Capítulo 22

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Igor

Estou no interior há quase uma semana e não vejo a hora de voltar para casa, mas me contenho.
Preciso entender esse turbilhão de sentimentos que estou vivenciando nos últimos dias. O fim de semana foi muito mais intenso do que eu imaginava e preciso colocar a cabeça no lugar antes de retornar.
Desde que eu vi a Júlia espiando pela porta do meu quarto, a imagem dela com os lábios entreabertos e as coxas apertadas uma na outra, não sai da minha cabeça. Descer e vê-la  em uma exibição sexy pra caralho de dança do ventre  foi demais para a minha sanidade. Foi enlouquecedor.  Desde aquele momento, eu ardo em desejo por ela. É quase uma obsessão. Inúmeras vezes sonhei com ela embaixo de mim, fantasiei durante o banho enquanto me masturbava como um maldito adolescente e dizia seu nome enquanto gozava.
Quando a vi perdida em meu corpo molhado na beira da piscina foi meu fim. Precisei pará-la antes que eu perdesse o controle e me arrependesse. Mas apesar do meu esforço, ver como a deixei desestabilizada em frente a casa de máquinas só fez meu desejo por ela aumentar, e quando dei por mim, já estava atrás dela, prensando meu corpo ao seu enquanto inspirava o seu cheiro delicioso.
Nunca precisei me conter como naquele dia. Normalmente não preciso pensar nas consequências de levar uma mulher para a cama. Sempre deixo claro que não quero compromisso, somente sexo casual, e isso não é impedimento para nenhuma delas.
A Julia, não.  Ela é minha funcionária e está na mansão quase todos os dias. Enquanto me perdia no perfume dos seus cabelos, desejando fode-la ali mesmo, precisei me conter. Teria consequências e não estava disposto a arcar com elas. Mas no decorrer dos dias passei a conhecê-la melhor. Vi o seu carinho e cuidado com a Maria e não pude deixar de me encantar com a sua personalidade. Além de linda e sexy, ela é doce e gentil. É uma combinação que só fez a minha curiosidade em conhecer cada detalhe do seu jeito e de sua vida aumentar, chegando a um ponto irresistível.
Foi quando conversei com Catarina e perguntei sobre a dança, que é algo que não sai da minha cabeça. Ela já havia comentado antes de contratar a Julia sobre sua prestatividade em ajudar com a questão da falta da dançarina, mas agora, a meu pedido, ela contou detalhadamente como aconteceu. Catarina me contou que ela tinha a fantasia em seus pertences, me fazendo pensar se a dança é algo comum no seu cotidiano, e surpreendentemente senti ciúmes. Foi quando percebi que meu interesse por ela não é somente carnal, então pedi a Catarina que providenciasse uma dança exclusiva. Eu não sei o que eu estava pensando ou o que eu pretendia, mas a única coisa que eu queria era estar com ela, perto dela. Ter um momento a sós onde pudéssemos fazer o que quiséssemos, sem nenhum olhar julgador.
De início, Catarina estranhou o meu pedido e fez perguntas. Ela me conhece bem, está comigo há mais de 10 anos, cuidando da minha vida em quase todos os aspectos. Ela é uma das poucas pessoas que considero próximas, assim como Maria e Arnaldo. Eles são a minha família desde que perdi meus pais e confio muito neles. E como um bom membro da família, Catarina quis saber todos os detalhes do meu pedido, principalmente o que eu queria de fato com aquilo.
Ela se animou de um jeito que eu nunca tinha visto. Ela sempre torceu para que eu encontrasse alguém especial na minha vida e isso nunca aconteceu. Nunca me interessei por nenhuma mulher, nunca quis um relacionamento sério, e só o fato de demonstrar interesse em alguém foi motivo para a animação exagerada de Catarina.
A partir daí, ela não perdeu a oportunidade para elogiar a Júlia sempre que podia, e quando não elogiava estava sempre dando um jeito de trazer seu nome a conversa. Essa semana que estive fora, ela me ligou todos os dias para falar sobre os acontecimentos na mansão, e o quanto a Julia estava cabisbaixa com a minha ausência. Por mais que eu soubesse que é um exagero da parte da Catarina, eu gosto de pensar que é verdade, pelo menos um pouco.  Saber que ela sente a minha falta, assim como eu sinto a dela, deixa as coisas mais toleráveis, me torna mais normal e não um obcecado como pareceu nos últimos dias.
Meu telefone toca, me trazendo de volta a realidade. Olho a tela do meu computador com o relatório que eu já deveria ter terminado e suspiro. Na tela do meu celular vejo o nome da Catarina.
— Oi Cat — Atendo como sempre.
— Igor — Catarina diz e na sua voz percebo certa urgência —, acho melhor você voltar, aconteceu alguma coisa com a Julia.
— O que aconteceu? — Uma onda de adrenalina percorre meu corpo e me deixa alerta. Inúmeras probabilidades invadem minha mente, uma pior que a outra. Estremeço. — Fala de uma vez, Catarina!
— A Julia estava aqui na mansão quando recebeu um telefonema e ao atender, ela ficou pálida. Em seguida saiu desesperada, pedindo desculpas e falando coisas desconexas que não entendi. Fiquei preocupada e resolvi te avisar. Ela nunca saiu no meio do expediente.
— Você fez bem em me avisar — imediatamente começo a guardar algum dos meus pertences —, estou voltando para a capital.
— Tudo bem, até já! — Ela se despede e encerra a ligação.
Em menos de dez minutos estou atrás do volante seguindo para São Paulo, mas no gps não está configurado o endereço da mansão e sim o da casa da Julia. Preciso saber se ela está bem. Preciso ver com meus próprios olhos.
As duas horas seguintes foram repletas de pensamentos.  O que eu faria se algo ruim tivesse acontecido com a Julia? E se ela não voltasse para a mansão?  Se eu não pudesse vê-la diariamente como antes? Eu realmente não sei, mas de uma coisa eu tinha certeza, não podia mais ficar longe dela.
Já na cidade, enquanto estava parado em um farol vermelho, recebo uma mensagem de Catarina dizendo que ela tentou inúmeras vezes ligar para Julia, mas sem sucesso, aumentando a minha preocupação.
Pouco tempo depois, estaciono em frente a casa dela. Toco a campainha e nada. Ela não está em casa.
Frustrado, passo as mãos pelo cabelo, tentando pensar em alguma coisa que possa me ajudar a encontrá-la, mas estou perdido, sem saber o que fazer. Tento a campainha novamente em uma última tentativa, gritando seu nome.
— Julia? — Chamo mesmo sabendo que não terei resposta.
Instantes depois uma mulher abre a porta da casa ao lado e me observa com atenção antes de dizer:
— A Julia não está. — Em certo momento ela arregala os olhos em sinal de reconhecimento — Você deve ser o Igor.
— Sim, muito prazer — estendo minha mão em sua direção.
— O prazer é meu. Eu sou a Roberta — ela sorri amigavelmente enquanto aperta a minha mão  —, amiga da Julia.
— Você sabe onde ela está?  — Pergunto ansioso por notícias. — Minha governanta me avisou que algo tinha acontecido e fiquei preocupado.
— E por isso veio até aqui? — Ela levanta uma de suas sobrancelhas, questionando de uma forma divertida e debochada. — Não são todos os patrões que se importam assim por seus funcionários.
— Ora, por favor — dispenso seu sarcasmo, pois estou realmente aflito —, me diga se souber alguma coisa.
— Sim, eu sei — ela dá de ombros. — Dona Iara, a mãe da Julia, não passou bem e ela precisou levá-la ao pronto-socorro.
— Certo. — Solto o ar que eu estava prendendo sem perceber. Um peso enorme sai das minhas costas e me sinto aliviado. Claro que lamento pela mãe dela, mas saber que nada havia acontecido diretamente com a Julia me deixa mais tranquilo. — Obrigado.
— Vou avisá-la que esteve aqui. — Roberta diz encerrando a nossa breve conversa.
— Não é necessário, mas agradeço. .
Sigo para meu carro e ouço Roberta fechar a porta da sua casa. Não quero voltar para a mansão, então ligo o rádio e espero.

O MagnataOnde histórias criam vida. Descubra agora