Perder minha filha foi a maior dor que já tive de suportar. É como se alguém tivesse enfiado as mãos nas minhas entranhas e arrancado à força tudo o que tinha dentro de mim. O corpo se acomoda à nova situação. A vida sempre continua. Mas jamais como era antes. Quanto mais o tempo passa tentamos nos convencer de que saber lidar com perdas é sinônimo de amadurecimento, mas a verdade é que para quem ama a vida envelhecer é assustador e a morte é aterrorizante.
Minha dor foi ainda maior quando soube que minha neta, que minha filha me deixou, tinha sumido do hospital em que nasceu. Naquele instante eu morri em vida e nasci para a morte. A morte de Maria Sílvia. Sim. Tenho seguido seus passos desde que a encontrei há alguns meses. Depois de mais de uma década sem conseguir justiça e sem saber do paradeiro da minha neta, eu contratei um detetive.
Tive que conter e superar o impulso de atacá-la com uma faca na rua, por descobrir que não tenho mais nenhum direto legal em relação à minha neta. Mais difícil que isso foi aceitar que minha neta nunca me reconhecerá como avó e nunca saberá a mãe incrível que perdeu.
Quando me lembro do telefonema que minha filha fez para me dizer que estava grávida, os meus olhos se enchem de lágrimas.
- Suzana, mulher, tu não vai acreditar. - Disse-me entusiasmada.
- Parece ser notícia boa. Se não contar eu não vou nem saber. - Eu estava cozinhando.
- Eu soube que tu vai ser avó! - Contou-me alegremente. - Parabéns!
- Mas que coisa boa, minha filha. - Eu vibrei com a perspectiva de ser avó e de poder participar dessa fase da vida de minha única filha. - Alfredo, venha cá. - Eu chamei meu então marido para compartilhar essa felicidade que seria nossa. Sermos avós.
Eu mal sabia que seria a última vez que vibraríamos juntos de tanta felicidade.
As ligações que recebi posteriormente de minha filha eram carregadas de choros, dúvidas e medos. Coisas que eu não podia resolver, porque ainda estava educando e formando o ser humano saudável e forte que Maristela era. Eu podia apenas existir e ver aquela lagartinha se tornar borboleta dolorosamente.
Meu celular vibra. Uma notícia interessante. Uma senhora foi detida tentando traficar drogas em um voo internacional. Ela levaria o pacote do Brasil para a Inglaterra. De repente fui tomada por uma estranheza: Intuição!
Liguei para o Miguel.
- Cheque todos os embarques neste aeroporto. Todos os destinos. Eu tenho certeza de que a Sílvia fugiu hoje. - Disse-lhe.
Mantive uma reserva, porém, para mim mesma em um hotel de alto padrão na Alemanha.
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Border
General FictionLívia é uma jovem de 15 anos com uma família difícil e uma vida atribulada. Após a separação de seus pais, algumas lembranças da infância que tinham sido apagadas pelo tempo vem a tona revelando uma série de segredos e uma face mais nítida da verdad...