Pelo mesmo caminho

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CECÍLIA VALVERDE

Sacudi o guarda-chuva, do lado de dentro, e o coloquei no cantinho perto da porta. Estendi a mão para ver se meu cabelo não havia umedecido. Após percorrer todos os cantos da pequena cidade em que estava, em baixo de um temporal atrás de emprego, peguei um ônibus lotado, com cheios diversos. Apertei os olhos, para ver se conseguia me esquecer do momento. Retirei a capa de chuva dos ombros, colocando a peça em uma cadeira, certificando-me de tirar os sapatos também. Em seguida, chamei por Valentina.

- A heroína retorna. - Dizia a voz de Jhon. Contudo, não era ele que estava em pé na minha frente.
- Quem é você? - Perguntei para o homem carrancudo.
Só que mais uma vez, quem me respondeu foi o celular, que estava no viva-voz.
- Ele trabalha para mim.
- E que diabos ele faz dentro da minha casa, com a minha filha?
- Aparentemente, cuidando dela. Já que saiu e a deixou sozinha.
Endireitei a postura.
- A vizinha estava de olho nela o tempo todo. Não sou uma irresponsável.
- É sim!
- O quê? - Aumentei o tom da voz, irritada. - Quem você pensa que é para...
- Cala a boca! - Falou mais alto. - O Sérgio, que está na sua frente, já arrumou as coisas de vocês.
- Como?
- Eu disse para ficar quieta. Caso, não tenha ficado claro. - Continuou de modo firme. - Se troque. Ele vai levar Valentina até minha sobrinha, e as coisas de vocês, para minha casa. E você, vem comigo.
- Com você?
- Se abrir a porta, sim!
Meus olhos se arregalaram, um frio na espinha se espalhou pelo corpo todo.
Ao abrir a porta atrás de mim, surgiu um Jhon trajado com calças de alfaiataria, Marrom Khaki, bem como, camiseta e tênis, preto. Os cabelos estavam úmidos, e a expressão ofegante.
Nunca o vi tão lindo.
O encarei, deixando que entrasse.
- Você veio!
- Eu vim.
- Está chovendo. Muito!
Ele sorriu.
- Sim, esta chovendo, muito!
- Você odeia chuva e tempestade.
- Odeio.
Não conseguia desviar meus olhos dos dele.
- Eu não entendo.
- Então, vai se troca e venha comigo. Sem fazer perguntas. Por favor. - Implorou, juntando as mãos.
Semicerrei os olhos.
- Mas...
- Agora!

Resmungando, sai para fazer o que ele disse.

No quarto, desabei. Jhon Sanchez havia vindo atrás de mim.
Será que já tinha lido minha carta? Estaria com Ester? Porque estava ali?

Meu coração, acelerou só de pensar nas possibilidades. Não conseguia raciocinar direito. Então, demorou um certo tempo, para que eu pudesse notar uma caixa em cima da minha cama.
Fui até ela lentamente. Ao abri-la, vejo um vestido de ponto suíço, com renda. A manga de borboleta dava um ar delicado para a peça, assim como a bainha com babado. A cor: vermelho. Do lado havia um pequeno bilhete.

" É inevitável, vermelho é a sua cor."

Sorri sozinha ao me lembrar da referência. E dos momentos vividos no passado.

Mesmo após colocar o vestido, por o sapato de salto que o acompanhava, passar um batom, e pentear os cabelos, não sabia se deveria ir com ele ou não. Entretanto, eu queria ir. Morria de curiosidade para saber o que de fato, o trouxe até aqui, em um dia tempestuoso.

Quando entrei no campo de visão de Jhon Sanchez, ele sorriu.
Naquele momento, meu coração pareceu saltar do peito.

- Você está incrível.
- Obrigada! Pelo elogio, e pelo presente.
- Não foi nada.
Valentina estava no seu colo.
- O tio Jhon disse que tem uma surpresa para mim.
Franzi a testa.
- Tem?
- Tenho. E para você também

APAIXONADO PELA MÃEOnde histórias criam vida. Descubra agora