Atitude

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JHON SANCHEZ


As luzes externas do escritório estavam apagadas desde que todos foram para casa, muito tempo antes. O restante do andar também estava em silêncio, exceto pelo barulho da impressora, e pelos passos furtivos da minha assistente, que insistia em deixar tudo pronto para o dia seguinte.

Atrás de mim, através da janela que ia do chão ao teto, a escuridão descia sobre a cidade. O ruído do trânsito havia se acalmado. O pensamento de uma noite nos bares não me animou. Na verdade, sentia o oposto. Verifiquei os últimos e-mails antes de desligar o laptop.

Observei, com cuidado, enquanto Cecília empilhava várias pastas, em ordem cronológica na prateleira.

- Ual, esquentadinha. Há quanto tempo está fazendo isso?
- O dia todo - Respondeu, admirando sua obra de artes. Colocando as mãos nos quadris, suspirou. - Fantástico, né?
Respirei fundo, impressionado.
- De verdade? Estávamos precisando dessa arrumação, há tempos. - Sorri satisfeito. - Vai ficar muito mais fácil e rápido encontrar os processos.
- Eu sou demais! - Deu de ombros, ironizando.
- Não vou comentar sobre, prefiro resguardar minha sanidade mental.
Estalou os dedos.
- Bom menino!
Chacoalhei a cabeça enquanto revirava os olhos.
- Quer uma carona?
- Não!
- Vou te levar mesmo assim. Vamos! - Inclinei a cabeça para o elevador.
- Porque você pergunta, se vai fazer o que quer?
Me aproximei dela, e sussurrei:
- Para te irritar, é claro.
Ela me retribuiu com uma careta.
- Eu não te suporto, Jhon Sanchez.
- O sentimento é mútuo, senhorita. - Agarrei sua mão, arrastando-a. - Agora, cala a boca e vamos de uma vez, está tarde.

No caminho para a casa da Cecília, passamos em um restaurante e peguei comida para viajem.
Chegando ao nosso destino, precisei me auto convidar para entrar e jantar com elas.
- Vai dispensar isso tudo. - Apontei para as marmitas no bando de trás. - Deve estar uma delícia.
- Não tem vergonha nessa cara, não é? - Arqueou as sobrancelhas. - Quem disse que eu te quero na minha residência?
Bufei, impaciênte.
- Dá para ser, ou tá difícil? As coisas vão esfriar. - Disse saindo do carro, e abrindo a porta do passageiro. Cecília desceu resmungando.

Quando abriu a porta, a mesma senhora que estava com Valentina da outra vez, brincava com ela no sofá. Ao nos ver, seus pequenos olhinhos brilharam, e um lindo sorriso abriu-se em seu rosto angelical. Feliz por ver a mãe, a menina correu em sua direção, estendendo os bracinhos para abraça-la.

- Estava com saudades mamãe.
- Eu também meu amor. - Abaixou-se para ficar na sua altura. - Se comportou bem hoje?
- Sim! Não é verdade dona Maria?
- É sim! A mocinha, não deu trabalho nenhum.
- Obrigada dona Maria.
- Sem problemas. - Disse, retirando-se.
Valentina se aproximou de mim, e puxou minha camisa.
- Oi!
- Oi! Princesa.
- O que é tudo isso?
- Valentina! - Chamou a atenção. - Isso são modos?
- Sim! Quero saber o que tem dentro.
Ri involuntariamente.
- Ela é igualzinha a você. - ponderei em voz alta.
Cecília me deu um, tapa.

Sentamos juntos, e em meio a conversas aleatórias, comemos. Em seguida, Valentina decidiu querer ver um filme, nós aceitamos, e no final, rimos horrores com Madagascar.

- Eu gosto de você, tio! - Sussurrou no meu ouvido, para que a mãe não ouvisse.
- Vou te contar um segredo. - Abaixei a cabeça, alinhando nossas testas. - Eu também gosto de você. Mais, do que da sua mãe.
Cecília se inclinou, abandonando o encosto do sofá.
- Eu estou ouvindo vocês dois, sabiam? - Semicerrou os olhos.
Valentina riu baixinho, pulando no meu colo.
- Vamos brincar?
- Nada de brincar. Está muito tarde. - Pegou a menina, e a colocou no chão. - Corre, e vai colocar seu pijama. Já vou lá te colocar para dormir.
- O moço bonito pode ir também? - Perguntou, animada.
- Não.
Sorri encantado com a garota.
- Prometo que eu te coloco para dormir, outro dia. Quando a chata da sua mãe, estiver de bom humor.
Fui fuzilado.
- Para quem tem uma cobertura na melhor parte da cidade, o senhor está fazendo muita hora extra por aqui.
Gargalhei.
- Me expulsando? Ok! - Levante os braços para cima, resignado. - Vou embora, mas antes quero trocar uma palavrinha com você.
- Filha, vai fazer o que mandei por favor.
Valentina concordou, mas antes, veio até mim, pediu para me abaixar, segurou meu rosto com suas pequenas mãozinhas, e me deu um beijo no rosto.
- Boa noite moço.

APAIXONADO PELA MÃEOnde histórias criam vida. Descubra agora