0.7| uma experiência de ação de graça

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Novembro, 1995

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Eric e sua família passaram três horas dentro de um ônibus que fedia merda de cachorro para conseguirem chegar antes do almoço em Carmel City, uma cidade próxima a Sunnydale onde sua avó morava. A viagem foi em silêncio, pois os seus pais tinham brigado feio na noite anterior por causa da decisão de sua mãe de querer passar o feriado de ação de graça na casa da mãe dela.

Carmel City não era muito diferente de Sunnydale. Ela era pequena, cheia de árvores e de casas idênticas. Era a cópia perfeita. Ou Sunnydale era uma cópia dela. Eric não sabia.

Seus dois irmãos dormiam encostados em seu ombro quando o táxi que eles pegaram na rodoviária estacionou na frente da casa de telhado vermelho de sua avó. Pelo vidro preto do carro dava para ver dois dos seus primos menores brincando de bola no jardim.

Seus pais pagaram o táxi, Eric teve que acordar os irmãos, e todos foram para dentro da casa. Se fosse a alguns anos atrás, Eric estaria empolgado em estar ali, pois ouviria as histórias que seu avô contava com uma riqueza de detalhes impressionante e brincaria com seus primos.

Mas agora estava apenas ali parado, com as mãos dentro do bolso da calça e uma expressão vazia estampada no rosto. Depois que o seu avô morreu a casa perdeu o brilho.

— Oi! — Leah, a irmã mais nova da mãe de Eric, lançou um sorriso gentil para eles. Ela colocou encima da mesa uma bandeja com um frango enorme dentro. — Vocês chegaram bem na hora.

A mãe de Eric foi rapidamente ajudar a colocar o restante da comida encima da mesa, deixando o filho mais velho e o marido sentados no sofá sem ter o que fazer. Lucas e Anabel foram para o jardim se juntar aos primos, assim como Eric faria a alguns anos atrás.

Quando a mesa finalmente ficou pronta, todos foram se sentar para comer. Os três irmãos de sua mãe e seus respectivos cônjuges; seus cinco primos: Frank e Alice ( que ainda são pequenos), Martin, Ted e Rohmer ( os que brincavam com Eric na infância e que provavelmente são populares na escola em que estudam); Sua avô; sua mãe, Anabel, Lucas e seu pai.

— Como vai a escola Eric? — John, o marido de sua tia Leah, perguntou ao mesmo tempo em que Eric colocava o purê de batata no prato. — E os jogos de basquete?

— Eu não jogo basquete. — Eric evitou olhar para cima ao falar.

— Ele não tem altura o suficiente. — Sua mãe se intrometeu na conversa.

— Futebol? — Martin, um dos seus primos, deu uma sugestão.

— É prioridade dos garotos brancos em Sunnydale. — Sua mãe respondeu novamente. Eric negou com a cabeça. — Mesmo que ele quisesse não daria!

Ele sentia todos ao redor da mesa o encarando, pensando em como Eric Dawson era um perdedor. Pois todos ali praticaram algum esporte quando estudaram, e simultaneamente foram populares. Já ele não! Seus pais provavelmente sabiam que ele apanhava na escola, mas preferiam fingir que não sabiam de nada.

— Mas Lucas está indo muito bem no basquete na escola secundária. — Seu pai falou pela primeira vez no dia. — Ele é a estrela do time. O técnico vive dizendo isso pra mim. Esse meu filho vai longe. Ele vai ter um futuro lindo, uma carreira brilhante. — Dava para ver no jeito que ele olhou e acariciou os cabelos de Lucas o quanto ele tinha orgulho do menino.

Eric não podia se sentir mais inútil do que já estava se sentindo. Como podia seu irmão mais novo ser mais popular e merecedor do orgulho de seu pai do que ele? Seu irmão só tinha doze anos e já tinha em mente o que queria para o futuro. Enquanto ele tinha dezessete e não fazia ideia do que iria fazer depois do ensino médio.

Beyond Broken HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora