Capítulo 245

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Os primeiros dias de retorno ao trabalho, foram dias um pouco intensos tanto para mim quanto para o Caio. Nós ficamos longe dos nossos trabalhos por bastante tempo, ele ficou duas semanas e alguns dias em casa e longe da residência (quem é médico sabe que isso é MUITO complicado), eu fiquei um pouco mais que isso sem poder atender. Eu sabia que havia sido uma pausa necessária para nós, pois aprendemos da pior maneira que não tinha como cada um viver a vida em cidades diferentes. Ele, enfim, reaprendeu que para estar casado comigo, era preciso estar junto. Era preciso compartilhar as alegrias do casamento e as responsabilidades da vida a dois.

Durante as duas semanas que ele ficou em casa, nós conversamos muito, mas muito mesmo, visto que era só isso que podíamos fazer. Com a infeção, nós não podíamos nos beijar. Devido aos meus hormônios, transar era algo impossível. Foram semanas de faxina no casamento, nós colocamos tudo no lugar. Jogamos fora as mágoas e tristezas que pesavam em ambos os lados e cultivamos o nosso amor. Chamo atenção novamente para o fato de que ler aqui dessa maneira resumida parece que foi algo simples e fácil, mas, definitivamente, não foi nada disso. Foi um processo de muitas conversas dolorosas, sérias e que mexiam com toda a nossa vida. Acredito que se ambos não quisessem estar casados, nós não tínhamos sobrevivido a tudo isso. Se não nos amássemos (e não vejam aqui como amor romântico adolescente, o amor adulto vai muito além do sentimento romântico, o amor adulto impacta o bem-estar, a vida prática e as expectativas e desejos da pessoa) nós tínhamos nos separado nesta grande crise. Graças a Deus, nós conseguimos nos sintonizar novamente e nossa vida foi voltando aos poucos a ser o que sempre foi. Ele voltou para São Paulo mais tranquilo, sem se sentir tão culpado e eu fiquei igualmente tranquilo no Rio.

Lá de SP, ele me ligava sempre para saber de mim, sobre o meu dia, para me contar fofocas do hospital e para ouvir fofocas da clínica da Luh. Mesmo longe, a gente conseguiu ficar juntos. Era dessa proximidade que eu falava para ele, ele se interessar em mim, em me ouvir... isso era muito importante para mim. A balança das prioridades voltou ao equilíbrio. Eu era tão prioridade para ele quanto ele era para mim. Eu me preocupava tanto com o bem-estar dele quanto ele com o meu. Eu demonstrava tanto amor por ele quanto ele por mim. Voltamos a caminhar juntos! Ele voltou a ser o Caio que eu amava: atencioso, amigo, amoroso, companheiro... Ele também voltou a ser romântico, como ele sempre foi. Ele só conseguiu voltar a ser ele mesmo porque se livrou da pesquisa e do orientador abusivo. Ele também se livrou do segundo hospital, ficando somente na residência. O orientador dele era tão filho da puta que ele realmente tentou prejudicar o Caio com os professores da residência, como o Caio estava com os atestados médicos, ficou muito claro para todos o que o orientador dele queria fazer. Os professores do Caio perceberam que era um problema pessoal e não levaram em consideração o que o louco falou. Caio precisou entrar com queixa no Departamento de Pesquisa da universidade e no Comitê de Ética. Com essa denúncia, ele puxou só um fiozinho de um rolo enorme de abusos cometidos por aquele louco. Vários outros orientandos, inspirados no que o Caio fez, também o denunciaram e o louco teve que responder a um processo disciplinar na Universidade. Depois de tudo isso, eu entendi o porquê do Caio estar tão mudado, estressado e biruta. Eu também estaria assim se eu tivesse um cara disposto a me prejudicar de todas as maneiras possíveis. Agora, adivinhem de quem esse professor retardado era amiguinho? Do filho da puta do primeiro orientador do Caio, aquelezinho que o convenceu a ir para São Paulo. Caio aprendeu a lição! Aprendeu a pensar com a própria cabeça e não se deixar levar por pessoas desequilibradas. Ele me disse que confiava nos orientadores por eles serem orientadores e, dentro da hierarquia da pesquisa científica, estarem acima do Caio. Como eu sempre fui muito mais esquentadinho que o bobão do Caio, eu respeitava a hierarquia da pesquisa, claro, mas nunca deixei ninguém pisar em mim ou me fazer de idiota. Graças a Deus eu tive a mesma orientadora da graduação até o doutorado, mas mesmo ela sendo minha única orientadora, eu encontrei muitos pesquisadores que se achavam uma divindade na terra e já bati muita boca (com toda elegância que o meio acadêmico exige). Depois de saber tudo isso pelo Caio, como eu tive que segurar a minha língua para não soltar um lindo, sonoro e gostoso: EU TE AVISEI!

Amor que nunca acabará - PARTE 2Onde histórias criam vida. Descubra agora