Capítulo 23

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Quando recebi o telefonema da minha mãe me pedindo ajuda, fiquei apavorada. Saí correndo da mansão, dizendo rapidamente a Catarina que eu precisava ir, e não dei nenhuma outra explicação. Não deixo de pensar que foi assim que perdi meu último emprego, por sair antes do fim do expediente para socorrer minha mãe. Pego meu celular e vejo algumas ligações perdidas de Catarina. Digito rapidamente um pedido de desculpas e explico que foi uma emergência médica, é o que posso fazer por enquanto. Quando voltar a mansão na segunda-feira, justifico minha saída com o atestado que peguei no hospital.

Quando cheguei em casa mais cedo, minha mãe estava no banheiro, muito debilitada. Ela mal conseguia segurar sua cabeça em pé, completamente sem forças. Foi aterrorizante ver o vaso sanitário lavado de sangue. Achei que a estava perdendo. Com as mãos trêmulas, peguei o celular e chamei a ambulância. Quase quarenta minutos depois os paramédicos chegaram e nos levaram ao hospital. No caminho, deram apenas soro para manter a hidratação e disseram que os sinais vitais estavam estáveis, mas não foi o suficiente para me deixar mais calma. Esperamos muito tempo até que o médico veio examiná-la. Nos disse que esse tipo de sangramento pode ser inúmeras coisas, inclusive câncer. Fiquei desesperada. Ele nos deu uma carta de encaminhamento para um gastroenterologista, especialista nesse problema, assim pularíamos uma etapa burocrática e o processo seria menos demorado. Meu coração fica apertado só em pensar na possibilidade de algo grave demorar para ser tratado. Não posso perder minha mãe, eu não suportaria.

Após ser medicada, ela foi liberada. De acordo com o médico, não há mais nada que possa ser feito no pronto-socorro, agora era com o especialista que pediria todos os exames para começar o tratamento. Estamos no taxi voltando para casa. A incerteza em relação a sua saúde e ao meu emprego estão acabando comigo. Pelo visto uma fase turbulenta estava por vir, até descobrir o que de fato está acontecendo com ela, não poderia por meu emprego em risco novamente.

Não agora.

Não depois do que aconteceu na mansão.

Não depois que me apaixonei pelo Igor.

Igor.

Onde será que ele se meteu?

Viro meu rosto em direção a janela do carro, não por querer olhar a paisagem, mas para esconder da minha mãe que está sentada ao meu lado a lágrima que teima em cair dos meus olhos. Não quero que ela me veja chorando, mas não consigo evitar que elas fujam, dos meus olhos.

Estou com medo.

Alguns minutos depois o taxi estaciona quase em frente de casa. Pago o motorista e ajudo dona Iara descer, pois apesar dos medicamentos ela ainda está fraca pela perda de sangue. Conforme andamos em direção a nossa porta, percebo um carro de luxo estacionado, mas ignoro.

Coloco a chave na fechadura e abro a porta. Antes mesmo de fechá-la escuto meu nome e uma sensação de alívio me preenche.

— Julia! — Igor me chama e pela sua voz percebo sua aflição. Ele me avalia da cabeça aos pés como se procurasse por algo. — Você está bem?

— Igor — digo seu nome em surpresa —, o que faz aqui?

— Fiquei preocupado — ele olha para minha mãe e sorri —, a senhora está bem?

— Me sinto melhor, obrigada! — Me viro para ela e vejo que nos seus lábios há um sorriso fraco, quase sem forças, mas ainda com certa malícia de quem compreende o que está acontecendo. Ela se vira para mim e completa — Me ajude ir para cama e sirva um café para seu amigo. Pelo visto ele te esperou por um bom tempo.

Percebo que ela pode estar certa. Ele estava dentro do carro desligado, tanto que não notei sua presença até ouvir meu nome, então olho em seus olhos esperando sua confirmação.

O MagnataOnde histórias criam vida. Descubra agora