Quando a gente consegue doações, a quantidade de refeições aumenta. A gente tenta coletar doações dos pacientes que pagam consulta e quando conseguimos é a nossa chance de aumentar a quantidade de refeições. A maioria dos pacientes ajudam com boas doações e eu sou muito grato por isso! Dessas doações, a gente consegue distribuir algumas cestas básicas também (fizemos muito isso na pandemia, visto que fechamos a clínica. Fizemos isso depois que passou aquela primeira grande onda e que nos acalmamos mais (o nós, no caso, sou eu hahaha). Para realizar essas ações sociais, nós temos um pequeno refeitório na clínica, por isso que eu disse que nesse dia a gente muda um pouco a estrutura da clínica. Afinal, não tem como os pacientes comerem na recepção onde não tem nenhuma estrutura para refeições. Esse refeitório foi algo criado em 2019, depois que nós já estávamos com as crianças, ou seja, um pouquinho antes da pandemia.
Enfim, a gente faz o máximo que conseguimos e toda a nossa equipe ajuda. Graças a Deus, dentro da nossa clínica todos vêem essas ações sociais como algo muito importante, pois como eu disse, se a pessoa não estiver dentro dessa filosofia, ela não se junta a nós. Parece um pouco excludente, mas nós não queremos pessoas com energia pesada, não queremos profissionais egoístas que visam somente o lucro. Nós criamos a nossa clínica justamente para fugir desse tipo de pessoa e agora que ela está criada, nós não colocaremos lá dentro pessoas que não aceitam ajudar o próximo. Eu comungo muito do que o Padre Julio Lancelotti fala sobre aporofobia e eu tento sempre lutar contra isso de acordo com os meus recursos. Com esse sentimento de ajudar o próximo, nós fomos montando nossa equipe com pessoas que entendessem e aceitassem esse projeto. Para que todos atendessem os pacientes da melhor maneira possível, nós sempre ofertamos capacitações também. Fico muito feliz e orgulhoso em dizer que toda a minha equipe está voltada para a ajuda ao próximo. Quando fazemos ações sociais, a equipe inteira vai junto. Um caso um pouco recente foi a tragédia de Teresópolis que eu até cheguei a comentar com vocês.. Todos nós fomos ajudar tanto com serviços de saúde quanto com doação de cestas básicas e produtos essenciais para higiene. Tenho um amigo que fala que nossa clínica tem sucesso porque a gente ajuda muito as pessoas, eu não gosto muito de pensar dessa maneira. A clínica tem sucesso porque trabalhamos duro e nos dedicamos muito. Nós ajudamos as pessoas por amor, altruísmo, empatia... não ajudamos os outros para receber dinheiro e sucesso em troca. Se eu for ajudar o outro para fazer propaganda para a minha empresa, eu não estou ajudando ninguém, eu só estou usando a situação difícil pela qual a pessoa está passando para me promover e lucrar. Isso não é amor ao próximo! Isso é egoísmo associado ao desejo de ter cada vez mais dinheiro.
Eu sempre fui muito rigoroso dentro da clínica, muito mesmo. O que eu passei nas ruas nunca saiu da minha cabeça, eu nunca consegui esquecer o que eu passei e como as pessoas me tratavam só porque eu morava na rua. Uma vez, eu vivenciei um caso de aporofobia muito forte na clínica e eu fui muito rigoroso com um funcionário que estava em treinamento/experiência. Eu vi esse funcionário tratar muito mal uma senhora, eu peguei ele sendo extremamente grosseiro ao dizer que a senhora estava fedendo e que era para ela passar no banheiro para se limpar antes de entrar no meu consultório. Olha, ouvir isso me fez perder quase toda a razão porque eu me vi completamente naquela situação. Quando eu estava nas ruas, como eu ouvi as pessoas falarem que eu fedia... Eu fiquei furioso, tão furioso que não pensei direito e fiz o rapaz passar vergonha na frente de todo mundo. Profissionalmente, não foi certo o que eu fiz, mas a raiva subiu, explodiu e eu fiz merda. A raiva subiu porque eu senti na minha pele o que aquela senhora sentiu! Depois, eu sentei com esse funcionário, conversei, pedi desculpas, mas não passei a mão na cabeça. O rapaz levou uma advertência e continuou com a gente por mais um tempo, só que a situação se repetiu e aí eu o botei para correr da clínica sem pensar duas vezes. Eu sempre digo a todos os funcionários, as pessoas que vêm até nós, geralmente, são pessoas muito sofridas e não merecem sofrer ainda mais no local onde elas vêm pedir ajuda. Eu fico furioso quando vejo essas coisas, saio completamente de mim. Geralmente eu sou bem calmo e racional, mas quando vejo essas injustiças, eu viro um outro Cadu e a vontade é sair dando bicuda em quem é racista, LGBTQIAPN+fóbico, misógino, aporofóbico, etc.
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Amor que nunca acabará - PARTE 2
RomanceConto aqui minha história de vida, minha aventuras, meus amores, minhas amizades e minha relação de irmandade com aqueles que eu mais amo na vida. Calendário de postagem: Segundas e sextas-feiras.