Capítulo IV - Luiz Garcia

121 28 278
                                    

Saí de casa com tanta pressa que não pensei nem em tomar um café. Dentro do elevador, descendo para o refeitório, sou surpreendido pela entrada de uma belíssima enfermeira. Me aprumo. Passo as mãos nos cabelos e decido puxar assunto só para saber se ainda estou em forma.

- A rotina aqui no hospital é sempre corrida, não é? - Pergunto-lhe virando-me para ela, que me mede dos pés à cabeça.

- Bem, aqui é um hospital, nossa ala de emergência é a maior do estado, então. - Ela abre demais os olhos e me encara do alto dos seus, no máximo, 1,58 metro de altura.

- Ahh. - Suspiro. - Mas é claro. - Sorrio. - Desculpe- me a obviedade, eu vou ser pai hoje, estou aqui sozinho esperando minha ex esposa dar à luz, eu não estou contendo minha emoção, por um pouco eu não te pergunto sobre o clima. - Digo-lhe sorrindo. Seu rosto suaviza-se e ela quase sorri.

- Então, meus parabéns, papai. - Ela diz-me.

As portas do elevador se abrem, é meu andar, sem me despedir, saio. Mas este hospital não é possível! Uma presença intimidadora adentra o hospital martelando um salto 15 no chão a passos largos. É como se o próprio sol entrasse no hospital. Virou a cabeça de, pelo menos, uma dúzia de homens e mereceu cochichos de quase todas as mulheres. Vestido e cabelos esvoaçantes. Paralisou-me repentinamente.

O encanto se foi com a mesma rapidez em que veio. É minha namorada. Ela caminha até o balcão. Eu desvio o caminho e vou para outro lado. Preciso de café.

O refeitório do hospital serve um café aguado, sem cor e sem vida. O estacionamento parece trinta vezes maior agora que preciso atravessá-lo a pé do que quando estava tentando estacionar. Que calor infernal! Será que meninas querem um show? Abro os primeiros botões da minha camisa enquanto caminho. O vento mais parece um bafo quente. Checo ao redor, e que desperdício! Ninguém à vista. É uma pena. Atravesso a pista e chego à padaria do outro lado da rua, uma padaria que deve ser terrivelmente ruim, pois está vazia.

- Bom dia. Eu vou querer um café com muito açúcar e um queijo quente, por favor. - Passo as mãos nos cabelos enquanto faço meu pedido.

- São R$13,00. - Diz o garoto atrás do caixa. Pago- lhe com uma nota de R$20,00. - Informe a quantidade de açúcar na retirada do café. Obrigado.

Retiro meu café da manhã, sento-me em um dos banquinhos e começo a pensar em como significar tudo isso. Eu vou ser pai. Durante os últimos meses eu venho me permitindo deixar isso de lado, fingir que não existe, mas hoje tudo torna-se real. Pela primeira vez em muitos anos, eu me sinto inseguro. Pego meu telefone e ligo para o meu pai.

- Alô. - Sua voz rouca me atende do outro lado. - Oi, pai, sou eu, Luiz. - Digo-lhe.

- Oi, meu filho. Aconteceu alguma coisa?

- Não, só me responde uma pergunta, por favor. - Respiro fundo. - O que sentiu quando eu nasci?

- Ora, eu fiquei feliz. Era um inferno, porque eu não tinha onde cair morto e agora tinha uma mulher e um bebê que junto comigo não tinham onde cair mortos, eu precisei mudar todo o rumo da minha vida, porque eu não queria que meu filho fosse um desgraçado, mas no final deu tudo certo.

- Minha filha vai nascer hoje. - Digo-lhe.

- Sua filha? - Pergunta-me com espanto. - Você vai ser pai?

- Parece que sim. Eu não quis contar a ninguém. Maristela e eu não estávamos nada bem quando descobrimos a gravidez.

- Eu compreendo, meu filho. Mas pense no seguinte: Está preparado para receber uma ligação da sua filha às 5h da manhã porque ela se sente insegura?

BorderOnde histórias criam vida. Descubra agora