33| o dia D

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Abril, 1996

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Os três adolescentes se encontraram na pedreira de manhã. O ar estava gelado, mas um sol fraco brilhava no céu, dando ao dia um pouco de cor.

Eles estavam vestidos com sobretudos escuros, coturno de cano alto e equipados com grandes bolsas de lona. Um uniforme, pensou Sadie, ao descer a alameda com cuidado.

Próximo ao rio, Jonathan estava mirando em latas de cerveja com uma pistola. Eric o observava, sem expressar nenhuma emoção.

Apesar das circunstâncias e de saber exatamente o que fariam em algumas horas, Saúde sentia uma sensação esquisita de paz, como se tudo fosse ficar melhor. Talvez por saber que logo todo aquele sofrimento estaria acabado.

Ela se aproximou de Jonathan e o beijou demoradamente, acariciando o rosto e os cabelos dele. Era triste demais saber que não faria aquilo novamente.

— Trouxe tudo? — Ele perguntou, encostando o nariz no pescoço dela. Ela sussurrou um sim baixinho e se afastou, pousando a bolsa no chão.

— E então, vamos fazer o que enquanto esperamos? — Eric se inclinou, para pegar um cigarro.

Jonathan deu de ombros, escondendo as mãos no bolso do sobretudo. Sadie o encarou. Ele parecia tão indiferente, distante e frio.

— Que tal um pacto de sangue?

— Tá de brincadeira? — Sadie revirou os olhos e Eric riu. Jonathan tirou uma faca ninja do bolso e a girou.

— É sério. É o pacto mais forte que sela uma irmandade.

— Acha que no inferno vão nos deixar juntos? — Eric brincou.

— E se não formos para o inferno? — Sadie interviu.

“Não matarás ”. — Eric ergueu uma sobrancelha irônica para ela. — Você ainda acha que não? Bom, eu topo fazer o pacto. E que o inferno não seja tão ruim.

— Que o inferno não seja tão ruim. — Jonathan repetiu, rindo.

Sadie os encarou, incrédula. Os dois cortaram a palma da mão, deixando uma ferida irregular e feia coberta de sangue.

— Só vai fazer sentido se for nós três. — Jonathan disse.

Ela fechou os olhos e estendeu a mão. Ah, que se dane. Que o inferno não seja tão ruim, pensou, pois jamais diria aquilo em voz alta.

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As dez e meia, Sadie ligou para David e Savannah, pedindo que almoçassem na pedreira com eles as onze. Savannah foi a mais difícil de convencer, ela queria saber o motivo deles terem faltado aula. Só após algumas desculpas, ela se deu por vencida e concordou em encontra-los lá.

As onze horas, Sadie estava dentro do ford del rey observando com ansiedade as portas de vidro do refeitório. Suas mãos tremiam apertadas em seu colo.

E se desse tudo errado? E se a polícia chegasse a tempo e os prendesse? Iria conseguir lidar com isso? Lidar com a prisão e a decepção de sua tia?

Oh meu deus, por que eles estão demorando tanto? Sadie pensou, olhando pela milésima vez para o retrovisor, na esperança de vê-los voltando.

Eric tinha ido colocar as bombas na biblioteca e Jonathan ido trancar as saídas com correntes, pois segundo ele, as quadras seriam o primeiro lugar que todos pensariam em correr para fugir.

Então ela ficou sozinha nesse meio tempo, pensando e ficando tensa toda vez que alguém passava e olhava para ela através do vidro do carro.

Quinze minutos se passaram, e quando Sadie já estava começando a ficar impaciente, ela os viu voltando.

Abriu a porta do carro e correu ao encontro dele, abraçando-o. Jonathan sorriu, beijando os cabelos dela. Eric os observou, com as mãos no bolso.

— Já instalamos tudo. — Ele disse. — Em alguns minutos as bombas irão estourar e entraremos com tudo. Tem certeza que ainda quer fazer isso?

— Quantas vezes terei que dizer sim para que você entenda que eu nunca viveria num mundo sem vocês dois?

— Oh, merda. Isso é doentio. — Eric se intrometeu. — Mas eu não teria suportado tanto tempo se não tivesse vocês comigo. Então, não vou julgar.

— Eu também não. Eu já teria feito isso bem antes. — Jonathan sussurrou. — Mas eu gostei de cada momento que passamos juntos.

Sadie escondeu o rosto no peito dele e engoliu o grande nó que se formou na sua garganta. Sentiu alguém acariciar seus cabelos e respirou fundo.

— Temos que ir, está quase na hora.

— As bombas nem estouraram ainda. — Ela se desesperou, inspirando o cheiro de Jonathan, guardando-o na mente.

— Você pode ir pegando as bolsas, Eric? Quero ficar mais algum tempo com ela.

— Claro. — Eric se dirigiu para o porta-malas do carro.

— Ei, amor. — Jonathan pegou o rosto dela nas duas mãos, fazendo-a olha-lo nos olhos. — Não quero que os nossos últimos instantes sejam tão dolorosos. Nós sabemos o que irá acontecer, nós nos amamos e devemos ver isso como o final épico. Estaremos destruindo o mal. Você deveria estar feliz, porque eles vão pagar pelo que te fizeram. E finalmente teremos nossa paz.

Sadie fechou os olhos. Ele tinha razão. Não tinha motivo para tanta tensão e nervosismo. Estavam fazendo o que era certo naquele momento.

— Você tem razão. Quero que todos eles se ferrem.

— Essa é a minha garota. — Ele disse, beijando seus lábios suavemente. Eric voltou, segurando as três bolsas. Jonathan olhou o relógio no pulso e abriu um sorriso de lado. Um estouro alto ecoou de algum lugar, seguido de outros. As bombas!

Ouve gritos assustados no refeitório. Pelas portas de vidro, os três puderam ver algumas pessoas se levantarem das mesas e se olharem confusas.

— Qual o sentido das bombas afinal? — Sadie arfou.

— Era para ser a entrada épica, como o prato principal num restaurante. Eu queria sentir o medo deles antes de começar. Mas confesso que estou decepcionado. — Ele fez uma careta. Olhou o relógio novamente e pareceu satisfeito. — Está na hora!

Eles andaram em direção ao refeitório e entraram. Ninguém os notou. Eles eram invisíveis, até agora. Jonathan jogou a bolsa no chão, abriu e tirou a espingarda lá de dentro.

Sadie imitou o movimento, sem saber ao certo o que deveria fazer. Em seguida, escutou alguém gritar e foi então que o som do primeiro tiro ecoou. Seus ouvidos zumbiram.

E em segundos, o caos havia se instalado.

Beyond Broken HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora