Capítulo 5

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Se eu estava deslumbrada com a cozinha, agora meu queixo caiu de vez. A sala desse apartamento é maior que muita casa que já vi em qualquer revista ou televisão. Unidas, a sala de jantar e a sala de estar formam juntas um imenso salão, com duas áreas sociais, cada uma delas composta com um jogo de sofá diferente, além da imensa mesa que deve comportar umas quinze pessoas sentadas.

Pessoas elegantemente vestidas se socializam pelo salão, grupos de mulheres conversavam animadamente e os homens parecem tratar de negócios. Eu apenas caminho entre eles com a bandeja na mão, como fui orientada. Não sou vista, muito menos cumprimentada; é como se eu não existisse. Não há um "boa noite" ou um "obrigado(a)", não há contato visual e depois de um certo tempo, deixo de me importar. Penso nas infinitas vezes que cheguei mais cedo ao prédio do Henrique para ficar de conversa com seu Pedro, o porteiro do turno da tarde. Ele é um senhor de meia-idade que tem uma esposa que adora confeccionar gorros de lã para as crianças carentes e se orgulha do projeto, e por isso, sempre que pode, conta sobre a alegrias dos pequenos ao receberem os mimos. Nunca, em momento algum, me considerei diferente deles, das crianças que recebiam a doação, ou de qualquer pessoa da comunidade. Somos todos iguais, por baixo da roupa de grife somos todos feitos de carne e osso, afetados pelas mesmas doenças e comorbidades. É ridículo que alguém no mundo se sinta superior ao outro por conta do saldo bancário ou status na sociedade.

Eu não deveria me sentir insignificante, mas ao mesmo tempo que sinto pena dessas pessoas, não posso evitar tal sentimento. É mais forte do que eu.

— Você que é a Julia? — uma jovem vestindo o mesmo uniforme que eu, me perguntou sorrindo com simpatia.

— Sim, sou eu — respondo a moça com rosto de anjo.

— A Catarina pediu para subir e servir os senhores que estão no escritório em reunião — ela termina a frase e sai sem me dar tempo de perguntar seu nome, contestar ou sanar minhas dúvidas.

Subir?

Se me lembro bem, é terminantemente proibido acessar o segundo andar sem uma ordem da Catarina, mas parece que não é esse o caso. Olho em volta procurando por ela ou por alguma aprovação, mas não há nada aqui, e temendo uma advertência caso não cumpra a solicitação, eu subo.

Equilibrando copos com uísque e outras bebidas, subo cada degrau da luxuosa escada, com cuidado e em silêncio, como se estivesse fazendo algo de errado apesar da ordem de subir. Algo na minha mente diz para voltar imediatamente, que serei mandada embora sem a chance de me explicar, porém não posso, preciso cumprir o que me foi solicitado.

Meu coração está disparado e só consigo pensar na minha mãe e nos boletos que terei que pagar no final do mês. Ao chegar no último degrau, já no piso superior, não vejo nada, nenhuma luz indicando o caminho. Ando lentamente, buscando por vozes que me indiquem qual das portas fechadas é o escritório.

Estou em um imenso corredor coberto por um longo tapete bordô, de estampa belíssima. É inevitável concluir que ele foi feito sob medida, pois nunca vi nada assim antes: é uma joia. A luz amena vinda de algumas arandelas espalhadas por toda a extensão dá um clima aconchegante ao local.

Sinto meu coração pulsar dentro do peito a cada passo que dou. A expectativa pelo que vou encontrar após assinar aquele contrato não sai da minha cabeça. O que será que acontece aqui para sermos obrigadas a assinar aquele documento?

Transações proibidas?

Venda de produtos ilegais?

Drogas?

Com certeza nada de bom, caso contrário, não haveria um documento como aquele, mas preciso seguir em frente, equilibrar essa bandeja e não permitir que nada me abale. Manter minha cabeça erguida independente do que eu veja ou escute. Sigo pelo corredor e o silêncio se mantém. As portas que passei estão fechadas e nenhum ruído escapa por elas, até que finalmente escuto algo vindo de trás de uma delas.

Me aproximo lentamente, tentando observar o máximo possível antes de entrar. O medo de estar fazendo algo errado grita dentro de mim. Penso em voltar, descer para o salão e ignorar a ordem de servir esse andar. Estou em um beco sem saída. Ignorar uma ordem colocaria esse emprego em risco, mas ficar e encarar o que está por vir não parece correto. Algo sussurra em minha mente para virar as costas e correr. Um arrepio inesperado percorre minha espinha quando ouço um tipo de... rosnado?

O que é isso?

Uma vocalização possessiva, como se alguém estivesse fazendo uma advertência. Não saberia explicar, mas foi o suficiente para todo meu corpo estremecer. Percebo que a porta está entreaberta, com aproximadamente dois dedos de distância do batente. Com muito cuidado, tento visualizar quem está dentro do cômodo, se há indícios de alguma reunião para que eu possa bater e servir os cavalheiros. No entanto, não consigo enxergar nada, apenas que o cômodo está mal iluminado. Forço levemente a porta para que se abra um pouco e, nesse momento, meu coração dispara como nunca antes. Vejo a bunda redonda e definida de um homem que está completamente nu e de costas para mim. Suas costas são largas, o que combina com sua altura. Ele deve ter por volta de 1,90 m e seus cabelos são escuros como a noite.

Daria tudo para ver seu rosto.

Ele está em pé diante de uma cama king size. Uma mulher, também nua, está ajoelhada na cama e o chupa com vontade. Os movimentos de vai e vem forçam os músculos definidos de suas nádegas e o ritmo ganha intensidade quando outro rosnado sai da sua boca. Ele enfia os dedos no cabelo liso da mulher, mantendo-a firme enquanto investe com ritmo acelerado. Suas mãos são grande, imagino sua pegada em mim. Sinto minha intimidade pulsar e uma necessidade absurda de apertar minhas coxas uma contra a outra em busca de alívio.

Estou hipnotizada e não consigo desviar meus olhos. A umidade em minha área íntima começa a molhar minha calcinha e temo que escorra pelas minhas pernas, mas mesmo assim é inevitável continuar assistindo a cena. Equilibro firmemente a bandeja em minhas mãos, mesmo percebendo um leve tremor no meu corpo. É um misto de desejo e medo de ser flagrada, mas a luxúria vence e me mantenho firme ali, com os olhos na cena.

Ele se afasta e posso ver seu volume generoso. Ela, por sua vez, sabe o que fazer e se deita na cama de pernas abertas, o convidando. Ele caminha até o criado-mudo e pega algo, que depois percebo ser o pacote de preservativo. Após colocá-lo ele sobe na cama, investe contra a morena sem delicadeza, voraz e faminto; e nesse momento eu queria ser a mulher naquela cama.

Distraio com a cena e por um breve momento desequilibro a bandeja em minhas mãos. Um copo de uísque bate no outro fazendo barulho, mas logo recupero o controle, não sem passar desapercebida, pois o barulho dos copos chama a tenção do homem, que vira seu rosto na minha direção. Nosso olhar se cruza rapidamente antes de eu sair correndo pelo corredor. Não olho para trás, apenas corro o mais rápido possível sem deixar as bebidas caírem.

Meu emprego já era... 


***

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O MagnataOnde histórias criam vida. Descubra agora