Envolvidos

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ESTER MOLINA


O salão de festas estava quase pronto. Além de ser uma mulher linda, com olhos castanhos profundos e gentis, a assistente de Jhon era dona de um corpo belíssimo e um cabelo perfeito, ela tinha bom gosto, sem contar que, era ágil, forte, e comandava muito bem. Cecília de fato parecia ser especial. Não consegui deixar de observar seus movimentos. Às vezes parecia flutuar entre o lugar, e todos que tinham contato direto com ela, se encantavam. Essa constatação me incomodou um pouco. Foi quase impossível não me comparar. O que me irritou, pois me senti mal e culpada. Realmente eu andava perdida e confusa.

- O lugar está incrível. - Ouvi uma voz grossa, e conhecida atrás de mim.
Sorri ao ver de quem se tratava.
- Devo tudo á sua assistente. - Confessei, encabulada. - Quase não precisei fazer nada, quando cheguei.
Ele pareceu surpreso.
- Cecília realmente é muito competente - Elogiou, ao buscá-la com os olhos.
- E bonita. - Deixei escapar, chamando sua atenção.
- Acha mesmo?
- Só sendo cego para não achar. - Minha resposta saiu mais ácida do que deveria.
Jhon me encarou.
- Você não fica atrás Ester, sabe disso, não sabe?
Senti meu rosto corar.
- Não seja bobo Sanchez, não tem nem como assemelhar. Ela é nova, e eu...
- Você é maravilhosa. - Concluiu, acariciando-me com o olhar.

Fazia muito tempo que não me sentia tão empolgada. Era como se eu estivesse recebendo uma dose enorme de endorfina. A sensação de prazer, bem-estar, bom humor, motivação e felicidade me elevava a um nível superior. E eu estava gostando disso. Entretanto, a pessoa que causava tal efeito em mim, não deveria ser quem é.

- Eu disse que não precisava vir me buscar. - Segui a voz, deparando-me com Cecília ao meu lado.
- Fiz questão. - Respondeu Jhon, estendendo a mão e limpando uma parte do rosto dela que estava sujo.
- Quanta gentileza, senhor. - Pousou a mão sobre a dele.
Incomodada com o diálogo, resolvi abster-me.
- Eu vou dar os últimos retoques. Obrigada aos dois, por tudo.
Pisando duro, me retirei, deixando-os para trás.

A idade chega para todos e, como consequência, a crise de meia-idade pode surgir para alguns. Isso porque quando se pensa em envelhecimento, a insegurança toma conta. Assim, muitos tentam provar para os outros e a si mesmo que estão bem. Comigo até então, não havia acontecido ainda. Morta por dentro como estava, conceitos desse tipo não faziam parte da minha vida. Já tinha aceitado que não era nada além de um alguém qualquer. As coisas que vivenciei só reforçavam minha declinação. Mas agora, algo em mim, saltou.
O que realmente me acontecia?
O que meus sentimentos querem revelar?
Ao menos sei quem sou?
Muitas perguntas, poucas respostas.


JHON SANCHEZ


- Você tinha razão, ela ficou enciumada. - Disparei, de repente no carro.
- Eu sempre tenho razão. - Me alfinetou, ligando o rádio. - Deveria me ouvir mais vezes.
Chacoalhei a cabeça, entregue a sua petulância.

Cecília a cada dia se revelava alguém mais interessante. Apesar de irritar todos os meus ossos, ela era eficiente, esforçada, sagaz, inteligente, e por mais surpreendente que fosse, desde que a conheci senti uma energia boa vinda dela. Agora, observando-a curtiu uma música da Lady gaga, que tocava na rádio, enquanto seus cabelos voavam contra o vento, e seu perfume maravilhoso de lírios se espalhava pelo veículo, aceitei o fato que precisava dela. Ela me fazia progredir, lentamente, mas estava dando certo. O que nem minha terapeuta conseguiu, em anos de terapia. A verdade é que, ao seu lado, sentia-me capaz de tentar.

Ao chegar no escritório, encontrei um comprovante de pagamento sobre a minha mesa. Se tratava da compra de um buquê de rosas-vermelhas, feita em meu nome, endereçado a Ester. Ao lado, um pequeno bilhete dizia: de nada. A letra era conhecida. Sorri com a constatação.

APAIXONADO PELA MÃEOnde histórias criam vida. Descubra agora