Capítulo III - Maria Sílvia

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Como é bom acordar ao lado de quem amamos! O cheiro dele está em toda a parte, nele, em mim, em nossas roupas de cama, no ar, estou respirando o Luíz. Me levanto antes que ele acorde. Não quero que ele pense que eu observo seu sono. Enrolo-me em um lençol e vou até a cozinha. Encho um copo duplo de água bem gelada e bebo a goles fartos. Preciso de um banho.

- Alô! ... Sim, sou eu ... Muito obrigado por avisar, eu estou a caminho. - Ouço García dizer.

Volto para o quarto e ele já está de pé. Todo atrapalhado com sua calça social amarrotada e sua camisa pisoteada por nós dois na noite passada. Ele pega a camisa e a bate no ar "tirando a poeira".

- Minha filha vai nascer hoje. - Ele me diz excitado enquanto veste a camisa. - Você vem comigo, não vem? - Ele me encara abotoando a roupa.

- Você sabe que existe uma chance dela não ser sua, não sabe? - Provoco-lhe sorrindo.

- Pare de brincadeira, Sílvia! Me ajude com essa roupa, por favor. - Suas sobrancelhas franzem.

- Fique calmo, vai dar tudo certo. Preciso de um banho, mas te encontro lá daqui a poucos minutos. - Dou- lhe um beijo. Suas mãos seguram-me na nuca. Depois arrumo-lhe a gola enquanto ele fecha o cinto.

- Amo você. - Ele se despede e sai apressado.

Meu namorado vai ser pai, constato com certo pesar.

Vou para o banheiro, livro-me do lençol que me cobre, ligo o chuveiro e entro no box. A água morna preenche os espaços vazios entre os fios dos meus cabelos, escorre pelas minhas costas, inunda-me o rosto e carrega consigo qualquer preocupação. Ah, o banho. Essa água morna petulante que insiste em tornar-se mais importante do que minhas aflições. Mas agora eu só penso neste banho. Pego minha esponja vegetal e começo a me livrar de toda imundície incrustada em minha pele. Desejos, medos, anseios, suor, lágrimas. Tudo o que não quero mais. Pelo menos por hoje. Hora de me despedir. Desligo o chuveiro. Abro o blindex embaçado do box, pego minha toalha e enrolo-me nela.

Em meu quarto, escolho um vestido longo, comportado. Não abro mão do meu Louboutin. Não ligo que o Garcia fique mais baixo que eu, além disso eu sei que isso o vai irritar, é um bom motivo para fazê-lo desfocar da antiga vida e lembrar-se da nova, escolho uma bolsa elegante, grande em tom nude.

Julgue-me se assim quiser, mas eu o amo, e o casamento deles já ia de mal a pior. Eu não o tomei de ninguém, fui escolhida, e quero continuar sendo escolhida todos os dias. Quando passará este peso na consciência? Eles nem se falam mais. Quero dizer, quando se falam, eles brigam. Amor tem limite. Precisam de novas pessoas. Maristela também. Eu não sou uma vilã. Não há um vilão. Uso uma maquiagem modesta. Coloco minhas joias de sempre, um colar de ouro que é como uma corrente de elos finos e ostenta um pingente de esmeralda envolta em um fio único de ouro, brincos de ouro que têm três esmeraldas cada pendendo a partir da orelha da menor para a maior, um colar de pingente relicário todo de ouro onde carrego comigo uma foto do Luiz e uma foto minha, na mão direita três anéis de ouro, um cravado de esmeraldas com uma grande esmeralda no meio imponente sobre as outras que ocupava meu dedo médio, um anel com diamante solitário que ocupa meu dedo anelar à espera de ser substituído ou acompanhado de uma aliança de noivado do García e um anel de puro ouro cuja forma imitava duas cordas trançadas suavemente, este ocupava meu polegar, na mão esquerda quatro anéis de ouro, em meu polegar um anel largo de puro ouro reluzente, em meu dedo mínimo um anel de ouro rosé cravado de diamantes com um topázio no centro, em meu dedo médio nada menos que um Maillon Panthère em ouro amarelo e diamantes, por fim, em meu dedo anelar um solitário de rubi. Escolho um bom perfume e saio.

Deixo o carro no estacionamento do hospital e entro a passos largos. Eu já sei o andar e o quarto, mas não quero causar confusão. Não quero ficar frente a frente com Maristela outra vez. Então procuro um balcão de informações.

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