Espero que gostem
Obrigada por acompanhar
💄A luz azul iluminava o quarto do motel que agora servia de consultório para Madame Lu.
—Tu eres una persona muy confusa. Aquí diz que está dividida entre dois caminos.
—E então?—A platinada indagou encarando a cartomante
—Las cartas no mienten. —A mulher colocou uma carta no centro da mesa e duas de cada lado e uma em cima da carta do meio. Ela desvirou todas fitando as ilustrações —Interesante
—O que é? Vamos desembucha!—Carmem tomou uma respiração.
—Há duas mujeres en tu caminho. Vê?—Apontou para as duas cartas—La primera es una energía antiga en tu vida. Hay un lazo muy fuerte entre ustedes. E também hay un sentimiento…
—Sentimento? Que sentimento? É amor? Ela me ama?—A platinada bombardeou a mulher com as perguntas.
—Las cartas no dizem…Há um hombre embaçando la vision...Mas veja—Apontou para o outro lado da mesa—La imperatriz, há una mujer muy importante aqui. Una mujer confiante. Mas a carta de la muerte a persegue. —A foice estava logo acima.
—E o que isso significa?—A pergunta foi jogada ao vento assim como as cartas quando a corrente de ar entrou escancarando a porta. As luzes piscaram e um calafrio percorreu a espinha de Carmem.
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Carmem colocou o capacete antes de subir na moto, havia uma sensação incômoda na sua nuca, como a que sentira quando Paula disse que morreria em menos de um ano, talvez toda a situação com a morte tenha deixado alguma lembrança traumática o suficiente para fazê-la pensar naquilo. Mas era sexta e a ultima notícia que tivera de Violet fora um buquê de peonias na segunda de manhã vom apenas uma frase no cartão: “rosas são clichês” e depois nada. Sem mensagens, emails ou ligações. A loira parecia ter sumido do mapa.
A platinada acelerou, passando entre os carros.
Vinte minutos depois estava na porta da mulher. Ela tocou a campainha mas não demorou para a porta se abrir.
Violet a encarou, o cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela usava um vestido quadriculado azul e branco. A mulher levantou as sobrancelhas antes de sorrir.
—Bonsoir?—A loira encarou por cima do ombro antes de se voltar para a platinada.—Está tudo bem? Você parece…. pálida
—Estou…eu só—Ela balançou a cabeça
Baudet abriu espaço para que ela entrasse e Carmem o fez, notando que agora haviam quatro fotos na parede atrás da loira.
—Está tudo bem?—A mulher repetiu, as sobrancelhas quase unidas.
—Você sumiu e pensei em dar uma passada…—Ela encarou as unhas e depois se voltou pra os olhos azuis.
—Senti sua falta —A frase foi quase um sussurro. Violet sorriu e o ambiente pareceu pausar no tempo—Talvez um pouco mais do que eu admitiria
—Eu também senti a sua falta…—Ela espelhou a expressão da mulher. E toda sua preocupação com as cartas pareceu sumir quando a loira a envolveu com um dos braços, aproximando o seu rosto lentamente até o ouvido de Carmem.
—Mas preciso admitir que não estou sozinha. —Ela encarou a mulher os narizes quase se encostavam.
—O que?—Franziu o cenho fazendo Violet rir baixo.
—As meninas estão lá fora. —A mulher sorriu. —Estamos montando um cinema no quintal. Vai ser como um drive in. Toalhas de piquenique, sanduíches…
—As suas filhas? —Carmem perguntou e a outra assentiu.
—Prometi que passaria a semana sem o celular, por isso eu…—Ela gesticulou deixando a frase morrer.—Você vai ficar?
Não parecia ser realmente uma pergunta.
—Eu não sei, acho que é uma coisa mais família.
—Oh vamos, eu prometo que não vai parecer um filme de terror—Ela riu.—E então eu teria a desculpa perfeita para abrir um vinho…
Carmem encarou os olhos azuis e tudo o que poderia lembrar era a carta da morte. Ela franziu o cenho. Parecia uma pegadinha do destino, a morte sempre perseguia as pessoas mais próximas a ela. Celso, Paula e agora Violet era o alvo.
—Tudo bem—Ela respondeu.
Carmem não questionou quando Violet deitou em seu colo. Um filme, era projetado na parede e as meninas pareciam mais interessadas em tirar o gergelim do pão de hambúrguer do que realmente assistir. As taças estavam vazias ao lado da platinada.
—Eu disse que não seria ruim—A loira sorriu quando ela olhou para baixo. Os efeitos especiais do filme de terror a faziam questionar a bilheteria tão alta. Não fazia muito tempo que ele havia sido lançado, mas ela tinha certeza de que se forçasse um pouco mais a visão poderia ver os cabos que erguiam a personagem. Violet não pareceu se importar quando as gêmeas começaram uma pequena discussão sobre qual filme veriam e no fim das contas o empasse foi resolvido com uma disputa de pedra papel e tesoura.
Ela odiou o filme, desde antes da possessão. Odiava filmes de terror, porque nenhum deles fazia muito sentido, era o tipo de filme que ela só veria se estivesse amarrada a uma poltrona. E por isso passara a maior parte do tempo observando Violet e as crianças.
—Achei uma ótima idéia —Ela comentou ainda evitando olhar para a tela.
—Foi Cecília quem sugeriu. Aparentemente meus pais fazem isso. E os funcionários fazem todo o resto. —Violet suspirou —Estamos tentando deixar isso parecendo um lar de verdade.
—Tenho certeza que elas estão amando.—As meninas agora tentavam plantar as sementes assadas no gramado.
—Se eu passasse mais tempo com elas saberia que odeiam gergelim, ou que não tomam refrigerante. Eu as conheceria.—A mulher torceu o nariz—Não quero ser uma estranha em suas vidas.
Se ela está triste, consegue esconder muito bem. Carmem estava quase acostumada com suas máscaras, mas era bem mais difícil quando as únicas emoções que violet deixava escapar eram calmas, boas e felizes. Não parecia errado ser feliz, mas não parecia certo que ela se transformasse em um mar calmo cada vez que um tsunami apontava no fim do horizonte trazendo de volta aquela sensação em sua nuca de que algo estava muito errado.
—Você não deveria se cobrar tanto…—Ela sussurrou
Violet se senta bruscamente encarando a platinada.
—Eu só quero que elas queiram ficar…—A mulher apoiou o rosto no ombro da platinada, contornando o braço ao redor do dela.—Mas as vezes nem eu quero estar aqui. Até cogitei ficar quando cheguei lá, a paz que aquele lugar trás é…inigualável.—Ela encarou o filme projetado na parede.
—Você pode fazer daqui um lar...
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Paula encarava a tela do notebook por cima do ombro de Murilo.
—E então? Achou mais alguma coisa?
—Calma mãe —Ingrid interrompeu—Já parou para pensar que você pode só estar com ciúmes da Carmem?
—Eu? Com ciúmes? Paula Terrare não sente ciúmes…
—Gente, gente, achei uma coisa—Ele falou cessando a discussão—Aparentemente há bem mais coisas que aquele jornal não contou.
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Nêmesis - Carrare
RomanceCarmem e Paula agora eram grandes amigas e o relacionamento da morena com o jogador parecia cada vez mais sólido, tudo parecia correr bem até a nova concorrência bater à sua porta. Quando tudo parece transcorrer na mais perfeita monotonia algo parec...