Capítulo 9

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Acordo com o toque insistente do meu celular. Antes mesmo de atender, percebo que não passa das seis da manhã. Minha amiga está ligando, e o tom urgente em sua voz me faz temer pelo motivo da ligação tão cedo.

— Julia! — ela exclama, sua voz carregada de alarme, como se estivesse à beira do desespero. — Preciso de ajuda!

Sem hesitar, eu pergunto, ansiosa pelo que vem a seguir:

— Diga.

Ela fala rápido, atropelando as palavras, e a urgência em sua voz só aumenta minha apreensão:

— Preciso que você venha aqui e cuide das crianças. Agora! O Marcelo está passando mal e preciso levá-lo para o pronto-socorro.

Marcelo é seu marido, e eles são parte da nossa história desde que nos mudamos para essa casa. Naquela época, eles eram recém-casados, e eu ainda uma criança que logo ganhou o carinho deles. Com o tempo, testemunhei o amor entre eles florescer em dois filhos adoráveis: Maria Cecília, de 5 anos, e Alberto, de 9.

Minha mente trabalha rápido, preocupada com a situação e com as crianças. Meu corpo se move automaticamente, saindo da cama e vestindo-me às pressas. Nem mesmo escovo os dentes antes de correr, imaginando os possíveis cenários terríveis que podem estar ocorrendo com o Marcelo.

Chego junto com o Uber que minha amiga havia chamado. Antes de entrar no carro, ela me diz apressadamente para dar o café da manhã das crianças e levá-los para a escola. Vejo Marcelo segurando a cabeça com as mãos, visivelmente em sofrimento. Roberta está claramente assustada, mas ainda assim consegue ajudar seu marido a se equilibrar e entrar no carro.

Entro na casa, e vejo a leiteira no fogão, ainda ligado, indicando o quão repentinamente tudo aconteceu. Desligo o fogão e vou até o quarto das crianças, onde elas dormem tranquilas, alheias à situação.

Primeiro acordo Alberto, o mais velho, e explico que seu pai não estava se sentindo bem e que, por isso, sua mãe precisava levá-lo ao médico. Ele compreende rapidamente e acorda sua irmã, repetindo as mesmas palavras com a intenção de não a assustar. Observo com admiração como ele tenta proteger sua irmã mais nova.

— Vou preparar o café e depois vamos para a escola — digo enquanto ajudo Maria Cecília a se arrumar.

— Meu pai vai ficar bem? — Alberto pergunta em voz baixa, seu rosto revelando sua aflição. Meu coração aperta ao perceber o quanto ele deve estar preocupado. Antes que eu possa responder, ele continua: — Meu pai nunca vai ao médico.

Escolho minhas palavras cuidadosamente ao responder, tentando tranquilizá-los:

— Às vezes, as pessoas ficam doentes e precisam de ajuda médica. Isso pode acontecer com qualquer um. Vamos torcer para que seu pai melhore logo. Sua mãe vai cuidar dele no hospital.

Eles parecem aceitar minha resposta, e eu torço para que tudo fique bem. Após deixá-los seguros na escola, mando uma mensagem para Roberta, perguntando como estão as coisas e se Marcelo está melhor, mas não recebo resposta e minha preocupação só aumenta.

Volto para casa, com meu celular na mão, ansiosa por qualquer notícia.

— Mãe, estou realmente preocupada — olho para a tela do meu celular e vejo a hora —, faz quase quatro horas que eles saíram e não temos nenhuma notícia.

Ela também está ansiosa:

— Sabe para qual hospital ela o levou?

— Ela não disse. Quando cheguei, ela já estava entrando no carro e não tive a chance de perguntar — lamento, frustrada. — Ela estava tão apressada.

O MagnataOnde histórias criam vida. Descubra agora