que possamos nos despedir. Ainda está livre?

Ele soa alegre e ao mesmo tempo calmo. Ouço o som da porta do carro batendo ao fundo. Consigo enxerga-lo sorrir com os olhos e com aqueles lábios reprimindo um maior sorriso. Consigo ver como ele desfaria todo esse conjunto lindo, diante dos meus olhos, tomado pela culpa que somente eu devo carregar, sozinha. Não ele.

Engulo em seco.

— Sim, estou livre! — (e sem emprego.) — Pode vir.

Ótimo, porque eu iria mesmo te ver onde quer que estivesse. — Ele ri nasalmente. — Me diga, como foi a reunião? Está tudo bem?

O ouço ligar o carro. Quero dizer que não venha, que não estou bem, que está tudo desandando. Quero que fique aqui e me assegure de que vai ficar tudo bem, me ajude a retomar a mão. Mas como saberei se realmente o verei depois de tudo? Como saberei se realmente não sou mais uma? Como poderia correr o risco de estragar uma chance? Arruinar toda a sua alegria quando ele está prestes a ir embora, prestes a viajar – de avião – para bem longe de mim. Quem sabe até, para sempre.

— Está tudo bem. Tudo sob controle.

Totalmente adverso a como a situação, de fato, está.

Eu perdi o controle da minha vida.

Você tem cer...

— Já estou liberando seu acesso pelo interfone. A portaria vai te deixar entrar sem que precise informar quem é — suspiro, tentando com todas as forças disfarçar esse desalento, forjando a voz mais suave que posso. — Estou te esperando, lindo.

— Gostei de te ouvir me chamar de lindo — responde, provocativo. Sei que sentirei falta disso. – Até logo.

A ligação é encerrada. Automaticamente aviso ao porteiro que libere sua entrada quando chegar, e sento-me no sofá.

efeito borboleta || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora