Capítulo XV - Maria Sílvia

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Arrasto-a para dentro de casa deixando pelo caminho um rastro de sangue gotejado. Ela abre os olhos no trajeto, mas não fixa o olhar em nada. Deito-a no chão da sala. A Lívia entra na sala correndo e se lança sobre ela.

- Por que? O que a Clarinha fez? - Pergunta-me com os olhos cheios de lágrimas.

- Ela não fez nada, mas ia fazer. - Digo-lhe com carinho. - Você acredita na mamãe?

- Sim. - Diz-me ela secando o rosto.

- Afaste-se! - Digo-lhe. - Não quero que toque nela. - Assim que termino a frase ela sai de cima da Clara. - Agora vá para o seu quarto.

- Mamãe, o que vai fazer com ela? - Pergunta-me segurando entre as mãos uma das mãos da Clara.

- O que está acontecendo, Lívia? - Pergunto-lhe de volta. - Eu pedi para você ir para o seu quarto. - Aproximo- me dela cada vez mais. - E disse para não tocar nela! - Digo-lhe com firmeza.

- Estou indo agora, mas tenho medo. - Diz-me com cautela.

- É que eu pedi já tem alguns instantes, não é mesmo? - Pergunto-lhe. - Por que você ainda não foi?

- Não fique com raiva de mim. Está bem? - Ela começa a chorar. - Estou com medo.

- Eu machuquei você? - Pergunto-lhe.

- Não, mas... - Ela responde-me.

- Então você não tem motivos para estar com medo. - Seguro-a pelos braços e levo-a para o quarto dela. Empurro-a para dentro do quarto e tranco a porta por fora.

Na cozinha eu pego uma corda no armário embaixo da pia. Bato a porta do armário e volto para a sala. A Clara está acordada, mas parece bem zonza. Ela coloca as mãos no corte na testa e olha para o sangue em suas mãos. Ela me vê e começa a esquivar-se na tentativa de afastar-se de mim.

- Shhh. - Tento tranquilizá-la. - Não é nada que você não conheça, é só uma corda, está bem? - Ela concorda com a cabeça. - Além disso você prometeu não fugir e eu não gosto de mentiras. - Digo-lhe abaixando-me perto dela.

Seguro seus tornozelos e amarro-os juntos. Viro-a de bruços no chão, puxo seus pulsos para trás e amarro-os.

O interfone toca, mas não estou esperando ninguém. Faço um sinal de silêncio para a Clara. Levanto- me e olho no visor a imagem da câmera de segurança no portão. É o Guilherme. Que hora inoportuna!

- Eu preciso atender. - Comunico à Clara. - Mas não demoro.

Saio para a varanda e desço as escadas da frente da casa. Estou suja de sangue. Abro uma torneira que temos no quintal e lavo minhas mãos, meu rosto, meus braço e pernas. Checo minhas roupas e não há sangue nelas. Abro o portão.

- Pois não? - Atendo-lhe.

- Eu quero pedir duas coisas. - Ele diz-me com a voz trêmula.

- Olha, eu estou meio ocupada. Por que você não pede na próxima casa? - Digo-lhe sorrindo.

- Quero pedir desculpas. - Ele engole em seco. Está tremendo. - Quero pedir desculpas por ter feito sua filha mentir para os pais várias vezes, quero dizer que era culpa minha.

- E o segundo pedido? - Pergunto-lhe séria.

- Não a proíba de me encontrar. - Ele aperta nas mãos um pedacinho de ripa de madeira que deve ter uns oito centímetros de comprimento, com uma das mãos e depois com a outra. - Ela me disse que você tem um monte de regras, mas se deixar a gente ficar junto eu vou seguir todas elas. - Sua voz fica mais fina, ele está tenso. Ansioso? Está mentindo para mim!

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