Capítulo XVII - Miguel

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- Alô! Alguma novidade? - Pergunta-me ela ao atender minha chamada.

- Peguei o Garcia!

- Mas que ótima notícia! Avise-me quando terminar o serviço. - Disse-me antes de desligar.

Quando fui expulso injustamente do FBI decidi tornar-me detetive particular. Minha experiência e meu talento não podiam mais serem desperdiçados em qualquer outro tipo de trabalho. Desde então, venho fazendo o possível para provar para a minha família que eu não sou o ser humano imprestável que a corporação me fez parecer.

O caso era de tráfico de menores. Todas mulheres. Essas jovens eram classificadas e divididas entre as que seriam banco de órgãos e as que seriam obrigadas a prostituir-se.

Eu era o detetive neste caso, mas estava perdido, não sabia por onde começar e toda essa história parecia mórbida demais. Eu não queria perder a vida de nenhuma das vítimas. Uma colega de trabalho ofereceu-me ajuda. Uma ajuda irrecusável, mas sob tais circunstâncias era inaceitável. Ela estava disposta a infiltrar-se entre as meninas sequestradas e nos ajudar a quebrar a quadrilha por dentro. Eu recusei, é claro, mas é claro que isso não adiantaria, ela falou com o diretor que depois de questioná- la inúmeras vezes sobre o quão segura ela estava disso aceitou sua abordagem. Eu sabia que se qualquer coisa desse errado eu não poderia salvá-la. Eu sabia que algo ia dar errado, porque sempre dá. Eu sabia que ia perdê-la, mas tive medo de contrariar meu chefe.

Na noite em que ela se infiltrou despedi-me dela sem querer, eu não queria, mas a estávamos entregando à morte. Essa operação não durou muito. O disfarce dela foi descoberto no segundo dia e ela foi brutalmente assassinada. O FBI não pode seguir com o plano, porque a quadrilha saiu dos EUA e perdemos a jurisdição. A CIA capturou três pessoas e as tortura quase até a morte todos os dias até hoje, mas ninguém entrega ninguém. Não salvamos nenhuma vítima naquele dia e perdemos uma agente.

Eu fui afastado do FBI e quando houve uma comissão apontei o dedo na cara do diretor e acusei-o de tê-la matado ao enviá-la a uma missão suicida. Fui expulso da corporação.

Depois de muito tempo resolvendo casos de suspeita de infidelidade, finalmente um caso à minha altura. Alguém que precisa proteger sua família de gente muito ruim me contratou para ser seus olhos e seus ouvidos ao lado do inimigo. E eu prometi não decepcionar ninguém de novo.

Meu telefone toca.

- Alô! - Atendo.

- Alô! Miguel? - É a Clara.

- Estou aqui. O que está acontecendo? Você parece assustada.

- Acho que encontrei alguma coisa. - Diz-me com satisfação.

- Clara, onde você está? - A ligação começa a chiar. - Clara, saia daí agora!

- Eu... aqui... tinha... incrível... você... AAAA – A ligação cai.

Começo a tentar rastrear sua localização pelo telefone. Quando nos vimos no metrô e ela rolou as escadas seu telefone parou perto de mim. Pude instalar um rastreador e devolver ao seu bolso quando ela chegou perto.

Consigo triangular uma área. Mas por que a Clara está neste lugar tão ermo?

Meu telefone toca.

- Alô! - Atendo.

- O que a Clara está fazendo lá? - Ela pergunta-me.

- Eu não faço ideia do que ela pensa que pode fazer. Eu só sei que está cada vez mais difícil mantê-la viva para você. - Bufo. - Qual é a importância dela mesmo? Estamos gastando muito tempo e esforço com alguém que está atrapalhando demais.

- Obedeça! Não pedirei outra vez. Quero a Clara viva! - Ordena-me ante de desligar.

Pego o carro e sigo para a localização da Clara. Quanto mais perto estou mais ermo este lugar fica. Chego a uma estrada de chão e o GPS aponta que a Clara está aqui. Ela deve ter perdido o telefone por aqui. Há um barranco, eu olho para baixo e há destroços de um carro. Isso é uma desova! Desço o barranco e encontro a Clara amarrada e amordaçada dentro dos destroços do carro.

- Calma, eu vim tirar você daqui. - Digo-lhe enquanto desamarro suas mãos. Ela encara-me chorando e faz sinal negativo com a cabeça. - Quer que eu vá embora? - Pergunto-lhe. Ela chora ainda mais. Sinto uma pontada nas costas e minha camisa logo se enxarca. Levei um tiro. Deixo meu corpo cair para frente e sutilmente puxo minha arma. Ouço passos, então ela chuta minha perna para conferir se estou consciente.

- Lugar errado, hora errada, amigo. - Diz-me. - Vire- se!

- Não consigo. - Minto.

- Eu não sou idiota. Não acertei sua coluna. VIRE- SE AGORA!

Eu me viro de frente e aponto minha arma para ela.

- Afaste-se! - Ordeno-lhe.

Ela atira em minha perna e eu disparo contra ela, acerto seu braço. Ela afasta-se de nós e começa a disparar de longe, eu perco a conta de quantos tiros ela acerta em mim. Dá a volta no carro, fica ao lado da Clara e põe a arma em sua cabeça.

- Olhe para mim! Eu quero ver a vida sair de você. - Diz-lhe.

- Não olhe, Clara. - Ordeno-lhe.

Era vira o rosto da Clara e põe a arma em sua boca e aperta o gatilho. Mas estava sem balas. Reúno todas as minhas forças para pegar minha arma e disparar contra ela, mas a minha vista está embaçada e ela corre rápido demais.

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