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No dia seguinte; após Bianka ter ficado para o jantar e Sávio ter vindo acompanhar e nós três termos comido sanduíche; após tê-los acompanhado até em casa e dirigido pelas avenidas de São Paulo ouvindo Miss Americana & The Heartbreak Prince, da Taylor Swift, repetidamente e em alto volume; após ter estacionado o carro e ficado atrás do volante relendo as mensagens com Joseph e lembrado de como é gostoso de assisti-lo dirigir e de como sinto falta de sua presença; após ter vencido o orgulho e ter respondido seu "gonight beautiful" com um "gonight, joe"; após ter batido a porta do carro com força porque odeio sentir meu coração acelerar todas as vezes em que falo com ele; após tomar banho e ficar uns cinco minutos encarando-me no espelho e pensando comigo mesma que eu não sou mais Maria Júlia Ansali – sou Maria Júlia Soares; após uma noite de sono sem sonho algum.

Após tudo isso, é manhã e estou sentada em frente ao notebook, segurando a segunda xícara de café – bem doce, do jeito que gosto – e organizando os primeiros passos da minha futura carreira de empreendedora. Eu quero, e irei: abrir a minha própria empresa de jornalismo midiático que é sobre o que eu trabalho melhor e sobre o que eu melhor atuo seguindo as minhas pós-graduações. Organizando finanças, pesquisando e planejando investimentos, acabo ficando mais de quatro horas em frente à tela do computador, quando levanto-me finalmente, faço o pedido do almoço (tarde, pois já passa do meio-dia) e vou tomar um banho.

Embaixo do chuveiro, sentindo a água tocar o meu corpo, começo a pensar em mil coisas – já não do trabalho, mas tudo sobre Joseph. Acho que é normal que estejamos distantes, diante do que aconteceu ontem, mas ele não me responde direito desde então. Após seu boa noite, fomos dormir e costumo acordar com seu bom dia antes do meu, o que não aconteceu. Ele demorou a responder e quando respondeu, foi breve; não perguntou nada, não comentou sobre nada e não quis estender o assunto.

Agora penso que talvez tudo realmente venha a acabar. Quem sabe, após essa briga, ele tenha notado que não há destino ou coisa divina alguma que controle nossos encontros; quem sabe não passou de coincidência e boa química. Quem sabe ele não tenha, enfim, notado que eu sou desequilibrada e não vale a pena perder seu precioso tempo comigo. Quem sabe eu não estivesse certa desde o início.

Meio deprimida com as paranoias consumindo-me a mente, saio do banho e visto aquela mesma camisa velha do Hellfire Club que tenho há anos. Está mais larga que o normal, desbotada e seu pano já não tem mais tanta qualidade; mesmo assim a amo, não somente pelo conforto, mas principalmente pela carga emocional que ela carrega. Seco o cabelo rapidamente e devo admitir que ainda não estou acostumada com aquele tamanho. Agora ele está um pouco mais ondulado que o normal pela diminuição, mas gosto de seu caimento. Não é que Bianka é uma boa falsa cabeleireira?

Enquanto organizo algumas coisas na sala de estar, ouço a campainha e tocar e distraidamente aviso que estou indo, portanto, caminhando para abrir a porta e supondo que seja a entrega do almoço, provavelmente deixada na recepção e trazida, como favor, por algum dos porteiros do apartamento. 

Quando abro a porta, sinto meu coração cair ao chão.

Qualquer confusão vai embora, levando consigo o medo, as paranoias, o sofrimento.

É Joseph, com um sorriso suave e um olhar alegre, óculos de sol caindo sob seu nariz e um boné estranho cobrindo seus cabelos loiros que escapam pelos lados, segurando uma pequena maleta em uma mão e um buquê de girassóis em outra. Todo de preto, a única luz que emana é a sua própria, que brilha por natureza. É Joseph, que estava em Londres, mas está aqui, bem em minha frente.

— Quanto tempo, fujona.

efeito borboleta || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora