Vários dias se passaram após a longa conversa e pareceu que a gente teve essa longa conversa para ficar dias sem nos falar. Nossos horários não combinavam, quando ele me ligava eu estava no consultório com algum paciente e não dava para atender ou ele me ligava de madrugada e eu já estava dormindo. Quando eu ligava, ele estava de plantão e não conseguia falar nada além de "oi, te amo, não posso falar". Um dia, eu acordei e como eu estava há dias sem falar direito com ele, eu cismei que a casa estava com cheiro de café. Acordei agoniado e pulei da cama pensando que ele estava lá. Mas óbvio que era só maluquice da minha cabeça e a saudade brincando comigo. Ao cair na real, eu fui ao banheiro fazer minha higiene e encontrei a caixinha com os post-it que ele deixava e que eu vinha guardando há tanto tempo. Olhar para aquilo fazia a saudade bater ainda com mais força e doer ainda mais. Eu era tão besta que eu chorei sozinho dentro do banheiro de tão apertado que estava meu peito.
Após minha higiene matinal, eu me arrumei e fui tomar café em uma panificadora. Meu pensamento estava fixo no Caio! Naquele dia eu acordei com muita saudade dele, eu nunca acreditei muito quando falavam que a saudade doía. Eu só fui acreditar quando eu senti na pele a dor que ela causa. E ela dói muito! Até então, eu nunca tinha sentido a saudade de forma tão intensa porque eu sempre tive todos que eu amo bem pertinho de mim. Durante a infância, nunca senti saudade da Fátima ou do Raimundo, depois que eles me expulsaram, aí mesmo que eu nunca senti isso. Por eles eu sempre senti o oposto de saudade, eu sentia repulsa. Deles, eu nunca quis estar perto, eu sempre quis o máximo de distância possível. Eu só fui sentir saudade depois que encontrei a minha família no Rio, depois que eu me casei com o Caio, principalmente depois de ter casado com ele... Pode parecer bobeira, mas Caio e eu fazíamos tudo juntos, morávamos muitos anos juntos e não tê-lo em casa comigo há tanto tempo mexeu muito comigo. Durante os anos eu construí uma versão bem forte de mim mesmo, uma versão consciente e crítica. Mas, a saudade dele fez eu desconstruir a minha versão forte para construir uma versão fragilizada. Eu me ver dessa maneira fragilizada me incomodava muito, pois isso era algo que eu não aceitava. Eu já tinha sido muito frágil em boa parte da minha vida e eu não queria mais me ver assim.
No consultório, eu passei o dia inteiro pensando nele e que eu queria vê-lo. Tentei ligar e falar com ele várias vezes, mas sem sucesso algum... Eu estava tão agoniado que eu quase compro uma passagem para ir lá com ele, eu cheguei a ver com a Ju se teria como eu conseguir uma folga, eu até conseguiria, mas não naquele dia, óbvio. Eu precisaria me organizar com pelo menos duas semanas de antecedência, antecipar consultas para só então conseguir alguns dias.
Ao sair do consultório eu fui para o restaurante da família, jantei rápido e fui para casa. Nem minha mãe e nem minha tia me viram entrar e sair do restaurante, pois eu entrei pela porta do restaurante e não pela porta da loja, eu também não subi para a parte administrativa que era onde elas ficavam na maior parte do tempo. Eu vinha evitando ficar com elas, pois todas as vezes que eu ficava com elas, elas me perguntavam sobre o Caio. Queriam saber o porquê dele não vir ao Rio, dele não atendê-las, dele sumir... como se eu tivesse que responder por ele. Além disso, elas queriam saber como nós estávamos e sempre que eu tentava falar (porque eu precisava falar com alguém), elas arranjavam tantas desculpas quanto fossem necessárias para limpar a barra dele. Há alguns dias que eu não falava muito com elas, não ia na casa delas, não atendia o telefone... eu queria evitar que o que eu estava sentindo se intensificasse. Nesses dias, eu cheguei a marcar três vezes sessões de terapia, sempre surgia algum problema para eu resolver no consultório ou na obra (principalmente na obra) que me fazia não ir às sessões. Eu estava completamente esgotado e esse esgotamento começou a refletir com mais força no meu dia a dia e nos meus hábitos mais saudáveis.
Obs. já deu para perceber que quando eu estou sofrendo eu ajo de cinco maneiras que se combinam, né?! Sou assim desde sempre e é algo que eu trabalho bastante para mudar, mas é bem difícil. 1. Eu permaneço sofrendo e esperando um milagre que nunca vem. 2. Eu quero acabar tudo o que me causa dor o mais rápido possível. 3. Eu me afasto de todos para que eu não sofra ainda mais. 4. Eu fico transitando entre esperança de que tudo ficará bem e a certeza de que nada tem mais jeito e que tudo acabou. 5. Por amar demais, eu acabo me fodendo legal na tentativa de ver as coisas bem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor que nunca acabará - PARTE 2
RomanceConto aqui minha história de vida, minha aventuras, meus amores, minhas amizades e minha relação de irmandade com aqueles que eu mais amo na vida. Calendário de postagem: Segundas e sextas-feiras.