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Acordei Joe quando eram 17h20. Eu estava de toalha: uma no corpo e uma na cabeça, prendendo o cabelo. Inclinei-me na altura de seu rosto e beijei-o ali, uma, duas, três vezes; até que ele começou a se mexer e grunhir, chateado por ter que acordar.

— Foi você quem marcou esse encontro aí, às 18h. Não me culpe.

Beijo seu pescoço e seu ouvido. Ele abre um dos olhos, inchados de sono, e dá um sorrisinho leve. Vejo quando seus olhos descem de forma sagaz por toda a estrutura do meu corpo e, tão rápido quanto eu não consigo ver, Joe está desatando o nó que prendia minha toalha ao corpo e me deixando nua. Por reflexo, consigo segurar a toalha antes que caia no chão e volto a me cobrir.

— Ei!

— Deixa eu ver — pede, em tom de súplica, brincando.

— São 17h20. Vai logo se arrumar, idiota. 

Ele faz um biquinho e cobre o rosto com o travesseiro, arfando.

— Aqui tá tão bom. Sua cama é a melhor — ele diz contra o travesseiro, com a voz abafada. Sento-me no canto na cama, tirando a toalha da cabeça e passando nos cabelos. — Quando você quiser se casar comigo, nós vamos levar sua cama com a gente.

De costas para ele, apenas ouço sua voz ficando mais clara quando ele retira o travesseiro do rosto. Não vejo sua feição após o dizer da frase, então não sei se está brincando ou falando sério apenas pelo tom de voz. Estalo a língua no céu da boca. 

— Ah, e quando nós formos à Disney, pode ser no meu carro? — ironizo. Dobro a perna para o lado e fico mais de frente para seu rosto. Está impassível, então não consigo lê-lo. — Joseph, pare de brincar.

— Não tô brincando. — Engatinha até a ponta da cama para me alcançar, pega a toalha de minha mão e passa em meus cabelos, me ajudando a secar. — Não foi à toa que te chamei para viajar comigo. Veja, já tenho trinta anos, não tenho tempo de ficar namorando e terminando. Eu quero você e quero de verdade. O que sinto por você é verdadeiro, intenso e não tenho intenções de acabar. Sei que está enfrentando vários conflitos internos, então jamais vou te pressionar. Mas pode estar ciente de que é tudo real, sem jogos.

Não sei o que dizer. Não sei nem o que sentir. O que sinto é um aperto no fundo do peito a cada palavra dita. Para mim, parece tão irreal. Temos as mesmas intenções um com o outro, a diferença está no fato de que para mim é muito mais difícil me relacionar. Às vezes me sinto uma tola. Estou com ele bem em minha frente e é tudo muito fácil, a correnteza é leve; não sei por que me preocupo tanto quando minha mente se põe a funcionar. Eu gostaria mesmo de apenas deixar levar. Sem pensar muito.

Assinto, meio sem reação, o olhando de soslaio. Ele sorri e me entrega a toalha.

— Obrigada.

— Não tem por que agradecer — ele pisca com um olho e senta-se ao meu lado, cobrindo-se com o cobertor, afinal, está nu. Ele é tão lindo. Não canso de pensar comigo mesma no quanto ele é lindo. — Você viu o bilhete que escrevi, dentro do buquê de girassóis?

Arregalo os olhos. Enquanto Joe dormia, coloquei os girassóis em uma jarra com água, mas não vi dentro do buquê se havia algum bilhete e descartei-o no lixeiro.

— Meu Deus, não.

Ando rapidamente (na verdade, eu saio correndo) até a cozinha e abro o lixeiro, agradecendo por não ter jogado mais nada por cima do buquê, que está do mesmo jeito que coloquei. O pego e procuro o bilhete, que está grudado por dentro. Ouço Joe caminhar atrás de mim.

— Leia em voz alta, por favor — pede.

Abro e lá está a letra que suponho ser dele, em azul. É um poema de Fernando Pessoa. Abro um sorriso incontrolável, enorme. Sério, Fernando Pessoa.

efeito borboleta || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora