XXIV- Mas quem poderia ficar?

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Boa leitura, comentem o que acharam ♡

Isolada em sua própria cozinha, exilada em seus pensamentos. Violet apoiou metade do corpo sobre o balcão, a falta de interesse na conversa fora o estopim para que ela saísse do cômodo, o que diabos estava acontecendo com ela? Se importando com o que qualquer pessoa pudesse pensar sobre aquilo. A morte de Lia a atormentara por um bom tempo, mas não mais, então porque as coisas pareceram tomar uma proporção absurdamente grande de uma hora para outra?

Ela tentou se lembrar de todas as vezes que a sua reputação foi por água abaixo, como ela não se importou, como econstruiu a imagem fria da empresária que  amedrontada os outros e como ela mal deixava as pessoas se aproximarem dela.  E então Carmem chegara,  depois que ela havia prometido para si mesma que nunca mais aconteceria, porque Kate fizera o mesmo, lentamente tomando espaço em seu coração para depois assinarem os papéis do divórcio.  E então havia acabado. Ela estava sozinha novamente. Mas agora, agora ela estava noiva. Ela estava noiva? Não houve um pedido formal, apenas ela jogando isso como um fato na amiga por quem era apaixonada.

A loira apertou os lábios balançando a cabeça,  estar disposta a ter o coração partido não parecia uma boa ideia. Seu estômago doeu, ela estava prestes a vomitar, se era pelos remédios ou pela bebida com folhas de passiflora ela jamais saberia. Talvez fosse a união de tudo ao mesmo tempo, a atingindo como um raio.

Ela se forçou a pegar o celular assim que o aparelho apitou em seu bolso, apenas um lembrete de que seu advogado havia indicado alguém para cuidar do caso de uma maneira mais próxima. Um advogado residente no país com certeza faria mais por ela que um a continentes de distância.

Violet abriu a mensagem, e era exatamente o que esperava, um número novo com uma série de instruções sobre o que falar e como falar, como agir, como sorrir, que lugares frequentar durante as próximas semanas. Ela poderia rolar os olhos pelo resto do dia apenas lendo as sugestões de caminhadas no parque e sorrisos felizes. Mas havia algo novo no fim, uma reunião marcada para o fim da semana, aparentemente uma vida falsa precisaria de reuniões verdadeiras.

-Ela....já foi. Foi embora, a Paula-Ela encarou Carmem na porta. O humor péssimo para que ela sequer conseguisse dar um meio sorriso.-Não foi ela. Sei o que parece, mas não foi.-Dois passos e agora a platinada estava quase ao seu lado, ela lutou contra a vontade de abraçá-la,

—Poderia ter me avisado. -Baudet soltou todo o ar do pulmões, concentrando o olhar nas próprias mãos trêmulas,  ela se afastou,sentando e apoiando os cotovelos no balcão.Como ela tinha deixado aquilo tudo chegar naquele ponto?

-Eu não sabia de nada disso, se eu soubesse eu... teria impedido. E depois do que você me contou eu...Eu acredito em você, mas a Paula não...não fez isso.

-Não sobre as notícias, à propos de cette histoire de fiançailles. -a mulher travou a mandíbula, ajeitando a postura, a respiração irregular fazendo seus olhos marejarem. Ela mais uma vez engoliu o choro.

—Foi... um improviso, eu...achei que....pudesse funcionar sabe, a ideia é boa e pode funcionar.

-E quanto a mim?-Violet estalou a língua. Balançando a cabeça.-Não basta a sua querida amiga invadir a minha casa, assustar as minhas filhas e ser responsável por fazer a minha vida um circo. Você ainda quer que eu faça isso?

-São apenas algumas fotos. E alguns comerciais.

-Fuck la campagne, je parle de mes sentiments-A voz soou mais alta e carregada do que ela planejou e a mulher se viu encolhendo os ombros. Aquilo doeu, como algo se espremendo entre suas costelas.-Não gosto de ser a última a saber sobre a minha vida, pensei que tivesse deixado isso claro.

-O que? Eu...

-As empresas não fazem parte do nosso relacionamento. Era o combinado, desde o nosso primeiro encontro. E não é comigo que você quer se casar. Eu sou uma idiota. Uma grande idiota. —Um soluço escapou. —Por que você simplesmente não a beija e diz que a ama? De novo e de novo até que entre no cérebro daquela... Eu não consigo fazer isso

-Eu gosto de você!

-E esse é o problema, você gosta de mim, você gosta de jaquetas de couro, você gosta de melancias cortadas em esferas. -Violet jogou as mãos para o alto. -Você não me ama Carmem. E não estou pedindo por isso. Prometemos ser sinceras, lembra?

O silêncio caiu sobre elas como um manto enevoado. Ambas sabiam que era verdade. A platinada abaixou a cabeça suspirando pesadamente.

E sendo sincera ela gostava bem mais de Carmem do que poderia admitir, bem mais do que ela gostaria e muito muito mais do que a mulher em sua frente pensava. E agora era o seu coração implorando para que ela baixasse a guarda, mas Violet estava com raiva, mais dela mesma do que de toda situação.  Ela queria ficar sozinha, ela precisava ficar sozinha.

-Eu...deveria ter falado com você antes, pensei nisso antes da Paula chegar, não a campanha, o casamento, seria um bom desvio de atenção para eles. Cada vez que pesquisassem noivado apareceriam nossos nomes e não toda aquela história. -Carmem levantou o olhar o suficiente para ver a loira de braços cruzados. -Mas ela só sabia falar daquele noivado idiota com o jogadorzinho e...

-E eu fui o seu xeque-mate. -Violet balançou a cabeça fechando os olhos, torcendo para que seu estomago nãoa traisse. -Eu não quero um casamento falso. Eu nem sei se quero um verdadeiro.

-Não precisa ser falso. -Carmem encarou a outra que arqueou a sobrancelha -Podemos ir pra Las Vegas e o Elvis celebraria nosso casamento ou para Paris, uma coisa pequena em um cartório, talvez Itália ou Grécia.

-Você está me pedindo em casamento?

-Se você disser sim eu estou, se não nós...podemos engavetar a ideia...e vamos pensar em outra coisa...

A postura de Violet pareceu se desfazer enquanto algo parecido com compreensão cruzava seu rosto. A loira fechou os olhos balançando a cabeça, e Carmem não soube se era a negativa da proposta ou ela estava apenas afastando algum pensamento obsoleto.
Uma faixa do cabelo caiu sobre o rosto de Violet e a platinada conteve o impulso para ajejta-lo, uma coisa que a própria o fez em seguida.

—Outra coisa...—Seu coração doeu. —Podemos manter esse noivado de fachada. Mas eu não vou me casar com alguém que está...emocionalmente envolvida com outra pessoa.

—Vamos dar um jeito nisso, juntas.

—Por que é tão fácil para mim acreditar em você?—Ela suspirou abraçando o próprio corpo.

—Por que eu não estou mentindo, já passei por esse tipo de notícia e meu filho tinha mais ou menos a mesma idade das suas.

Carmem encarou a mulher a sua frente, o silêncio percorrendo a cozinha tão lentamente que ela quase podia escutar ponteiros imaginários em sua cabeça,  contando os segundos.  Havia algo ali, algo que não havia sido dito diretamente,  mas ambas sabiam o que era. Era como caminhar em uma corda, nenhuma das duas queria chegar naquele assunto, mas evitá-lo parecia tão complicado quanto não fazê-lo.  A platinada se aproximou um passo de cada vez até que não restasse nada além de poucos centímetros entre elas.

Os olhos azuis pareciam mais distantes, levando-a para cada vez mais longe da mulher que conhecera.  Violet finalmente a encarou.

—Tudo bem—As palavras saíram de sua boca como uma batalha perdida—Faremos do seu jeito...mas...vou falar com meu advogado antes. Roy indicou alguém daqui para resolver isso, acho prudente que ele saiba os próximos passos.

—É justo.


Até a proxima
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Nêmesis - CarrareOnde histórias criam vida. Descubra agora