Capítulo XII - Luiz García

32 9 45
                                    

É a minha primeira reunião com meu novo advogado. O último simplesmente não quer a causa, porque está perdida. Disse-me que nenhum juiz no mundo vai tirar a minha filha da mãe dela. Só que não é a mãe dela. Como eu queria poder contar isso! Queria poder gritar isso. Mas me incriminaria também.

- Olá, Sr. Luiz. - Um rapaz de terno e gravata cumprimenta-me. - Eu sou do Dr. Miguel do escritório Saldanha Barreto Advocacia. É um prazer conhecê-lo. - Estende-me a mão.

Eu levanto-me para cumprimentá-lo. Aperto sua mão.

- Por favor, Dr. Miguel. - Indico a cadeira à minha frente com a mão. - Aceita um café? Eu vou tomar um pouco do seu tempo hoje.

- Claro, muito obrigado. - Diz-me sorrindo.

- Garçom? - Estendo uma das mãos chamando-o. Ele me vê e vem nos atender. - Por favor, traga-nos dois expressos duplos, o meu é com muito açúcar. E o seu? - Pergunto ao jovem advogado sentado à minha frente.

- Com bastante açúcar também. - Responde-me.

O garçom anota meu pedido e sai.

- Então, Doutor, o caso é que a minha esposa sequestrou nossa filha e está me impedindo de vê-la. Nós estamos em processo de divórcio com litígio e meu antigo advogado me deixou na mão. - Vou direto ao ponto, sem rodeios. - Eu quero a guarda da minha filha. Não confio na Sílvia para ficar com ela. É instável, violenta, já demonstrou inúmeros indícios de ter problemas mentais graves. É uma mulher de caráter questionável e que pode tornar-se muito perigosa para a minha filha por ter muita raiva de mim. - Ele ouve-me atentamente.

- Então, Sr. Luiz, eu vou precisar de mais do que isso. - Ele me encara descrente. - É muito difícil tirar um filho de uma mulher. O senhor vai ter que provar que ela não tem condição nenhuma de cuidar da filha de vocês.

- Só o fato dela sequestrar minha filha já não prova que ela é desequilibrada, que ela não respeita as leis? - Pergunto-lhe.

- É alguma coisa. É o suficiente? Não sei. Mas há quanto tempo o senhor vem sendo impedido de ter contato com a menina? - Pergunta-me.

- Há 4 meses. - Digo-lhe, mas não tenho certeza.

- Agora uma pergunta que é de suma importância: Quem é a Sílvia? O que ela faz? Quais são as origens dela? Quem é a família dela? - Pergunta-me.

- Isso faz mesmo diferença? - Respondo-lhe com outra pergunta.

- Sim, porque podemos checar antecedentes, evidências de uma conduta inapropriada. - Diz-me ele.

- A Sílvia mantém uma aparência invejável. Se formos por esse caminho, estaremos perdidos. - Bufo e bebo meu café. - Ela é advogada, tem 35 anos, filha de alemães. O que mais posso dizer?

- Você disse que ela é violenta. Ela já lhe agrediu alguma vez? - Pergunta-me.

- Alguma vez? A Sílvia me agredia todos os dias. Mas não sei se tenho marcas, acho que nunca me deixou marcas. - Digo-lhe desanimado.

- Que idade tem a filha de vocês? - Ouvir isso me deixa fora de mim, mas controlo meus instintos.

- A minha filha tem 15 anos de idade. - Respondo- lhe corrigindo seu erro sutilmente.

- Qual a probabilidade de em um depoimento ela escolher ficar com você? - Pergunta-me.

- Eu não faço ideia. Sempre que saí de casa foi debaixo de muita briga. Ela sempre ficou com a Sílvia, mas às vezes tinha a impressão de que era por medo. - Respondo-lhe sinceramente.

- Medo da violência da mãe? Pode-se colocar assim? - Sugere-me ele.

- Com certeza. - Concordo totalmente.

BorderOnde histórias criam vida. Descubra agora