agosto sem gosto.

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segundos depois de meu avô partir, eu notei o escurecer do céu que me cobria. observei as folhas dançantes da árvore, onde costumávamos papear. não senti sua ausência, não senti nada além da esperança que você abrisse os olhos.

minutos depois de meu avô partir, nada consolou a dor aguda e o choro. estive numa guerra na qual nada poderia ser feito. a esperança se esvaiu, tal como meu sorriso.

horas depois de meu avô partir, eu vi o mundo como o mesmo costumava ver. eu enxerguei coisas que antes, julguei fúteis. me arrependi de não ter enxergado antes, vô. como o mundo era belo aos seus olhos! por um breve momento, senti paz.

julguei errado a morte. a via como um acontecimento futuro, quando na verdade grande parte já havia se decorrido em vida. cada segundo de seu passado pertence à morte agora.

sentir raiva se culpando pelo que poderia ter sido, não altera a forma de como realmente foi. o que resta a cada um de nós, é guardar os prazeres, descartando as minúcias.

as lembranças permanecem para contar o pouco que sei, e delas nascem as saudades para lembrar a falta que você faz. você não se despediu, mas seu falecer foi como ouvir todos as despedidas de uma só vez.

você se foi dia 14 de agosto de 2022, num domingo de dia dos pais. a dor é imaculada, o mundo é menos tenro, e pouco me conforta. nossas promessas, agora enterradas. o céu, ganhando a única estrela que observarei pelo resto de minhas noites.

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