7.

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Ele ficou sério.
- Algo bom ou algo ruim?
- Ainda não tenho certeza. - respondi.
- Como não tem?
- Não tendo, oras.
- Tá bom, apenas conte! - insistiu.
- Só depois que terminar de arrumar essa bagunça. Só está desse jeito porque você trouxe uma garota pra casa!
- Você parece a mamãe. - reclamou, mas foi arrumar tudo.

Depois de um tempo, eu estava na cozinha fazendo uma sobremesa que a mamãe tinha ensinado antes de ir viajar a trabalho com o papai. Era a sobremesa favorita do Bruce, era um creme com leite condensado, alguns pedaços de morangos cortados, com cobertura de chocolate. Acrescentei alguns granulados por cima, sabia que ele iria gostar.
Eu realmente queria agradá-lo, mas também queria fazer com que ficasse calmo, pra que pudesse contar que eu, sua irmãzinha havia beijado um garoto. Eu ainda estava tentando criar coragem para contar, enquanto esperava a sobremesa esfriar no congelador. Ele ainda estava arrumando seu quarto, quando desceu com um saco de lixo na mão.

- Não acredito que tinha isso tudo de lixo no seu quarto. - disse com surpresa.
- Acredite. Fazia um bom tempo que não arrumava meu quarto, foi até bom. Está brilhando. - falou satisfeito.
- Assim espero. Agora poderia tirar esse saco de lixo daqui? Está fedendo.
- Você é muito chata. - falou saindo.
- Essa casa está de pé graças a mim! Se dependesse de você, teria várias latinhas de refrigerante jogadas pela sala, sem contar os pacotes de salgadinho. - cruzei meus braços.

Algum tempo se passou, Bruce estava jogando beisebol com um de seus amigos, que era nosso vizinho. Eu tirei a sobremesa da geladeira e coloquei-a na mesa, servi um pedaço em um prato, me sentei e comi.
Momentos depois ele entra na cozinha, seu amigo o segue.

- E ai, Yamada. - falou Steve, amigo de Bruce.
- Como vai, Steve? - dei um sorriso.
- Cresceu bastante desde a última vez que vim aqui.
- Você veio aqui antes do jogo de beisebol do time, garoto. Cerca de dois meses atrás.
- Sim, mas você não chegava nem ao menos no meu ombro. - disse pondo a mão na cintura.
- Bem, agora estou quase passando você. - me levanto e paro no seu lado. - Cuidado, vai ficar para trás. - eu ri.
- Vai sonhando, tampinha. - deu um tapinha na minha nuca.
- Ei! - Bruce gritou do outro lado da cozinha, procurando algo na geladeira. - Só eu posso chamá-la assim, ache outro apelido!
- Vou achar. - deu de ombros.

Bruce se senta ao meu lado, com cara de decepção. Coloca os braços encima da mesa e deita a cabeça sobre eles, até perceber a travessa de vidro na mesa.

- Você quem fez? - disse surpreso.
- Quem mais faria? - respondo. - Fiz pra você.
- Não acredito! Você é a melhor irmã que eu poderia ter. - falou enquanto servia um pedaço no prato.
- O que está esperando, Steve? Sirva-se. - falei oferecendo um prato.
- Isso são morangos? - analisou a travessa.
- Sim, estão maravilhosos. - Bruce dizia de boca cheia.
- Feche a boca pra comer, Bruce. - falei rindo.
- Parece estar maravilhoso, mas sou alérgico a morangos. Desculpe, [y/n]. - ficou triste.
- Tudo bem, da próxima eu coloco outra fruta, assim você pode comer. Qual fruta você prefere? - falei sorrindo.
- Aposto que ficaria uma delícia com pedaços de melancia! - retribuiu o sorriso.
- Vou lembrar disso.
- Tudo bem, preciso ir. - falou enquanto saia da cozinha. - Tchau, irmãos Yamada!
- Tchau, Wilson! - ambos respondem.

Permanecemos comendo a sobremesa em silêncio. Eu queria que Bruce tivesse esquecido que eu tinha algo a contar, mas não.

- Ei, você tinha algo a contar, não? - disse cortando mais um pedaço do doce.
- Ah... sim. É sobre noite passada. - falei, ainda com olhar desviado.
- Está tudo bem?
- É sobre um... garoto também. - comecei a suar.
- Hum. - disse com um tom de ciúmes. - O que aconteceu? Ele fez alguma coisa? - agora de preocupação.
- Não, eu fiz. Primeiro, deixa eu explicar desde o começo. - limpei a garganta. - Lembra que precisei mudar de escola, não é? Porque aquela era muito longe.
- Claro, lembro sim.
- Eu não sai de lá só porque era longe, eu arrumei muita briga lá e ninguém queria ser meu amigo. Pedi pra mamãe não te contar essa parte. - não conseguia olhar no seus olhos.
- Por que não me disse?
- Porque sabia que ficaria preocupado. Mas continuando... Nessa nova escola eu fiz alguns amigos, os irmãos Blake Finney e Gwen e Robin Arellano. Robin pegava muito no meu pé, ficava implicando comigo, mas não no mau sentido. Ele era meu amigo.
- "Era"? O que você não está contando, [nome]? - arqueou a sobrancelha.
- Bem, eu gosto dele. Mais que amigo, sabe? - acabei deixando um sorriso escapar. - E acho que ele gosta de mim também!
- Tem certeza sobre isso?
- Bruce... Eu o beijei. Noite passada.
- Ficou louca? - disse indignado.
- Me desculpa! Fiz sem ao menos pensar.
- Não vou contar aos nossos pais, mas como ele reagiu a isso?
- Acho que ele gostou também, me abraçou depois disso. Antes disso acontecer, ele tinha me chamado pra sair, mas preciso da sua permissão.
- Quero conhecê-lo. - levantou-se e saiu do cômodo.
- Merda. - pensei.

No outro dia, eu precisava fazer um trabalho com ele. Não sabia como iria olhar em seu rosto sem ficar vermelha, ficava tonta só de pensar. Arrumei minhas coisas e estava saindo, Bruce desceu as escadas.

- Onde vai? - parou no pé da escada.
- Tenho um trabalho da escola pra fazer.
- Com quem? - cruzou seus braços e fez sua cara de bravo, já imaginava com quem era.
- Arellano. - abri a porta.
- Ah que ótimo! Uma boa oportunidade pra conversar com ele. - parou do meu lado, entrelaçou nossos braços.
- Fala sério! - fechei a porta e saímos.

Fiquei com mais vergonha ainda por ter chegado lá com meu irmão, ora, eu já não era mais uma criança pequena, não?
Dei três toques na porta e quem a atendeu foi o tio de Robin.

- Ah sim! Você deve ser a pequena [nome]. - deu uma inclinada para frente. - Robin não para de falar de você. - sussurrou. - Não diga que foi eu quem contei. E você é?
- Sou Bruce, irmão mais velho dela. Posso falar com Robin por alguns minutos? Serei rápido. - sorriu.
- Claro que sim, espere um momento. Robin! Visita! - disse pondo um pano de pratos no ombro e indo para a cozinha.
- [nome]! - sorriu ao me ver e eu sorri de volta. - Você veio! - tentou me dar um abraço, mas foi parado por Bruce.
- Quero falar com você, rapaz. - meu irmão falou num tom de seriedade. - Venha. - foram em direção a calçada.
- Você pode ir arrumando suas coisas no meu quarto. - Robin dizia enquanto passava por mim, seguindo Bruce.
- Tchau, Bruce! - gritei.
- Tchau, tampinha. Juízo! - retrucou.

Eu sabia que não iria fazer parte daquela conversa, então resolvi entrar e fazer o que Arellano havia dito. Entrei no seu quarto e por incrível que pareça, estava arrumando, tirei meus materiais da mochila e organizei tudo para que pudéssemos fazer nosso trabalho. Li alguns resumos que tinha feito na escola, pra ser mais fácil entender a matéria.
Já tinham se passado cerca de quinze minutos, quando Robin entra no quarto.

- Hola gatita. - sentou na minha frente.
- Hola gatito, como estas? - dei risada. - Está tudo bem? - mudei o tom.
- Sim, seu irmão é legal.
- O que ele te disse? - estava curiosa.
- Não posso contar. - fez cara esnobe.
- Ora, e por que não?
- Segredo, gatita. - riu enquanto pegava uma das folhas de resumo. - Ainda está de pé?
- O que?
- Para irmos assistir O Massacre da Serra Elétrica. - ficou envergonhado.
- Ah, sim. Claro que está. - sorri. - Vamos começar?
- Vamos. - falou revirando os olhos, largando a folha.

Nós passamos bastante tempo fazendo aquele trabalho, nem vimos a hora passar. O tio de Robin trouxe alguns lanchinhos para nós e já aproveitou para fazer um convite.

- Pequena Yamada, o que acha de vir aqui no próximo sábado? Vou fazer churrasco, pode trazer sua família. - Robin me encarou, estava sem graça.
- Não tenho certeza se meus pais poderão vir, mas prometo que vou tentar, Senhor Arellano. - dei um sorriso gentil.
- Tudo bem, convidem os Blake também! - disse saindo e fechando a porta.
- Sábado não é o dia que vamos sair? - perguntei.
- Sim, você pode ficar aqui depois de vermos o filme.
- Só preciso avisar o Bruce, ele sempre gosta de saber onde eu estou.
- Ele não virá?
- Não sei, ele sempre está fazendo uma coisa e outra. É como meus pais, sempre ocupados. - falei escrevendo nossos nomes do trabalho, finalizando-o.

Continua

Bloqueio criativo sobre como executar minhas ideias, desculpem.

Você é Insuportável! || ArellanoOnde histórias criam vida. Descubra agora