5

276 28 19
                                    

— "Não sou um ator tão incrível como seus favoritos"? 

Repetindo a frase que Joseph Quinn me disse, grito bem ao lado de Bianka, que faz uma cara de dor colocando as mãos nos ouvidos.  

— O cara atuou em Game of Thrones, Os miseráveis, Catherine The Great, e tem até esse filme aqui de 2019 em que ele foi o personagem principal — clico no filme cujo nome é "Make up". —Um drama de uma hora e meia. Fora outros. Vários outros, que não conheço. Tô oficialmente indignada. 

Bia está tomando café numa pequena xícara rosa clara, com as pernas cruzadas e de pijama observando a tela do notebook enquanto eu pesquiso, clico e comento. Ainda são mais ou menos 15h30 e faz pouco tempo desde que chegamos no hotel após acabar o primeiro ensaio. Estamos em dúvida entre sair à noite ou não, já que estamos aqui unicamente a trabalho e com tudo pago.

Assim que chegamos ela me implorou para que eu contasse tudo o que ouvi, como se fosse roteirizado em minha mente. O que ela não esperava é que eu fosse tão péssima de memória, então acabei contando algumas coisas bem por cima com muita falta de detalhes – e ela me xingou muito. Aos poucos vou lembrando e dizendo.

Inclusive, acabei de lembrar dessa frase que Joseph disse nas poucas palavras que trocamos. Resolvi pesquisar sobre ele e me deparo com um ator perfeitamente famoso, bem distante do que ele me supôs ser. Apenas um tanto quanto recluso.

— Ele é modesto — conclui Bianka. Sopra o café e eu a encaro, revoltada. — O quê? Ele não quis te assustar dizendo que é um ator do caralho, ou parecer mesquinho — coloca a xícara sobre a escrivaninha para levantar-se e então: — Imagina se ele diz "Como você não me conhece, sua filha da puta burra? Sou a porra do Joseph Quinn. Você está me desrespeitando, saia já de minha frente. Pobre".

Estou rindo muito nesse momento. Ela começa a rir também, mas menos que eu, e volta a pegar sua xícara e sentar-se na cama após a encenação.

Fico em silêncio, com um sorriso de lado. Estamos nos encarando. Sei que ela está me acusando de algo com o olhar.

— Pode falar.

— Eu acho ele fofo — murmuro, voltando a olhar para a tela; e agora ela é quem dá uma gargalhada escandalosa.

— Eu juro que vou parar de zombar de você, mas primeiro preciso me acostumar com isso.

— Isso o quê?

— Você toda boba por um cara.

— Eu não tô toda boba.

— Tá sim. E eu nunca vi isso, então permita-me aproveitar.

Reviro os olhos e continuo lendo um pouco sobre ele enquanto Bia mexe no celular.

Através da incrível ferramenta de busca que é o Google, descubro algumas informações sobre Quinn, mas não muitas. O suficiente. Joseph atua desde criança e estudou teatro durante os anos de escola, até se formar em 2015 pela Academia de Música e Artes Cênicas de Londres. Tem vinte e sete anos – cinco anos mais velho que eu. Aparentemente solteiro, não que isso importe, já que não teremos qualquer envolvimento. Além disso lá também tem várias imagens dele que, sem perceber, fico olhando por um tempo. Na maioria das fotos Joseph está com uma barba, nunca cheia, mas sempre rala ou por fazer – entretanto, quando o conheci estava com o rosto limpo.

Quando vejo que Bianka está prestes a bloquear o celular, abaixo a tela do notebook para não dar a ela mais motivos para me zoar por estar vendo fotos do ator.

Sinceramente, esse era para ser um mês péssimo. Hoje é dia 29, e faz exatamente um ano e vinte e seis dias desde que Isaque se foi. Para alguns, pode ser considerado recente, e para outros, pode ser considerado muito tempo. Mas ainda consigo me lembrar de tudo, em carne viva, como se tivesse sido ontem – só não me permito. Sempre que esses pensamentos vêm eu os afasto. Hoje mesmo, enquanto pesquisava sobre Quinn, me dei conta de que nunca alguém vai pesquisar meu nome sem que ache o de Isaque. Sem achar, na busca, aquele dia fatídico.

efeito borboleta || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora