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As coisas nunca podem permanecer boas por muito tempo. Se estão, desconfie. 

Os próximos dias foram desesperadores.

Como se todas as certezas que eu tivesse guardadas dentro de mim, de repente, se dissipassem. Eu era uma mulher confiante? Era uma mulher inteligente? Era uma mulher atraente? Era uma mulher talentosa? Era uma mulher digna? Já não sabia mais. Já não estava certa de que algum dia soube.

Todo o esforço para o projeto de começar a superar os bloqueios emocionais e começar a acreditar que posso ser amada indo por água abaixo. Pessoas que eu sequer conheço.

O momento em que eu comecei a surtar, de fato, foi quando tive que ler que Joseph, por estar próximo a mim, morreria, assim como Isaque. Diante disso, meu coração se despedaçou completamente. Fiquei zonza, sem ar, trêmula. E ficava ainda pior ao observar minhas próprias mãos tremendo, ao sentir as lágrimas correndo em minhas bochechas e tocando meu pescoço, a tela do meu celular ficando nebulosa e turva aos meus olhos úmidos.

Além de cada uma daquelas malditas palavras – que me fizeram refletir como é impressionante o quanto apenas meras letras podem te fazer cair – haviam também fotos minhas. Mais jovem, os cabelos curtos e com algumas mechas loiras; sorridente, sempre com aquelas roupas de cores vivas que eu usava com costume. Sozinha e, às vezes, ao lado de Isaque.

Imagens que eu havia decidido enterrar meses depois de seu velório.

Ele lá, com os braços cruzados nos meus, a camiseta azul que eu o havia presenteado no último aniversário, a calça jeans escura que ele usava quase que diariamente, os cabelos grandes e bem arrumados. Um semblante ameno, calmo e que carregava uma felicidade interior única. Nenhuma daquelas pessoas conheceram a alegria Isaque transmitia, toda a energia que nós, juntos, radiávamos.

Mas lá estavam eles, publicando e comentando sobre, como se tivessem propriedade no assunto.

Havia também diversas fotos ocultadas por conteúdo sensível – eu sei que são do acidente, mas meu subconsciente, felizmente, se recusou a me permitir clicar para visualizar. Eram comentários maldosos. Também havia uma Maju devastada no velório, diante do caixão. Sinto um calafrio passear por minha pele. Aquele dia foi terrível. Bem atrás de mim, com as mãos apoiadas em minhas costas para me consolar, estava a mãe de Isaque, a Isabela Ansali. Hoje em dia não faço ideia de onde ela está, como está e com quem está.

Até que ponto essas pessoas estavam prontas a escavar no meu passado?

Afinal, o que vazou?

Alguma pessoa entre os meus vizinhos, aparentemente, nos viu chegar juntos no dia do aniversário de Sávio, e resolveu tirar algumas fotos. Graças ao meu medo, talvez pressentimento, não permiti que Joe chegasse tão perto de mim de forma suspeita, mas nem assim serviu de algo. Eram sequências nossas dentro do carro, ele com a chave vindo para perto de mim e nós dois caminhando até o meu apartamento. Esse vizinho deve ter ganhado uma grana.

Não precisava procurar muito para ver também fotos de meu rosto estampadas na internet, vídeos meus dançando, insultos a todo e qualquer centímetro da minha aparência física. Muitas fotos minhas com Isaque. Todas as pessoas que se prestavam a estar falando mal de mim, também se deram o trabalho de procurar informações sobre a morte dele. Provavelmente, como forma de me atingir. E é claro que eles conseguiram.

Eu definitivamente não estava pronta para rever toda aquela bagagem de lembranças, e muito menos para ler todas aquelas insinuações. Sobre seu dinheiro, sobre interesse, sobre eu estar bem demais desde o início para quem perdeu um esposo. Minimizando meu sofrimento. Aquelas pessoas não faziam a ínfima ideia do que eu passei para sobreviver ao luto. Literalmente desesperador. E, pelo que eles julgam, eu nunca poderia superar e deveria estar sofrendo até hoje. Mal eles sabem o quanto ainda me machuca de uma forma paralisante.

efeito borboleta || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora