Capítulo 7

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— Isso foi incrível! — Catarina diz assim que volto à cozinha. — Você realmente leva jeito para a dança do ventre.

— Fico feliz que tenha gostado e que pude ajudar — respondo automaticamente, pois só consigo pensar no homem misterioso parado na escada.

Como ele é lindo!

Daria qualquer coisa para ser aquela mulher...

— Você não só ajudou — ela completa animada. — Você salvou a noite!

Esse comentário basta para que eu volte à realidade. Meus pensamentos não param, e me pergunto se essa apresentação foi suficiente para conquistá-la e me garantir outra oportunidade de emprego, mesmo que por uma noite como essa.

Será que o verei novamente?

Sorrio satisfeita, e meu olhar procura pela loira fuxiqueira. Ao encontrá-la, percebo raiva transbordando do seu rosto. Resolvo ignorá-la, é o melhor que tenho a fazer, pois se tudo der certo como pretendo, trabalharei aqui novamente e terei que conviver com essa peste.

— Por favor, lembre-se disso quando precisar de alguém — digo a Catarina, esperando que ela realmente não esqueça de mim.

— Pode deixar! — ela pisca um dos seus olhos e me dá um sorriso agradecido. — Mas agora vá vestir o uniforme e continue servindo os convidados.

— Tudo bem — respondo prontamente.

Não demoro a me trocar e logo estou circulando com a bandeja nas mãos. É inacreditável constatar que, só por estar com o uniforme, deixei de ser notada e voltei a ser invisível. Não houve uma única pessoa que me reconheceu como a dançarina que se apresentou momentos antes.

O que acontece com essas pessoas?

Não estou ofendida nem nada parecido, mas estou chocada. Juro que gostaria de entender e passo a observar mais atentamente. Quando dancei, olhei nos olhos de cada um que me aproximei e fui retribuída com elogios e sorrisos largos. Agora, como serviçal, ninguém teve o interesse em saber quem está atrás da bandeja.

Agradeço à minha mãe pela educação que me deu. Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos, mesmo antes de adoecer, ela me criou sozinha e com recursos muito limitados. O exemplo de mulher e de caráter nunca me faltou. Fui muito bem-educada e posso comprovar hoje com a atitude dessas pessoas. Não sou em nada parecida com essa gente, graças a Deus.

Continuo circulando e equilibrando os copos até que sinto a intensidade do olhar dele sobre mim. Ele está no bar, recostado na bancada de mármore e me olha tão fixamente que sinto um calafrio percorrer a minha coluna.

Não consigo desviar os olhos.

O que esse homem tem que me deixa assim, tão abalada fisicamente?

Ele, com certeza, não está prestando atenção em nada do que o casal na sua frente está dizendo. Estão contando algo de maneira tão animada que, para quem observa de longe como eu, percebe sua falta de interesse no assunto. Continuo circulando, enquanto os copos que carrego vão desaparecendo rapidamente. Seu olhar permanece em mim e, por um momento, não sei o que fazer, pois não quero interromper o contato visual, mas sei que preciso continuar o meu trabalho. Quando o último copo se vai da bandeja, deixando-a vazia, com muito custo desvio os meus olhos e sigo para a cozinha.

Troco de bandeja, escolhendo uma que contém água em vez de bebidas alcoólicas. Da maneira como essas pessoas consomem álcool, água parece ser a melhor escolha para que a minha permanência na sala seja um pouco mais duradoura. Porém, quando volto para o salão, meus olhos o procuram no bar onde estava há pouco, mas para a minha decepção, ele não está mais lá.

Percorro todo o local com os olhos e nada.

Será que retornou ao andar superior?

Voltou para os braços daquela mulher?

Não ousaria subir novamente, pois já arrisquei meu trabalho no vacilo anterior. E por mais que a minha curiosidade esteja me matando, termino a minha noite sem ceder à tentação. 

***

Já passa das três horas da manhã quando finalmente estou indo embora. Me despeço com um "boa noite" geral, quando Catarina me surpreende:

— Julia, espera! — Ela chama, interrompendo meu caminho até a porta. Fico sem entender, pois ela já tem os meus dados bancários e me garantiu que o meu pagamento estaria na conta nas primeiras horas da manhã.

Viro-me e vejo que ao seu lado está um dos homens que permaneceram na cozinha durante o evento. Ele é o mesmo senhor que tentou pegar um dos canapés e foi advertido pela cozinheira. Sorrio ao lembrar da cena.

— Como posso ajudar, Catarina? — Respondo prestativa.

— Seu Arnaldo irá levá-la até sua casa. — Olho em volta e vejo algumas das meninas indo embora sozinhas e pareço confusa com a situação, sem entender o motivo do privilégio — É o mínimo que posso fazer por você após a sua ajuda durante o evento — ela percebe minha confusão, mas enfim compreendo.

Sorrio mais agradecida do que ela pode imaginar. Não só pela gentileza de me oferecer a carona bem-vinda nesse horário, mas principalmente por recuperar a minha autoestima após o fracasso com o Henrique mais cedo.

— Muito obrigada — digo simplesmente, sabendo que ela jamais saberá o quanto sou realmente grata.

— Vamos, menina — o Sr. Arnaldo me conduz gentilmente para a saída.

Chegando à garagem vejo um carro belíssimo acender as luzes após ser destravado. Nunca, em um milhão de anos, me imaginei entrando em um veículo como esse.

O motorista abre a porta do banco traseiro para eu entrar e faço uma careta para ele.

— Posso ir na frente? — ele me encara confuso e logo explico — Não vou me sentir bem indo atrás, parece errado.

Ele sorri compreendendo o que tento dizer, pois realmente não faz sentido. Sou uma funcionária, assim como ele, e me sentirei muito melhor ao seu lado.

— Como quiser — ele sorri amigavelmente.

Após eu passar meu endereço, seguimos em silêncio por um tempo. Em certo momento, fico curiosa e arrisco uma conversa.

— O senhor trabalha há muito tempo com a Catarina? — Olho para ele e o vejo com um leve sorriso no rosto.

— Trabalho com o Igor muito tempo antes da Catarina chegar — ele me lança um olhar rápido e logo volta os olhos para a pista.

— Quem é Igor? — fico ainda mais curiosa ao pensar que pode ser o homem misterioso.

— É o patrão, o dono da casa onde estava até agora. Catarina é a governanta.

Mordo meus lábios com a lembrança. Minha curiosidade só aumenta ao lembrar da cena que presenciei e no quanto aqueles olhos misteriosos presos aos meus mexeram comigo.

— Gostei muito dela. — Digo sincera. — Ela foi muito gentil e acolhedora comigo.

— Ela é sim — ele me olha mais uma vez antes de voltar seus olhos para a pista.

— Você precisou assinar um contrato também? — pergunto sem conseguir segurar minha língua.

Ele tosse disfarçando sua risada.

— Sim, menina. — Ele responde sem conseguir esconder seu riso — Todos tivemos que assinar.

— Por quê? — não fico satisfeita com a resposta.

— Não estou autorizado a falar — ele diz simplesmente e liga o rádio em uma estação com músicas lentas, indicando o fim da conversa.

Frustrada e curiosa, seguimos em silêncio até minha casa. Agradeço-lhe pela gentileza e volto para a minha realidade, torcendo para que eu tenha outra oportunidade de ver o magnata. 

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