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Fora sábia a escolha de Nestha e Cassian irem para as montanhas passar o frenesi da parceria, Azriel sequer os viu quando acordou e bom, soube que não estavam mais na Casa pelo silêncio assustador lá dentro. Então, ele ficaria encarregado do treino das sacerdotisas, que seria retomado no dia seguinte. Porém... Ele escutou uma respiração ofegante e o sol de uma lâmina cortando o ar, suas sombras logo o contaram quem estava ali e ele não evitou o pequeno sorriso.

Ele subiu as escadas até o ringue de treinamento e parou sob o arco vendi Gwyn treinando alguns passes e manobras com a espada. Estava tão concentrada que sequer o percebeu. Azriel cruzou os braços e escorou o ombro no arco ainda assistindo, vendo ela errar não uma, mas três vezes uma passada nova que estava praticando com as sacerdotisas.

Gwyn grunhiu entre os dentes em frustração e então chutou a terra, por alguma razão Azriel adorava assistir a maneira que ela agia quando não ganhava ou ficava frustada, geralmente poderia arrancar risos dele, nos treinos noturnos, claro. A sacerdotisa então andou até a mureta do ringue e apoiou a estada com a ponta no chão e escorou a arma ali.

Ele a viu cruzar os braços um sobre o outro sobre a mureta e então descansou o queixo sobre eles dando um longo e cansado suspiro. Azriel ficou ali a olhando, os cabelos castanhos acobreados presos numa tranca tinham alguns fios soltos que flutuavam com a brisa e Gwyn... Ela olhava para Velaris dando novamente outro longo suspiro.

Desencostou do arco e adentrou no ringue, silenciosamente, como sempre fazia e apenas fez barulho propositalmente quando estava já bem perto de Gwyn. Ela apenas o olhou por cima do ombro, não assustada ou surpresa, sabia que era ele. Parou ao lado dela e apoiou os cotovelos na mureta também olhando Velaris, o Sidra, o porto e o mar adiante.

— Nestha e Emerie dizem que é linda — disse Gwyn e ele permaneceu em silêncio. — Me acha fraca?

Azriel ergueu as sobrancelhas, até mesmo uma de suas sombras pareceu surpresa com a pergunta sobre seu ombro ao lado de Gwyn.

— Você é uma Carynthian, não é? Você é forte... — ia dizendo e Gwyn levantou o rosto dos braços retomando a postura e negou com a cabeça.

— Não nesse sentido — ela disse suspirando novamente. As mãos de longos e delicados dedos deram batitinhas na mureta. — No sentido... Geral.

Ela não o olhava, mas Azriel podia ver um brilho tristonho nos olhos azul mar... Desde quando a vira novamente no ringue ele se lembrava de quando a encontrou, de como não havia brilho nos olhos dela, as vezes sonhava com aquilo e chegava ser tão real que quando acordava ainda sentia o cheiro do sangue.

— Eu te acho forte, Gwyneth — disse e ela o olhou. — Muito forte, em todos os sentidos, não apenas aqui, ou na biblioteca... Ou por que é uma Carynthian. Você é forte e eu tenho certeza que um dia vai conseguir se curar e... — engoliu em seco e olhou lata Velaris. — Um dia vai estar pronta para ver o mundo.

Ela o olhava ainda e então deu uma baixa risadinha.

— Acho que nunca ouvi você falar tanto — ela disse e ele a olhou arqueando uma sobrancelha, deu um sorriso bem de leve no canto da boca. — Obrigada, encantador de sombras, suas palavras me ajudam bastante.

Ele apenas assentiu com a cabeça e voltou a olhar a bela paisagem de seu lar assim como Gwyn.

— Sabe, eu sei que somos só colegas e essas coisas — ela disse. — Mas se um dia... Eu quiser ver mais de perto, gostaria que estivesse junto.

A olhou naquele momento e sentiu o coração dar uma forte palpitação. Era claro que Gwyn era bonita, não era cego, mas nunca havia olhado bem... E de tão perto como naquele momento.

Os cabelos dela eram bem vivos, sedosos, as sobrancelhas bem feitas, o nariz era bem modelado, até mesmo um pouco arrebitado na ponta. Os cílios ruivos eram expressos, longos, as sardas de seu rosto lembravam estrelas, jurava que se olhasse demais conseguiria fazer constelações, os olhos... Eram de um azul esverdeado tão intenso que pareciam gemas preciosas, e a boca... Era carnuda, bem desenhada, avermelhada... Pigarreou ao notar que estava olhando demais para ali e Gwyn o olhou.

— Claro, eu ficaria feliz em fazer parte — ele disse e Gwyn sorriu pequeno assentindo uma vez em agradecimento. — Enfim, aquela passada... Precisa de ajuda?

Ela arqueou a sobrancelha ruiva mais escura o olhando.

— Estava desde quando me espionando?

— Tempo o suficiente — deu um sorriso pequeno e Gwyn soltou o ar pela boca numa risada, uma risada que agitou suas sombras e fez seu osso... Tremerem.

— É, estou com uma pequena dificuldade... Pode me dar uma dica? — ela pegou a espada e descansou a lâmina no próprio ombro.

Azriel assentiu e então caminhou para o centro do ringue com Gwyn ao seu encalço e então logo começou a ajuda-la, mantendo uma boa distância, mas que não atrapalharia e não demorou muito para que ela levasse o jeito e fizesse perfeitamente, como a valquíria Carynthian que era.

— Obrigada, Azriel... — ela ia dizendo.

— Por que só me chama assim? — perguntou e ela o olhou confusa. — Assim ou encantador de sombras, ou mestre-espião...

— Mas é o que você é, não é? — perguntou inclinando a cabeça para o lado fazendo a trança ruiva e pesada cair junto com o movimento sutil.

— Sim.

— Então? Qual o problema?

Azriel se amaldiçoou por aquilo, mas, diria.

— Somos amigos, não somos? — os olhos de Gwyn deram um pequeno brilho. — Meus amigos me chamam de Az.

Ela abriu levemente a boca avermelhada e então sorriu corando, as sardas quase sumindo das maçãs do rosto.

— Bom... Se você acha que tudo bem — ela disse colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha ponteaguda. — Obrigada, Az.

Suas sombras simplesmente se deitaram sobre seus ombros quase derretidas pelo som da voz dela o chamá-lo daquele jeito e ele mesmo sentiu o peito faiscar.

Fez uma leve reverência com a cabeça e então fora para a estante de armas pegando uma espada dali.

— Aceita companhia? — perguntou e Gwyn assentiu com a cabeça girando a espada que segurava com extrema habilidade.

Azriel ergueu as sobrancelhas aí assistir a cena que fora mais animadora para ele do que pretendia admitir, mas, ignorou e então logo estava frente a frente com Gwyn, pronto para treinar combate com ela que sorria de maneira travessa e Azriel quis por um breve momento que aquela manhã durasse um dia inteiro.

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