JHON SANCHEZUltimamente não sei o que estou sentindo. Parei para pensar na vida, e percebi que minha aversão pelo amor, concebido por traumas, não foi o único motivo que me impossibilitou de ir além. Tenho 29 anos, e nunca me apaixonei por alguém de verdade. Sim, já gostei de meninas da escola, fiquei encantado por mulheres em bares, festas, contudo, constantemente, elas se transformavam em momentos, pequenos instantes de satisfação física, e emocional, nada marcante. Por isso, nunca me preocupei. É complicado admitir, entretanto, essa é a única recordação que consigo recuperar em minha pesquisa interna, sobre relacionamentos que me envolvam com o sexo oposto.
Sendo assim, não sou a pessoa mais capacitada do mundo, para distinguir o que é estar apaixonado. Certa vez, ouvi de um filme a seguinte frase: o amor é como o vento, não posso ver, mais posso sentir. Aí eu pergunto: como você sente algo, e sabe o que é, se jamais o sentiu antes? A maior parte das pessoas acreditam, e ensinam que quando falamos de amor e paixão, nós estamos nos referindo à mesma coisa: gostar demais de alguém. Mas será que isso procede? Para mim, essa questão não passa de uma grande confusão. Como as pessoas têm tanta certeza, que o que a outra, a faz experimentar, é o que se classifica, amor? Já tive mulheres de todas as formas e jeitos, muitas, interessada em ter algo sério comigo, só que nunca me senti atraído o suficiente para querer. O mais próximo de um sentimento verdadeiro, quem despertou em mim, foi Ester. Ininterruptamente, sonhava em beijá-la, bem como, tocá-la. Quando observava suas atitudes, falas, e ações, uma sensação de fascínio dominava meu coração. Em silêncio, estimava ser o homem que a fizesse sorrir e suspirar. No momento em que atingi, alguns desses objetivos, incluindo o de transar com ela, vivenciei o gosto de identificar dentro de mim: plenitude, bem-estar, e alegria, emoções divergentes, das que já desfrutei com outras companheiras, levando-me a crer estar por fim, apaixonado.
Todavia, além de apavorado com a hipótese de trocar de personalidade, e converter-me em uma nova versão da minha mãe, existia o medo de estar errado. Talvez meu nervosismo, falta de tato e jeito, ao estar do lado de Ester, venha dessa junção. No período que durou minha viajem, por exemplo, busquei formas de abandonar meus ruídos internos, e por um segundo pensei controlar os pensamentos, mas ao retornar, e conhecer Cecília, muitas portas se abriram. Com elas, voltaram as minhas dúvidas. Porém, sentia-me forte, inclinado a tentar. O que não era o suficiente ainda, pois perambulava entre o caos.
Por essa razão, banquei o acovarde, desliguei o celular, me afastei do serviço, e fiz da minha cobertura, uma prisão particular. Mas, antes do sumiço enviei uma mensagem para Ester, valorizando-a, afinal, havia transado com ela, por isso, não queria transporta-lhe, um peso que não lhe pertencia.
Deitado no sofá, sofrendo por ser tão arrevesado, suspirei profundamente. Andava entediado. Se pudesse, me divorciaria de mim mesmo. Como um bom advogado, deveria desenvolver uma lei para isso. Só que o som da campainha redirecionou minhas ideias.
Suspirei, ao ver quem era pelo olho mágico.- O que faz aqui?
- Oi! Tudo bem? Como você está? - Sorriu dissimuladamente. - Estou bem, obrigada pela pergunta.
Arqueei as sobrancelhas, cruzando os braços.
- Entra! - Indiquei o interior do apartamento, com a cabeça.
- Quanta gentileza! - Debochou, ao passar por mim.
- Como anda seu retiro espiritual?
- Você veio até aqui, me perguntar isso? - Franzi a testa. - A intensão era eu ficar sozinho.
- Nem ligo. - Deu de ombros. - Como o senhor desapareceu, sua brilhante assistente, veio fazer um favor.- Qual?
Sua postura brincalhona, mudou.
- Fernanda entrou em trabalho de parto. A dilatação está entre 4 e 6 centímetro.
Meus olhos arregalaram, e meus músculos enrijeceram.
- O quê? Como assim? Pelo amor de Deus!
- Se acalma, homem! - Me agarrou pelos ombros, chacoalhando-me. - Sua sobrinha permanece bem. Mas o fato de você não atender o celular, dificultou o aviso do evento.
- Droga! - Resmunguei alto. - Me dá dois minutos, que a gente sai.
- A gente? - Perguntou surpresa.
- Não vem comigo?
- A missão era só te avisar. Vou voltar para o escritório.
- Eu sou seu chefe, e quero te ter comigo. - Avisei indo em direção ao meu quarto.
A ouvi resmungar, até eu sair arrumado.
- Vamos? - Estendi a mão para ela.
Cecília olhou fixamente para mim.
- É uma situação familiar. É melhor eu não ir.
- Eu quero que esteja comigo, esquentadinha. - A agarrei, entrelaçando nossos dedos. - É uma ordem!
Me beliscando, se resignou.
- Te odeio, Jhon Sanchez!
- O sentimento é mútuo, senhorita Valverde.
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APAIXONADO PELA MÃE
RomanceJhon Sanchez cresceu encarando o amor como algo perigoso. Devido á traumas de infância, ele nunca se permitiu amar plenamente outra pessoa. Com medo de ter herdado as obsessões da mãe, sempre preferiu fugir de qualquer sentimento que seu coração pud...