Janeiro, 1996
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O plano era começar pelo refeitório, por ser o lugar onde concentrava o maior número de alunos durante as onze horas e o meio dia. Eles teriam dez minutos para implantar as bombas nos banheiros e na biblioteca.
Aí correriam para trancar as portas de saída com correntes grossas, para que ninguém conseguisse escapar do caos. E então, depois que a primeira bomba estourasse, eles pegariam as armas e começariam a atirar.
Eric passou noites sem dormir, pois sempre que fechava os olhos ficava imaginando como seria esse dia. As mãos suavam, o coração batia forte, mas se ficasse acordado conseguiria lembrar-se de tudo que já sofreu nas mãos daqueles monstros e se sentiria menos culpado.
Nas refeições, não comia e nem falava nada. Olhava para os pais e implorava mentalmente para eles perguntarem o motivo daquilo. Mas infelizmente eles estavam ocupados demais para notar algo. Somente Jonathan compreendia-o e o escutava. Jonathan era tudo para ele naquele momento. Sua única fortaleza.
O natal passou rápido, teve neve e muita comida gostosa. Mas também teve briga e socos no quarto dos pais. No dia seguinte, ele convidou os amigos para irem até a sua casa para comer biscoitos em forma de estrela e fazer bonecos de neve.
Foi divertido, e por isso quase nem pensou no seu suicídio. Sadie falou sem parar, contando sobre os seus natais passados, e Eric e Jonathan prestaram bastante atenção. Pois sabiam que ela amava ser ouvida.
Fizeram guerra de bolinhas de neve, deixando até mesmo Lucas e Anabel participarem; montaram um grande boneco de neve e colocaram o nome dele de Kurt. Sadie estava feliz, Jonathan estava feliz. E Eric sentiu-se feliz por eles estarem felizes.
— Você está bem? — Sadie perguntou baixinho, atrás dos seus ombros.
Era de madrugada, os três estavam deitados num colchão e cobertos por vários cobertores na casa da árvore.
— Sim...por quê?
— Ah, é que você está um pouco estranho ultimamente. Não contou nenhuma piada de sexo hoje e nem zoou as minhas roupas. Aconteceu alguma coisa?
Ele sentiu o coração acelerar no peito. Sim. Eu e Jonathan estamos pensando em fazer uma chacina em breve. E sabe onde? Na escola que estudamos! O que você acha disso, hein gatinha? Aposto que ficou impressionada. Isso te deixa com tesão?
— N-não. Não aconteceu nada. Eu só estou cansado. — Mentiu.
— Ah...ok. — Ela soltou um suspiro quente perto do seu pescoço. — Você sabe que pode contar qualquer coisa para mim, né?
— Sim. — Ele procurou as mãos dela embaixo da coberta e as agarrou com força, apertando-as. — Eu sei.
Os dois só teriam uma outra conversa assim meses depois, os lados estariam invertidos. E seria horas depois de um acontecimento imperdoável, que faria o plano sair da teoria.
E então chegou o ano novo, esse foi demorado, entediante e sem graça. Fogos coloriram o céu, teve briga novamente, seu irmão ficou irritado e decidiu dormir fora de casa. Anabel dormiu com Eric, estava com medo dos gritos que vinham do quarto dos pais. Os dois ouviram música na vitrola durante toda a noite.
No domingo, Eric já não aguentava mais seus pensamentos, então ligou para Jonathan e desabafou.
— Você não precisa fazer isso se não quiser. Porra, eu nem deveria ter te envolvido nisso. — Ele se referia ao plano.
— O que? Você teria coragem de fazer sozinho? — Eric se virou para o outro lado da cama, pois o sol atrapalhava a sua visão naquele ângulo.
— Acho que sim. — Ele sussurrava. — Eric...você sabe que quando chegar a hora, não vai ter como desistir não é?
— E-eu...sei.
— É que... — Jonathan respirou fundo, nem ele gostava de dizer o final. — Vai ter que terminar do jeito que eu disse. Nós entraremos lá, mas não sairemos.
— Eu entendi. — Um nó se formou em sua garganta. Não chore, porra. Você é um homem agora.
A linha ficou muda por um momento, só se ouvia o som fraco da respiração deles. E aquilo era agoniante.
— Se você sente que não está pronto para entrar nessa, não precisa. Eu não quero que se sinta pressionado. Ainda seremos amigos. — Jonathan disse.
— Nada fará você desistir não é?
— Eu não sei, Eric. — Ele suspirou. — Esses merdas me fizeram muito mal e continuam fazendo. Eles nao se importam. E eu tenho muita raiva, é tanta raiva que não consigo expressar em palavras. Mas...ainda é apenas um plano.
Uma lágrima escorreu quente por sua bochecha, e Eric limpou rapidamente, apertando a mandíbula com força.
— Eu estou junto com você nessa.
— Tem certeza?
— Sim. — Amigos sempre apoiam uns aos outros, não importa o que seja.
— Certo. Agora tenho que ir, preciso limpar o quintal antes que o meu pai chegue.
Desligou e se cobriu com o cobertor. Não sentia fome e nem ânimo para ir lá fora. Como sabia que não iria para o céu depois do que fizesse, Eric ficou se perguntando como o Diabo tratava as pessoas que matavam as outras por terem sido malvadas com elas.
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Beyond Broken Hearts
Teen FictionEm meados dos anos 90, numa pequena cidadezinha do sul da Califórnia, um grupo de adolescentes alvos de bullying por seus colegas, decidem após um incidente planejar um massacre para por fim nas humilhações constantes que sofriam. Chocando os morado...