Capítulo 17

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A semana seguinte foi muito tranquila na mansão. Como não haveria evento no fim de semana seguinte, os dias foram mais leves, sem tanto stress. O alivio de dona Maria era nítido, me fazendo achar graça cada vez que ela agradecia aos céus pela paz e sossego dos últimos dias.

— A senhora está muito aliviada, pelo visto — brinco com ela depois de ouvi-la agradecer mais uma vez.

— Estou mesmo, é uma benção não ter bagunça na minha cozinha — ela responde enquanto prova o sal do ensopado que está com um cheiro maravilhoso. — Aposto que está feliz também, por não ter a correria com os preparativos.

— Não me importo como a senhora — respondo sorrindo —, acho que como eu cheguei a pouco tempo, não tive tempo de ficar cansada da situação — dou de ombros.

— É, pode ser — ela responde pensativa —, acho que a minha idade também não ajuda — acaba rindo.

— A senhora não é tão velha assim — digo sincera.

— Sou sim, menina — ela sorri e olha para mim enquanto continua a falar — Vi o Igor nascer.

— É mesmo? — Tento não demonstrar tanto interesse, mas falho miseravelmente.

— É mesmo — ela ri da minha reação e continua. — Eu e o Arnaldo trabalhávamos para os pais do Igor desde antes dele nascer.

Arregalo os olhos, surpresa com essa nova informação. Sorrio ao lembrar de como o Igor a tratou com carinho na semana passada e agora tudo faz sentido. A relação deles é muito antiga e a Maria o viu crescer, esteve com ele todos esses anos. Tento imaginar como deve ter sido acompanhar esse processo. Como será que o Igor era quando criança? Arteiro, com certeza.

— Isso é incrível! — Finalmente respondo após me perder em pensamentos. Quando levanto os olhos na sua direção vejo que ela me observa com interesse, como se quisesse descobrir o que estava passando na minha cabeça. Ignoro e continuo meu raciocínio — Então a senhora o viu crescer. Isso explica o carinho mútuo.

— Estão falando de mim? — Igor está encostado com as mãos no bolso, só Deus sabe a quanto tempo, no batente da porta entre a sala e a cozinha e percebo que esse é um costume dele do qual gosto muito. Ele fica ainda mais lindo quando está descontraído e com a expressão leve.

Durante essa semana o evitei de todas as formas possíveis e mal nos encontramos. Quando acontecia de nos cruzarmos, eu fingia não perceber e saia de perto. Ainda estou muito envergonhada pelos últimos acontecimentos entre nós e definitivamente não posso arriscar meu emprego.

— Não exatamente — Maria fala e fico feliz por não ter que responder —, estamos falando sobre a minha idade e o assunto acabou trazendo você na conversa.

— Entendi — ele entra na cozinha e vai até o fogão, parando ao lado da Maria que ainda mexe a panela do fogo. Ele paga a colher da mão dela e põe um pouco do caldo na palma da mão, experimentando o ensopado —, mas fiquei decepcionado. Achei que eu seria um tema interessante para uma boa conversa — e lá estava o sorriso carinhoso direcionado a Maria, arrancando um sorriso meu por consequência.

E foi nessa hora que Igor resolve virar o rosto na minha direção e me flagrar sorrindo para eles. Fico sem graça, mas não me afasto como fiz durante a semana toda, pois estou adorando ver a interação dos dois, e a minha curiosidade é maior que a minha vergonha. Então desvio o olhar e continuo lustrando a prataria que foi usada no evento passado, deixando limpo e organizado.

— Você é sempre um bom assunto, menino — ela dá uns tapinhas no braço dele e depois tira a panela do fogo, quando percebeu a aprovação silenciosa do Igor em relação ao sabor do ensopado.

— Eu estava pensando, Maria — ele olha para mim antes de continuar —, porque você e o Arnaldo não tiram esse fim de semana de folga?

— Oh! — Ela reage surpresa. — Tem certeza?

— Claro que sim — ele continua —, peguem o carro e vão para o interior. Faz muito tempo que vocês não tiram alguns dias para passar na casa de campo.

— Mas e você? — Ela questiona preocupada.

— Não sou mais criança — ele beija a bochecha dela antes de completar —, acho que consigo me virar por alguns dias.

— Está certo! — Ela fala animada. — Nós iremos.

— Fico feliz. — Ele responde e passa por mim para se retirar da cozinha, mas não antes de me olhar intensamente nos olhos com aquele maldito sorriso malicioso nos lábios.

Santo Deus! 

*** 

— Julia? — Catarina se aproxima enquanto estou tirando o pó das almofadas da sala — Vou precisar de você amanhã à noite.

— Achei que não teríamos evento esse final de semana — comento achando estranho a mudança de planos repentina.

Amanhã é sábado, e achei que sairia no horário normal. Não esperava ter que ficar até mais tarde. Ela percebe a minha cara de frustração e explica.

— Não é para tarefas do lar e nem mesmo para um evento. Preciso da sua versão dançarina — ela sorri meio que se desculpando.

— Ah! — Me surpreendo e não sei o que responder. — Eu não sou uma dançarina de verdade, Catarina. — Tento explicar melhor a situação. — Aquele dia calhou de eu estar com a roupa na bolsa e você precisar de ajuda, mas isso não significa que sou profissional.

— Não tem problema, só preciso que você repita o mesmo número que apresentou aquele dia. — E quando ela percebe a minha dúvida, ainda completa — Vou te pagar muito bem.

Não tenho como recusar. Se vai me pagar bem, e Deus sabe como preciso, então eu aceito.

— Tudo bem. — Digo enfim.

— Ótimo! — ela diz satisfeita. — Traga sua roupa e após o expediente pode tomar banho e se arrumar aqui mesmo.

— Combinado.

O dia termina sem que eu cruzasse novamente com o Igor e agradeço aos céus por isso. 

***

No dia seguinte não vejo o Igor em lugar nenhum durante o dia inteiro.

A casa está um silêncio sem a presença da Maria e do Arnaldo na cozinha. Eles foram para o interior para curtir o fim de semana. Com exceção dos seguranças que permanecem fora da casa o dia inteiro, somos apenas nós, a Sheila e a Catarina de trabalhadores fixos na mansão. A peste não fala comigo de qualquer forma, então passei o dia praticamente sozinha, já que a Catarina estava no piso superior a maior parte do tempo.

No fim do dia, perto das 18h, a Catarina desce para dispensar a Sheila e falar comigo.

— Depois que a Sheila sair do vestiário, pode ir se arruar para o seu número de dança. Capricha no visual — ela pisca sorri com carinho.

— Catarina, não estou entendendo — falo confusa —, não tem ninguém aqui, vou dançar para quem?

— Você vai entender em breve.

Nesse momento a Sheila está saindo do vestiário e se despede.

— Estou indo — diz olhando apenas para a Catarina. — Até segunda.

— Tchau, Sheila! — Catarina responde. — Até segunda.

E então ela espera a Sheila sair e fechar a porta para falar:

— Vá se arrumar e depois vá até a sala.

— Está bem. — Digo vencida, pois sei que ela não explicará mais nada.

Quando saio do vestiário, pronta para o show, Catarina não está mais ali e fico cada vez mais confusa.

Preparo a música em meu celular e sigo para a sala. 

O MagnataOnde histórias criam vida. Descubra agora