2.6| acorde-me quando fevereiro acabar

14 0 0
                                    

Sadie sentia o corpo inteiramente dolorido. Queria checar se tinha algo machucado, mas sua mente ainda estava processando o que tinha acontecido minutos antes.

Abriu os olhos e encarou o quarto vazio. O som baixinho da música lá embaixo fez seu cérebro voltar para o presente e lembrar de Connor. Onde ele estava? Será que tinham feito algo com ele? Seu coração se apertou no peito. Precisava encontra-lo.

Ela levantou do chão para se vestir e ficou horrorizada com a imagem que viu no reflexo do espelho do guarda-roupa. Seu rosto estava pálido e o seu corpo coberto por chupões. Tocou sua pele delicadamente, sentindo os olhos se encherem de lágrimas.

Aquela garota destruída que a olhava de volta, não se parecia em nada com a menina sorridente e feliz que entrou ali inocentemente para se divertir. Ela achou que eles seriam seus amigos. Um soluço estrangulado escapou de sua garganta.

Enxugou as bochechas molhadas e se cobriu com o que sobrou do seu vestido azul, ignorando os rasgados. Respirou fundo e desceu as escadas, sentindo seus pés ficarem frios por conta dos degraus.

A música estava alta na sala, tocava Elvis e os estudantes dançavam com copos de cerveja nas mãos. Se apoiou no corrimão e procurou por Connor. Mas não havia sinal dele em lugar nenhum.

— Ei. — Uma voz chamou logo atrás. Ela se virou e encontrou Megan encarando-a com curiosidade. — Você estava aonde?

— Eu... — Sadie pensou se deveria contar a verdade, se deveria falar que tinha sido estuprada pelo namorado dela bem embaixo de seu nariz. Mas desistiu ao lembrar dos barracos que ela fazia ao encontra-lo traindo-a na escola. Para Megan, a culpa nunca era de Flash, ela o amava demais e jamais acreditaria. —...estava no banheiro.

— E você viu os garotos? O Flash de preferência?

— Não. — Sadie mordeu os lábios com força, tentando impedir a vontade de gritar.

— Ah, que saco. — Megan bufou. — Eu só espero que ele não esteja transando com alguma vadia por aí. Nesse verão, eu o peguei aos beijos com uma puta do primeiro ano. A garota parecia ter uns doze anos de idade e eles estavam dentro do carro como se fossem um casal!

Sadie ouvia as palavras sem prestar nenhuma atenção. Só queria sair dali o mais rápido possível. Mas Megan não parecia querer acabar a conversa tão cedo.

— Eu fiquei com tanta raiva que amassei toda a lataria com um taco de beisebol. Mas depois ele me pediu desculpas e disse que me amava mais que tudo no mundo. Ela foi um desejo passageiro, quem ficará com ele para sempre será eu...

— Desculpa, Megan. — Sadie suspirou fundo, incapaz de continuar ouvindo tanta baboseira. — Mas eu tenho que ir.

Correu para fora antes que a garota protestasse. Esbarrou em um casal que se pegava escondidos no jardim e sentiu-se aliviada quando o ar gelado da noite atingiu seu rosto.

Se protegeu do vento, abraçando-se e caminhou de cabeça baixa sem rumo pela rua. Cada músculo do seu corpo implorava para que parasse, seus pés fraquejavam e sua pele pinicava.

Pensou nas diversas possibilidades que poderia ter feito para evitar que aquilo acontecesse. Mas daí teria que voltar alguns anos da sua vida, e não só algumas horas. Começando com o seu primeiro beijo, que foi com Peter atrás da escola na oitava série, talvez se não tivesse beijado-o os boatos não existiriam. Se tivesse sido inteligente e recusado o convite de subir para o quarto de Flash, o estupro não teria acontecido. Se não tivesse descido as escadas de sutiã, quando tinha treze anos, para mostrar a tia que os seios estavam crescendo de verdade, Terry jamais a olharia com outras intenções como olhava hoje.

Beyond Broken HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora