- Até parece... eu tento te trazer para cama e até na cama eu tento ficar com você, mas você vive morto de sono porque não dorme no hospital. Eu me sinto extremamente sozinho aqui em casa, eu estava até pensando passar uns dias lá com a nossa mãe.
- Mas você adora ficar aí em casa!
- Adorava! Eu gostava de ficar em casa quando eu tinha alguém para compartilhar tudo, eu detesto ficar o tempo todo sozinho e sem ter com quem falar.
Eu me sentia exatamente o que todo mundo dizia que eu era, naquele periodo: um idiota incompreensível. Eu me senti assim ao falar essas coisas para ele, eu vinha guardando esses sentimentos há bastante tempo e não gostava de ficar cobrando afeto e tudo o que sempre existiu no nosso casamento. Como eu sempre disse, ele nunca me cobrou esse tipo de coisa e atenção, mas lá estava eu fazendo o que ele não fazia comigo. Eu estava fazendo o que eu detestava que fizessem comigo! Mas quando eu estava muito atarefado, havia uma diferença muito grande, quando ele queria transar, ele vinha com jeitinho e me levava na lábia. Eu largava tudo para ficar com ele e eu queria que ele fizesse isso algumas vezes. Eu tentei de tudo, mas quando ele se concentra nos estudos, ele esquece até de comer. Outra diferença é que na minha época de dedicação total aos meus estudos, eu sempre estive ao lado dele. Eu não fui para outra cidade e o deixei sozinho cuidando de tudo. O que mais me machucava era essa ida a São Paulo, porque eu e toda a nossa família fomos contra. Ele foi o único que se iludiu com o papo do professor dele, foi o único que acreditou que ir a São Paulo seria bom para ele. Como seria bom morar três anos longe? Como seria bom praticamente sumir de casa, jogar tudo nas minhas costas, praticamente esquecer da nossa vida? Ele teve a chance de fazer a mesma residência no Rio, ele não se matriculou na Universidade do RJ mesmo tendo passado. Isso era o que mais me doía! Se ele tivesse aquela vida corrida, mas estivesse em casa, eu acho que tudo seria mais tranquilo, pena que ele não me escutou.
- Mas você sabe que se você passar, você vai precisar ficar sozinho lá em Liège.
- Sério que você vai querer usar o que eu falei contra mim?
- Não tô usando nada contra você, Cadu. Acho que você tá tão chateado comigo que distorce tudo o que eu falo.
- Eu não tô chateado!
- Nós sabemos que você está chateado e não é de hoje. Eu dou razão para você estar chateado, se eu estivesse no seu lugar, eu também estaria assim. É por isso que eu quero tanto ir para a casa de campo. Não pensa que eu não percebo que eu te deixo muito tempo sozinho aí em casa, não pensa que eu não percebo quando você quer ficar juntinho comigo, mas é um período complicado para mim. Eu também sei que já abusei da sua compreensão, mas eu te peço só mais um pouquinho... daqui a pouco eu já volto para casa.
- Você não precisa me explicar os porquês. Eu sei, eu os vejo e eu os entendo. Só é difícil para mim, Caio.
- Também não é fácil para mim, Cadu. Você acha mesmo que eu gosto de morar em outra cidade, de não ter você aqui para te dar um bom dia quando acordo, de não poder te beijar, de ficar juntinho de você na cama? Eu detesto isso! Mas não tem outro jeito, infelizmente!
- Eu sei de tudo isso. Não estou pedindo para você mudar a sua vida por minha causa.
- Não é mudar a minha vida, é a nossa vida. Desculpa esquecer de transar...
- Você esquece de transar?
- Aiii você me entendeu...
Nós ficamos alguns minutos em silêncio e sem olhar um para o outro.
- Você acha que se eu for para Liège nosso casamento sofrerá mais?
- Nosso casamento eu não sei, mas eu sofrerei com toda a certeza. Ainda mais que para mim, ano que vem nossa vida voltaria à normalidade.
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Amor que nunca acabará - PARTE 2
RomanceConto aqui minha história de vida, minha aventuras, meus amores, minhas amizades e minha relação de irmandade com aqueles que eu mais amo na vida. Calendário de postagem: Segundas e sextas-feiras.