Nêmesis - Carrare

XXIII- Entrelinhas

Volteeei
Feliz quarta

Casamento.
Casamento é uma palavra que tem origem no Latim, vem de CASAMENTUM, que significa "terreno com uma habitação instalada"

A palavra ecoava como um infinito coral torturante. Carmem encarou ambas, buscando algo entre o choque aparente de ambas as mulheres. Não houve um olhar reconfortante de Violet que a fizesse relaxar e tampouco algo espalhafatoso vindo de Paula, nenhuma exclamação, nada. Apenas o choque. A platinada engoliu seco suas ações.

Baudet foi a primeira a se levantar, ajeitando a blusa. O anel ainda reluzia em seu dedo, ela percebeu, um tanto tarde e o retirou em seguida enfiando-o no bolso do seio esquerdo, junto ao seu coração. Casamentos não eram seu ponto forte e fora fácil admitir isso, mas porque parecia tão difícil desmentir aquilo. Violet Ergueu os ombros e finalmente ela parecia tão alta quanto realmente era, a postura da grande empresária estava de volta e nem mesmo Paula Terrare poderia tirar dela o que ela mais prezava. Ela empurrou a vontade de chorar para o fundo do seu cérebro,  ela não pareceria fraca na frente dela, Violet jamais deixaria a morena pensar que venceu.

Paula respirou fundo tentando recobrar os sentidos, as peças em sua cabeça se encaixavam lentamente como um cubo mágico distorcido, daqueles em formas absurdas, casamento, ela não podia acreditar que Carmem se casaria, com Violet então? Aquilo parecia um pesadelo, e ela beliscou disfarçadamente o antebraço esquerdo, como se aquilo fizesse aquele sonho ruim terminar. Era isso que Carmem sentiu quando ela disse que se casaria com Neném? Essa...Esse... Ela não sabia como definir, mas não gostava. Não gostava de como se sentia, assim como não gostou quando viu Violet guardar o anel que Carmem a deu de noivado, provavelmente em um gesto grande. Elas sabia que a Wollinguer amava grandes comemorações, e não deixaria um noivado passar em branco, ela não deixara nem mesmo a união das empresas passar em branco. Então porque tudo que a platinada oferecera àquele noivado fora um anel com um brilhante amarelo?

-Já posso dar por encerrada essa reunião?-A voz de Violet imponente como costumou parecer das outras vezes enquanto discutiam. Houve um longo suspiro antes que ela terminasse:-Apenas...Mande ela embora antes das meninas chegarem.

A voz foi desaparecendo lentamente enquanto a loira caminhou para a cozinha.

-Então é isso...-Os olhos castanhos encontraram os de Carmem que por sua vez parecia ter encontrado algo realmente interessante na madeira entalhada do piso.-Estamos noivas. Como isso aconteceu?

-Neném te pediu em casamento e você aceitou- A Wollinguer respondeu.-É assim que noivados funcionam.

-Não seja grossa, sabe do que eu estou falando, você mal conhece ela! E não vem falar que eu e o Neném somos assim porque não somos, nós morremos juntos. Somos destinados a ficar juntos.

-Você não consegue ficar um minuto sem falar dele? É pedir demais? A morte já uniu vocês e já separou também. "Até que a morte os separe". Se vocês morreram... A ideia mais lógica é que não precisam ficar juntos. E o mais importante: vocês são pessoas diferentes, duas pessoas. Enquanto ele está lá vivendo a vida dele feliz chutando bolas pelo mundo você está aqui, esperando ele voltar. Não acha isso...infeliz?

-Infeliz? Por que infeliz? Ele vai voltar pra mim, ele sempre volta pra mim. Nós somos felizes assim. E logo logo os jogos vão acabar e então vamos nos...casar.

-E depois? Novos jogos? Novas viagens? Ele não ama você Paula, ele ama o pedestal que você colocou ele. Deixe-o como segunda opção uma vez e você vai ver.

-Claro que não! Ele nunca me deixaria...de novo. Só estamos esperando...

-Parece uma espera interminável, não é? Quando só um dos dois está apaixonado. -Ela sorriu tristemente -Esperar que ele veja você como você o vê. Esperar que os sorrisos de alegria sejam para você e não para uma mensagem no celular. Esperar que ele apenas veja você, não como A Paula Terrare, mas como você é, de verdade. Sem máscaras, sem ter que fingir, apenas você. Esse é o ponto Paula. Você não é um pit stop, não pode viver esperando que ele volte, pare quando precisar de atenção e então volte para a vida dele.

-Desse ponto de vista você faz ele parecer um insensível. -A terrare cruzou os braços, mas suavizou a expressão -Eu estou tentando ser feliz, sabe? O Grande felizes para sempre de um conto de fadas, e nem sempre príncipes vem montados num cavalo, Neném veio numa chuteira.

-Eu prefiro me casar com um sapo.

-Olha que se eu completar com o que eu tô pensando é capaz de voar um jogo de chá completo em mim-Ela riu da própria piada.-Com as colherzinhas e tudo.

-Você sabe o que eu quis dizer!-A falsa irritação fez Paula erguer as mãos.

-Tudo bem, tudo bem, vou manter minha boca fechada. -A mulher revirou os olhos-Ainda não tô acreditando que você vai se casar, com ela?

-Esperava que fosse com você? -Carmem Ergueu a sobrancelha o constrangimento divertido tomava conta do rosto de Paula.

-Não, é só...repentino. Não me disse nem que estava namorando. Não...conversamos sobre isso, ou...qualquer outra coisa desde...

-Aquele dia-Carmem assentiu-Eu sei...me lembro bem...

-Eu também... -Ela encarou as mãos -Como você disse que me amava e agora está noiva? Você fala que o Neném me deixa como prêmio de consolação, mas você não esperou nem, sei lá, seis meses pra me trocar! Seu amor durou menos que a bateria do meu celular.

-O que?-A platinada piscou lentamente -Eu te pedi em casamento e você literalmente ignorou! Tudo que eu fiz, desde...desde aquela notícia falsa da morte, tudo que eu fiz foi pensando em você, eu te amei por cada segundo, com cada parte do meu coração, eu disse isso, não uma, mas várias vezes. E você nem percebeu. Não pode me culpar por seguir em frente.

-Mas...se o Neném não existisse acha que...

-Não quero viver mais na margem dos "e se" por favor não faça isso.

Espero que tenham gostado
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