XVIII- Em outra vida eu seria sua garota

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  volteeeei
Feliz quarta
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Tudo o que Violet sabia era que aquilo era um sonho. Porque ela jamais seria puxada por tamanha nostalgia novamente.

A loira sentiu o carpete felpudo sob seus pés quando se sentou e finalmente saiu da cama, aquele apartamento ficava a milhares de kilometros de distância e ela preferiu manter aquilo bem longe da sua mente. Qual foi a primeira coisa que leu sobre sonhos reais? Não pergunte as horas, certo, isso era fácil de se fazer,mas havia outra coisa, a criação do subconsciente que deveria lhe dizer alguma coisa.

A música soava fraca, vinda da sala e ela se lembrava de como era acordar todos os dias com a luz invadindo o quarto por causa das cortinas finas. Ela se lembrava tão bem de tudo.

O caminho até a "porta", que consistia em cordões de micangas que formavam um por do sol, durou três passos, ela relaxou os ombros quando encarou o corredor. Será que tudo fora um sonho. E aquela era a realidade? Ela beliscou o próprio braço a dor a fez morder o lábio com força.

Casa. Ela estava em casa. Tanto tempo... e tudo ainda continuava tão igual.

A TV estava ligada na sala e foi para onde ela seguiu, torcendo para que aquilo não passasse de uma ilusão. Sua primeira reação foi parar diante da cena.

Lia estava deitada no sofá, o grande labrador descansava sobre ela, Kinsley era o seu nome, adotado em uma das feiras do canil local, era um cão dócil e calmo e talvez grande demais para aquele apartamento. Mas era delas. Ela se lembrava de todas as noites de tempestades em que ele se deitava entre elas, como uma criança  pequena com medo dos trovões

A mulher sorriu preguiçosamente  acariciando as orelhas do cão,  encarando Violet de um jeito que a própria  não  se lembrava. Quando ela esquecera de Lia? Dos seus sorrisos, da sua voz, ou da forma como seus olhos diminuíam quando ela sorria, como gostava do outono ou das pequenas receitas que faziam as quartas a noite? Das tulipas amarelas, ou qualquer coisa amarela que ela pudesse ter. Ela amava tanto cada parte daquela cena que mal percebeu quando uma lágrima correu seu rosto.

Ela não teve a chance de dizer adeus, só foi obrigada a seguir em frente e ver a felicidade  dos seus pais estampada nos rostos deles. Eles sequer foram capazes de disfarçar. Ela não sabia como continuar, enquanto tudo girava ao seu redor e o tempo passava tão rápido e tão lento. Como ela poderia amar de novo quando todo amor que ela sentira partira junto com Cecília.

—Achei que você dormiria para sempre—Ela bocejou, a xícara na mesa de centro indicava que o café estava pronto, mas mais do que isso trazia à tona uma rotina que não  estava presente há muito tempo.

Violet quis acreditar que aquilo era real, com todas as suas forças,  que todo o futuro era uma farsa criada pelo seu cérebro  e que aquela vida era a real. Que nada havia mudado. Ela seria capaz de colocar o mundo abaixo por Lia.

Baudet tentou memorizar o máximo  que pôde,  como ela poderia ter esquecido o tapete amarelo abaixo do sofá  ou a pintura abstrata na parede principal? Onde aquele quadro havia parado? Ela não se lembrava. Cada dia que passara, mais a imagem de paz, aconchego e Cecília  haviam ficado para trás.

Havia um vaso com margaridas próximo  à xícara, as flores não  pareciam tão frescas, como se murchassem lentamente, um passo mais perto da morte eminente. A loira engoliu seco juntando as mãos,  seu coração  parecia trai-la cada vez que seu olhar encontrava com o da mulher. Quanta vezes ela quis ser a pessoa dentro do carro destruído? Quantos anos na terapia para se convecer que  não era sua culpa quanto todos apontavam para ela?

Nêmesis - CarrareOnde histórias criam vida. Descubra agora