Capítulo 16

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Acordo na manhã seguinte me sentindo péssima. Está virando rotina essa sensação. Quando se trata daquele homem eu realmente perco as estribeiras. O que eu estava pensando quando fui atrás dele?

Meu Deus, Julia! Você precisa se controlar!

Cheguei em casa quase de manhã, por isso a Catarina me liberou do trabalho hoje. Quando questionei que a mansão precisava de faxina após a festa, ela me disse que devido aos horários que os eventos terminam, sempre liberava as meninas da limpeza, no caso eu e a peste, por que segundo ela: "é humanamente impossível sair as 5h e voltar às 8h". Então o dia seguinte sempre seria de folga para nós, e ela resolve com uma empresa especializada em limpeza pós festa.

Então vou aproveitar e passar esse dia com Dona Iara, afinal, desde que comecei a trabalhar, não tenho estado com a minha mãe como eu gostaria e me sinto culpada por causa disso.

Já é quase hora do almoço e imagino que ela esteja na cozinha adiantando a comida, mas quando entro, não vejo nem ela e nem sinal do que vamos almoçar. Todo santo dia ela prepara alguma coisa para comer, por mais simples que seja. Talvez tenha sobra de ontem, o que é incomum, mas às vezes ela faz a janta em maior quantidade para sobrar, e nesses casos é sempre por não estar se sentindo bem.

Tenho notado que nos últimos dias ela está mais debilitada, o que só aumenta a minha culpa e preocupação. Quando acontece, eu costumo assumir as suas funções e a deixo descansar para se recuperar, mas agora como o trabalho na mansão, quase não sobra tempo para ajudá-la. Me sinto impotente. Por um lado, quero estar com ela e ajudá-la, mas por outro, precisamos do dinheiro do meu trabalho. É um beco sem saída...sem trabalho, ela não tem remédio e alimentação apropriada. É muito complicado.

— Mãe? — começo a procurá-la nos outros cômodos. Olho pela janela da cozinha para o pequeno quintal, mas não está por lá também. Na sala também não, então vou até o quarto dela. — A senhora está bem?

Ela continua deitada mesmo sendo quase meio dia. Isso é muito incomum, me deixando cada vez mais preocupada.

— Estou muito cansada, não sei porque — ela responde chateada, pois eu sei o quanto ela detesta ficar à toa.

— Está sentindo mais alguma coisa? — Me preocupo ainda mais, pois mesmo com as dores frequentes da fibromialgia, ela sempre levanta e se força a fazer o que precisa e o que tem vontade. Ela é forte e osso duro de roer, e se está até agora na cama, é um sinal de alerta.

— Ah filha, nada de importante — ela desconversa —, vou ficar bem logo.

— Mãe, não me esconda nada, pelo amor de Deus! — Insisto, — Qualquer coisa que estiver sentindo, me fale!

— Estou bem, só quero descansar um pouco — ela insiste em não falar —, tenho certeza que daqui a pouco vou estar me sentindo melhor. — Ela sorri e muda de assunto. — O que está fazendo aqui? Não tinha que estar no trabalho? — Vejo a aflição nos seus olhos, temendo pelo meu emprego.

— Estou de folga hoje.

— Que susto! Hoje é sábado e como me disse que sua folga é no domingo... — ela cometa aliviada.

— Temos hoje e amanhã para aproveitar — tento animá-la. — Se mais tarde estiver melhor, podemos ver um filme ou fazer alguma coisa que esteja com vontade.

— Combinado.

Beijo o topo de sua cabeça e a deixo descansar. Mas vou ficar mais atenta nela e no que está acontecendo, porque sei que está me escondendo alguma coisa. 

*** 

Enquanto ela descansa, ponho a casa em ordem e dou um pulo na Roberta. Há dias que não os vejo e quero saber como está o Marcelo e sua recuperação. Ela me conta que ele está cada dia melhor. Como não conseguiram mais sessões de fisioterapia, ela comprou alguns aparelhos portáteis e estão fazendo os exercícios que aprenderam em casa. Claro que não é a mesma coisa, lá na clínica eles tem todo um suporte e aparelhos especiais próprios muito mais qualificados, mas um bom elástico e alguns pesos, são melhores que nada.

— O importante é que ele está melhorando, Rô — falo sinceramente —, mesmo sem a fisioterapia, a força de vontade dele supera os problemas.

— Com certeza! Ele está desesperado para voltar ao trabalho. — Ela comenta frustrada. — Só o meu dinheiro não é suficiente, Ju — seu rosto é pura preocupação —, o dinheiro que ele ganha é maior que o meu e faz muita falta.

— Eu imagino — e imagino mesmo, porque sei o que é passar dificuldades —, se precisar de qualquer coisa que eu possa fazer, me fale por favor.

— Obrigada — ela sorri com ternura. — Agora me conta, como foi o evento?

Claro que eu conto tudo, desde a minha burrada de ir atrás do Igor e da mulher dentro da mansão, até o fato de eu evitá-lo a qualquer custo depois de ter sido pega no pé da escada analisando a mulher de cima a baixo. Como iria encará-lo depois daquilo? Sinceramente não sei onde estava com a cabeça.

— Sabe o que é pior, Rô? — Pergunto confusa com a minha própria ideia —, eu ainda achei que no restante da festa ele procurava estar no mesmo ambiente que eu. E juro que tentei ficar longe, mas se eu estava na piscina ele aparecia por lá, me fazendo mudar para o jardim. Logo ele aparecia no jardim e eu voltava para a área da piscina. Parecia de propósito, como se ele soubesse que eu queria evitá-lo e ele me provocando em não permitir. É claro que isso é coisa da minha cabeça, que foi só uma coincidência, mas enfim, foi estranho.

Roberta fica parada me observando com um meio sorriso no rosto.

— O que foi? — pergunto estranhando o seu silêncio.

— Sabe o que eu acho, Ju? — eu levanto a sobrancelha incentivando que ela continue — Que você está se apaixonando.

— Imagina! — Falo chocada — É claro que não!

— Não mesmo, Ju? — ela insiste — Olha só para você toda encantada quando fala desse homem. Você nunca ficou assim, tão... — ela pensou bem na palavra que diria — intensa.

— É porque ele me enlouquece com esse jeito dele — rejeito logo seu argumento.

— Que jeito? — seu sorriso aumenta em seu rosto.

— Esse jeito provocador, malicioso, como se soubesse meus segredos mais sombrios.

— O segredo sombrio que você está doidinha para se entregar pra ele? — ela ri debochada.

— Roberta! — falo alarmada. — Isso é coisa que se fale?

— Não estou mentindo! — ela rebate.

— Não... não está. — Esse que é o problema.

Que Deus me ajude! 

O MagnataOnde histórias criam vida. Descubra agora