Capítulo XVI - Luiz Garcia

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Chego cedo e peço um café para esperar pelo Alexandre e pelo nosso advogado.

- Um expresso duplo, por favor. - Digo ao garçom.

Precisava desses minutos sozinho para ter certeza do que dizer. Organizar os pensamentos. Qual a probabilidade da minha filha escolher ficar comigo? Essa pergunta não sai da minha cabeça. O que me lembra o dia em que de fato nos separamos. O dia em que saí e não mais voltei.

- Ela é uma pessoa livre agora, Sílvia. Não vou deixar você fazer isso de novo. - Disse-lhe com firmeza.

- Ela nunca foi livre e nunca será. O que você está tentando fazer, seu idiota? Acha que está protegendo alguém? Nós fomos a melhor sorte da Clara. Ela vai limpar uns trinta banheiros de boteco por dia para conseguir pagar um quarto para dormir. Está feliz com isso? - Ela gritou batendo no meu peito. - Conosco era apenas a nossa casa. Nós temos regras, mas ponha esse seu neurônio deficiente para funcionar um pouco, seu imbecil. Ela escolheu ficar aqui para não sofrer abusos na rua.

- Ela não escolheu ficar aqui, Sílvia! Nós a sequestramos. Que bosta estava acontecendo aqui? Estamos no século XVI? - Empurrei-a para longe. - E ela já tinha ido embora. Você a trouxe de volta.

- Veio andando com as próprias pernas. - Disse-me rispidamente.

- Com medo de ser espancada ou morta por você.

- Desapegue dos detalhes. A verdade é que a Clara está passando necessidades pelas quais não precisava passar.

- Como pude me apaixonar por uma mulher abominável como você? A Maristela era boa e doce. Jamais vou me perdoar por fazer a Lívia perdê-la e ter a você no lugar. Se eu tivesse ficado com ela talvez estivesse viva, talvez tivesse lutado mais para sobreviver.

- Você sabe que eu posso ser melhor do que ela e foi por isso que me escolheu. - Disse-me com certeza.

- Não. Escolhi você porque era bela, mas quando olho para você só vejo sangue. - Disse-lhe com desprezo.

- Pobre Maristela, morreu agonizando, incerta do destino da filha que acabava de parir. A única certeza que ela tinha era do seu desamor. - Ela riu. - Eu cheguei a tempo de ver o desespero da equipe médica. Trágico! Mas farei a Lívia mais forte do que ela, nossa filha conhece a dor, conhece o medo, quando eu não estiver mais por perto ela não temerá a absolutamente nada. Não será uma songa monga como a mamãezinha dela.

Meu sangue ferveu nas veias e por impulso dei-lhe um tapa forte no rosto. Ela caiu no chão com as mãos na face.

- Não vai transformar a minha filha nesse monstro que você é. - Disse-lhe. - Ela não é como você.

- Você me agrediu, Garcia! - Disse-me com os olhos cheios de lágrimas. E começou a levantar-se do chão.
Estendi-lhe a mão. Ela segurou minha mão e lançou as pernas ao redor do meu pescoço derrubando-me no chão. Subiu em mim e apertou o joelho contra a minha garganta. Segurei-a pelas coxas e comecei a levantá-la. Ela puxou dois canivetes da cintura, eu tentei segurar seus pulsos, ela caiu com o joelho na minha garganta, minha vista escureceu senti algo penetrar meus braços e fechei os olhos com dor.

- Abra os olhos, Garcia. - Disse-me cordialmente. - Eu vou matar você. Agora não é o momento, mas eu mesma vou tirar a sua vida e vou te fazer sentir tanta dor que você vai sentir ainda mais saudades da Maristela. - Ela colocou o rosto próximo ao meu. - E vou fazer com que sua filha participe. - Ela beijou-me cordialmente e depois me soltou tirando os canivetes dos meus braços. - Eu ainda te quero. - Ela deitou no meu peito ao falar com voz de choro.

- Você está tentando nos matar.

- Você é a minha família agora, quero que me proteja. Eu preciso que me proteja agora.

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