Capítulo 12

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Após aceitar o emprego na residência do Igor, os dias passaram voando, e eu mal conseguia conter a minha empolgação. Cada momento era preenchido com pensamentos sobre o meu novo emprego e a expectativa de ver o Igor novamente.

Tentei me ocupar com coisas úteis nesses últimos dias da semana, revezando entre colocar as coisas em ordem em casa e ajudar a Roberta nesse momento em que o Marcelo está em recuperação. Precisava distrair a minha cabeça de alguma forma, pois a minha ansiedade aumentava a cada dia que a data de início no emprego se aproximava.

— Ele é tão bonito assim? — Roberta me pergunta enquanto a ajudo com as tarefas da casa.

— Não é só beleza, Rô — digo enquanto dobro as roupas recém tiradas do varal —, é uma espécie de magnetismo — sorrio ao recordar a maneira com que seus olhos se prenderam aos meus. — A gente vê homens bonitos todos os dias, e isso não quer dizer que ficamos encantadas por todos eles, mas com o Igor foi diferente... Acho que a intensidade do seu olhar me deixou desconcertada.

— Nunca te vi assim, Ju — ela pega um dos vestidos da Maria Cecília que estão no cesto para dobrar —, parece que ele mexeu mesmo com você.

— Isso vai passar logo — falo, torcendo para que seja verdade —, eu não posso cometer nenhum erro nesse trabalho. Só Deus sabe o quanto esperei por essa oportunidade.

— Eu sei — ela fala com um ar de sabedoria —, e sei também que nunca vi esses olhinhos brilhando assim ao falar de alguém, nem mesmo do Henrique.

— Eu estou em ferrada — digo, enfim. 

***

Finalmente o dia chegou. Após me despedir da minha mãe e fazer ela prometer que qualquer problema me ligaria, sigo para a casa do Igor.

Uma brisa suave acariciava meu rosto enquanto me dirigia à mansão. Meus pensamentos estavam uma mistura de nervosismo e antecipação, uma dança emocional que me acompanhou até a porta da imponente residência.

Fui recebida por Catarina, que estava sorridente como sempre.

— Bom dia, Julia! — ela me cumprimenta de maneira amável. — Fico feliz que tenha se juntado a nós.

— Bom dia — tento ignorar todas as emoções que sinto no momento. — Estou animada para começar! — Sinto meu coração bater mais rápido no peito.

— Que bom ouvir isso — ela me direciona para o mesmo quarto em que estive no outro dia. — Aqui você pode guardar seus pertences e vestir seu uniforme. — Ela me entrega três conjuntos — São seus, pode levar para casa. Mantenha-os sempre limpos e passados.

— Tudo bem — concordo prontamente.

Ela me levou até a cozinha onde os outros funcionários estavam reunidos, me apresentando a cada um deles. Eram pessoas amigáveis e atenciosas, a maioria eu conheci no dia da festa. Logo reconheci o Sr. Arnaldo; ele estava ao lado da mesma cozinheira de quem roubou os canapés durante o evento. Ele sorriu de longe e disse sem voz, apenas gesticulando com a boca um "bem-vinda". Agradeci da mesma forma. Descubro logo em seguida que a cozinheira ao seu lado se chama Maria; é a responsável pela alimentação de todos. A peste entrou na cozinha em seguida e logo me viu. Ficou branca feito um papel. Catarina a chamou para perto de nós.

— Sheila, esta é a Julia — nos apresenta formalmente —, ela será seu braço direito a partir de agora. Vocês serão, juntas, responsáveis pela limpeza e organização da mansão.

Sheila me cumprimentou com um sorriso, embora seus olhos exibissem uma sombra de desconfiança. Acredito que ela não imaginou que eu seria efetivada no serviço e isso a pegou de surpresa.

— Olá — cumprimento sem ter muito o que dizer após o fato dela tentar sabotar meu serviço.

— Será um prazer trabalhar com você — deu um sorriso forçado.

Falsa.

Eu sabia que minha relação com Sheila não seria fácil. Ela claramente via em mim uma ameaça. Sem entender o motivo, decido permanecer focada, fazer o meu melhor e provar que mereço estar ali tanto quanto qualquer outra pessoa.

Um dia de cada vez.

Estou pronta para enfrentar todos os perrengues que aparecerem, especialmente se isso significa ter mais um vislumbre do homem que estava prestes a se tornar um enigma irresistível em minha vida.

*** 

Meu primeiro dia oficial de trabalho na mansão do Igor estava em pleno andamento. Eu estava ocupada com minhas tarefas, tentando me familiarizar com a rotina e os padrões da casa.

À medida que a tarde se aproximava, fui designada para arrumar a sala principal. Cada móvel foi cuidadosamente posicionado e enquanto eu tirava o pó da mesa de canto, meu olhar se fixou em um retrato que estava em cima dela, mostrando Igor com uma expressão serena. Peguei o porta-retrato para analisar mais de perto. Ele parecia tão distante, quase inatingível, e meu coração acelerou só de pensar que poderia cruzar com ele a qualquer momento.

Não consigo acreditar que alguém possa ser tão bonito.

Senti um arrepio na nuca, como se alguém estivesse observando. Meus sentidos estavam em alerta, e quando me virei, meus olhos encontraram os de Igor. Ele estava parado no umbral da porta, observando-me com uma intensidade que me fez perder o fôlego.

Seus olhos escuros pareciam penetrar minha alma, e uma corrente elétrica percorreu meu corpo. Havia uma tensão no ar, uma atração palpável que parecia ultrapassar a posição de patrão e empregada. Eu me vi lutando para manter a compostura, consciente da importância de manter as aparências para que meu emprego não fosse para o espaço. Enquanto ele se aproximava, devolvi o porta-retrato no lugar.

— Boa tarde, Srta. Julia — ele disse com um sorriso educado, mas havia algo mais naquele sorriso. Havia malícia.

Fico imaginando se em algum momento ele tocará no assunto, ou se vai fingir que não me reconheceu.

— Boa tarde, senhor — eu respondi, tentando manter minha voz firme e profissional.

Ele deu alguns passos na minha direção, seu olhar ainda fixo em mim.

— Está fazendo um ótimo trabalho por aqui — diz olhando para a foto que acabei de devolver ao lugar. — A sala parece espetacular.

— Obrigada, senhor.

Nossas palavras eram cuidadosamente escolhidas, mascarando a tensão que existia entre nós. Era como se estivéssemos sintonizados em uma frequência que ultrapassava as formalidades e me pergunto se isso tem relação com o fato de ter sido pega observando o seu momento íntimo.

Ele se aproximou mais, seu olhar nunca desviando do meu.

Perto demais...

— Estou ansioso para ver como você se adapta à casa e a mim.

Céus!

Aperto minhas coxas uma contra a outra, tentando diminuir a sensação latejante que sinto entre elas.

— Estou me esforçando ao máximo, senhor — eu disse, meu coração parecendo explodir dentro do peito.

Ele assentiu, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Catarina se aproximou, interrompendo o momento. Ele se afasta rapidamente.

— Igor, precisamos discutir alguns detalhes sobre o próximo evento.

Ele desviou o olhar, voltando sua atenção para Catarina.

— Claro, Catarina. Vamos conversar.

Eu senti um misto de alívio e frustração quando ele se afastou. A tensão que havia entre nós era quase insuportável, e eu me peguei desejando que pudéssemos ter um momento a sós, onde as aparências não fossem importantes.

Enquanto o dia prosseguia, eu não conseguia tirar o encontro da minha mente. Havia algo magnético em relação a Igor, uma conexão que eu não conseguia explicar. No entanto, eu sabia que precisava manter o respeito pela posição que ele ocupava e pelas regras que regiam nossa relação empregador-empregada.

Eu realmente estava ferrada. 

O MagnataOnde histórias criam vida. Descubra agora