12.

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Ela passou por mim, acabei perdendo-a de vista, não dei bola e segui meu caminho.
Alguns minutos pedalando e quase chegando em casa, só precisava entrar na próxima rua e assim o fiz, entrando na esquina de casa percebo que a van está parada na frente de uma das casas. Aproximando-me, observei que havia um homem na parte de trás da van, ele estava com muitas caixas em mãos, parecia estar descarregando a van.

O homem usava uma cartola de mágico, provavelmente era um, a contar com a escrita da van, e pelos utensílios que ele deixou cair ao tentar passar pelo portão.

- Ora, mas não é possível! - ele disse enquanto se abaixava para juntar suas coisas.
Eu teria passado pela van sem nem ao menos olhar, mas possivelmente me sentiria mal depois. O homem também parecia estar velho, parecia cansado mesmo que não pudesse ver seu rosto, decidi parar para ajudá-lo.
- Opa, precisa de ajuda? - parei minha bicicleta, eu estava do outro lado da rua.
- Gostaria de dizer que não, mas preciso, sim. - falou juntando algumas bolinhas coloridas do chão. Me aproximei, peguei uma caixa e fui catando suas coisas.
- Você não deveria estar andando sozinho por aqui a está hora, é perigoso. - empilhou uma caixa sobre a outra. Estranhei que ele tenha me chamado no masculino, mas só queria ajudá-lo logo para poder ir embora de uma vez.
- Está tudo bem, conheço as ruas daqui. - sorri enquanto me levantava segurando as duas caixas que ele empilhou.
- Bem, eu ia levar essas caixas lá pra dentro, mas creio que não terá espaço, pode colocar aqui? - abriu a porta da van que estava fechada.
- Sem problemas. - assim o fiz. - O senhor precisa de mais alguma cois-... - ele me agarrou, espirrou algo que parecia spray na minha boca, me fazendo desmaiar.

Acordei em um lugar... Bem, não sabia como descrevê-lo. Tinha uma porta de ferro bem na minha frente, eu estava em um colchão que parecia muito velho. Na minha esquerda, havia um telefone preto, na parede no lado esquerdo, uma janela, mas era muito alta. No canto direito, podia ver um corredor, estava assustada mas fui ver o que era mesmo assim. Estava esperançosa de que acharia uma saída por ali, mas fiquei decepcionada ao ver que não tinha nada além de uma privada e alguns tapetes enrolados, um em cima do outro.
Ouço um barulho de alguém destrancando aquela porta de ferro, então corri pro colchão outra vez, tentei fingir que estava dormindo.

- Sei que não está dormindo. - sua última palavra tinha tom cantado, como se zombasse de mim. - Trouxe algo para você comer, pequeno.
- Pequeno? Está me chamando como se eu fosse um garoto. - falei me levantando.
- Você não é um garoto? - gritou com indignação. - Merda! - a bandeja que estava em suas mãos foi jogada no chão.
- Por que achou que eu fosse um? - tentei não mostrar medo no meu tom de voz.
- Você estava usando roupas masculinas e eu não podia ver seu cabelo, infelizmente, não era você quem deveria estar aqui... - parecia triste. Percebi que nunca poderia saber quando ele estava sério ou zombando de mim.
- Por favor, deixe-me ir! Prometo não contar para ninguém. Só de deixe ir embora, por favor! - dizia quase chorando.
- Não posso deixar que vá, sua idiota! Vou cortar seu pescoço se não se comportar! Comporte-se, não importa o quão alto você grite, ninguém vai ouvi-la, esse porão é altamente a prova de som. - ele dizia abrindo os braços, não fiz nada além de encarar o espaço, inclusive o telefone da parede. - Não funciona, nem tente. - ele percebeu que eu encarava o telefone.
- O que?
- O telefone não toca, não funciona desde que eu era pequeno, não perca seu tempo. - saiu, fechando a porta, ele não tinha trancando-a, quer dizer, eu não tenha ouvido o som da tranca. Para ter certeza, me aproximei na porta, quando fui puxa-la, o telefone toca.
- Ele não havia dito que não funcionava? - tentei chegar mais perto, talvez estivesse ouvindo coisas, mas estava realmente tocando! Atendi.
- Olá? - falei com a voz trêmula, estava quieto do outro lado da linha.
Alguns segundos passaram e o silêncio permaneceu, até eu ouvir o som da porta, outra vez.
- Eu não lhe disse que não funcionava? - o homem estava bravo.
- Desculpe... - coloquei-o no lugar.
- Desculpe, querida. Aquilo que eu disse sobre cortar seu pescoço, bem, eu só... estava bravo. Você entende, não é? Desculpe, mas agora está tudo bem. - eu não podia ver seu rosto, ele usava uma máscara estranha, mas podia ver seus olhos. Podia saber que estava sorrindo pelas linhas em seus olhos.
- O que... fará comigo? - eu estava quase desabando ali mesmo.
- Não farei nada, oras. Mas não posso te deixar ir, terá de ficar aqui embaixo. - ele se abaixa para ficar na minha altura, ou perto dela. - Trago-lhe alguma companhia, agora, poderia esperar um momento? Tenho algo para você. - levantou e saiu, outra vez, sem barulho da tranca.
O que eu poderia fazer? Tentar lutar com alguém que tem o dobro do meu tamanho? Eu o faria, mas apenas quando tivesse a chance, além de estar extremamente cansada, teria que ser certeiro.
Ele voltou alguns minutos depois, tinha algo em suas mãos. Era uma... corda? Ele iria me prender com uma corrente como um animal? Essa não.
- Coloque suas mãos do lado do telefone, fique de frente pra ele. - seu tom era ainda mais sério que antes, não contrariei ou tentei desobedecê-lo, eu sabia que caso fizesse isso, teria menos tempo viva.
- Ótimo, boa menina. - ele prendeu a corrente em uma espécie de gancho que tinha no teto, em seguida, prendeu minhas mãos. Eu ainda tinha um pouco de espaço para me movimentar, mas não podia ir muito além do colchão, não poderia nem chegar na janela. Era meu fim, a menos que o telefone tocasse outra vez e tivesse alguém do outro lado, para variar.
- Estou com fome. - falei baixo.
- Posso lhe dar sua comida, mas antes... Qual seu nome?
Eu não tinha certeza se deveria dizer meu nome, quer dizer, uma hora ele descobriria, não?
- Yamada, [y/n] Yamada. - hesitei.
- Você tem certeza que este é seu nome?
- Sim...? - por que eu não teria certeza do meu próprio nome?
- Bem, você está nos jornais. - ele pegou um jornal que estava no pé da escada e jogou pra mim. - Yamada, você tem mais alguns dias.
- Mais alguns dias? - observei o jornal e sim, eu estava na capa do jornal!
- Sim. - saiu sem dar explicações, dessa vez, trancando a porta.

O que aquilo queria dizer? Mais alguns dias? Estava perdida em meio aos meus pensamentos, minha mente estava rodando feito um furacão, mas volto a realidade quando o telefone ao meu lado toca.
Atendi na mesma hora.
- O que quer, inferno? Diga logo! - gritei, já estava explodindo de raiva.
- Precisa nos salvar. - alguém diz do outro lado.
- Salvar? Ora, não sei quem é, mas eu estou acorrentada em um porão à prova de som! - dizia com sarcasmo. - Eu quem preciso ser salva!
- Está viva. - respondia com frieza.
- Pelo jeito, não por muito tempo.
- Mas você ainda está viva.
- Tudo bem, já entendi que estou viva. O que quer dizer com "precisa nos salvar"? Quem é você?
- Eu estou morto, nem ao menos lembro meu nome, assim como os outros que estão aqui comigo.
- Seu nome? Como não lembra do seu próprio nome? Provavelmente eu sei seu nome! Você consegue lembrar o que fazia antes disso tudo?
- É a primeira coisa que você perde quando... - não terminou sua frase. - Não tenho certeza, mas acho que fazia algo como entregar jornais. - mudou de assunto.
- Quando o que?
- Você sabe quando, agora voltando para "meu" nome.
- Tudo bem, jornais... Certo. - pensei um pouco. - Billy! Você é Billy Showalter!
- Billy... Ok, mas não me chame assim! Não é isso que sou agora.
- Então como devo chamá-lo?
- Isso não importa agora. Ouça o que estou dizendo, não tente subir as escadas, caso você consiga se soltar. Tudo bem?
- Por que? O que ele tem lá em cima?
- Ele estará sentado em uma cadeira, com a porra de um cinto da mão, esperando você! Vai te bater tanto a ponto de fazer você desmaiar, você vai pedir para que ele pare, mas, ele não vai parar, mesmo que você implore. Foi o que eu e os outros fizemos. Então, não suba! - desligou.

Ele morreu porque cometeu esse erro, mas fez questão de me avisar para que eu não cometesse o mesmo erro, melhor seguir seu conselho. Deitei naquele colchão velho e imundo, e tentei dormir um pouco, mas era difícil, tinha cheiro de mofo. Acordo alguns minutos ou horas depois, não sei, perdi a noção de tempo. E o telefone toca, me levanto rapidamente e o atendo.
- Você disse que meu nome era Billy.
- Billy Showalter.
- Tudo bem, mas não me chame assim.
- Mas é seu nome! Como é pra chamá-lo então?
- Eu disse que entregava jornais.
- Paperboy!
- Isso serve. Agora, preste atenção. Está vendo o corredor?
- Sim.
- Você pode ver que na parede, o chão e a parede não se conectam e tem que um pequeno espaço entre eles, não é?
- Sim, o que devo fazer?
- Eu fiz uma corda e a escondi lá. Pegue-a quando se soltar.
- O que devo fazer com ela?

Lembra da bandeja no chão? Tinha uma garrafa junto dela, a garrafa simplesmente começou a rir sem parar, e voou em direção a parede... não, em direção à janela.

Ponto de Vista: Robin.

Acordei no dia seguinte e meu tio disse que [y/n] tinha ido embora ontem a noite. Ela foi muito atenciosa comigo, ela lavou meu cabelo, arrumou meu quarto e ainda fez algo que eu pudesse comer antes de dormir. Depois disso, deitou comigo na cama e ficamos conversando até eu pegar no sono, me tratou como se eu fosse uma criança, cuidou até mesmo dos meus machucados.
Ela é incrível, mais tarde vou passar na casa dela, estou morrendo de saudade e já me sinto muito melhor.

Ponto de Vista: Bruce.

- Ei, vocês viram se minha irmã chegou ontem à noite? - perguntou para os meninos que haviam dormido em sua casa.
- A última vez que vi ela, foi quando ela veio perguntar se estava tudo bem e aproveitou para pegar a bicicleta, disse que seria mais rápido voltar pra casa de bicicleta. - Steve se pronunciou. - Está tudo bem?
- Bem, ela não voltou. Seu quarto está do mesmo jeito que ela deixou ontem. - eu falei preocupado.
- Pergunte ao... Esqueci o nome dele, Robin, eu acho. Eles estão sempre juntos, talvez ele saiba onde ela está.
- Eu vou ver se ela está na casa dele, podem arrumar essa bagunça que fizeram no meu quarto! - disse pegando a bicicleta e saindo.

Não sei o que estava acontecendo, mas sei que queria matar aquele garotinho, tinha certeza que ele sabia onde ela estava. Ou talvez ela só tenha dormido lá, não é? Ela pode ter achado que seria mais fácil dormir lá do que ter que andar sozinha a noite. Prefiro pensar assim. Chegando lá, bato na porta e quem abre é Robin.

- Oi. - falei sério.
- Oi, Bruce. Está tudo bem?
- Está sim, onde está a [y/n]?
- Ela foi pra casa ontem de noite, ué.
- O que?
- É, ué. Tivemos alguns problemas aqui, ela ajudou a resolver e depois saiu. Ela não voltou pra casa? - ele estava tão preocupado quanto eu.
- Bem... Tem certeza que ela foi direto pra casa, né?
- Sim, não teria porquê mentir. - ele saiu e fechou a porta. - Podemos ir na casa do Finney e da Gwen.
- O garotinho cacheado e a irmã dele?
- Sim, talvez ela tenha ido lá.
- Certo, vamos! - normalmente eu não teria aceitado sua ajuda, mesmo que não o odeie, mas sei que ele gosta muito da minha irmã.

Continua

Você é Insuportável! || ArellanoOnde histórias criam vida. Descubra agora