ESTER MOLINA
Ver Jhon Sanchez perder outra pessoa para a morte, me aniquilou por dentro. Também foi inevitável, não remoer as minhas próprias perdas. Ele a amava de verdade, e se recuperar dessa perda em questão, não seria fácil, levando em conta que, recém havia aceitado a morte do irmão, e da mãe. Seu coração ainda estava frágil demais.
A família ficou ao seu lado, embora, estivessem sofrendo também. Todos estavam muito mexidos, mesmo assim, deixaram o que sentiam, para dar-lhe o suporte necessário.
Durando os atendimentos, e a condenação direta do assassino, Jhon não esboçou nenhuma reação. Completamente inerte, se entregou ao seu desespero interno.
Contudo, quando olhava em seus olhos, por trás do choque, conseguia ver força, e um objetivo. Ele estava tentando reagir, mas não tinha forças.
Tentei ajudá-lo, mas não pude chegar no lugar onde se escondia. Sei que me ouvia, mas o medo o bloqueava.
Olhando de fora, agora, depois de tudo que aconteceu entre nós, compreendo melhor o porquê da nossa grande conexão. Éramos parecidos no modo de sentir, agir, receber, bem como, de se anular em frente a dor. Eu conseguia vivenciar em mim, o que se passe nele. Acredito cegamente, que o contrário, é reciproco. Por isso acabamos nos confundimos. Por isso apreciávamos tanto, a companhia um do outro.
Por um segundo, quando me sentei ao seu lado, na sala de espera do hospital, e segurei sua mão, uma eletricidade transpassou o meu corpo, quando a apertou de volta. Seu gesto queria me dizer algo, e de alguma forma, eu sabia o que. Jhon Sanchez estava travando uma luta interna. Era se aquele menininho de 6 anos, vulnerável, que sofreu abuso, maus tratos, e frustrações, brigasse a tapas contra o homem de 29, que aprendeu a amar, a cuidar dos seus, a se reerguer, e a se curar.
- Acha que ele supera essa? - Ouvi uma voz, perguntar.
- Tenho certeza que sim, Matheus.Meu filho me encarou surpreso pela confiança no me tom. Seus cílios debateram, e uma lagrima rolou pelo seu rosto.
- Espero que tenha razão.
Pousei a mão sobre seu rosto.
- Vai ficar tudo bem.
(...)O cemitério, a nossa volta, estava composto somente pela família.
Jhon estava com os ombros caídos, o semblante apagado, o terno preto, bagunçado, os cabelos desgrenhados, e a barba por fazer. Ele chorava muito sob o caixão fechado, deixando seus olhos inchados, enquanto sussurrava palavras de carinho. Depois, todos jogamos flores sobre à terra, que agora, cobria aquela mulher tão encantadora.
- Ele estava tão feliz. Tudo o que aconteceu, foi tão injusto. - Soluçava, Fernanda.
- Foi um sacrifício por amor. - Disse Eduardo, ao abraçar a filha.
Lia, devastada se juntou a eles. Agarrei o braço do meu namorado, enquanto Matheus fazia o mesmo com a esposa.Estávamos sofrendo por toda a situação, e apoiar um ao outro, é o que fazíamos de melhor. Queríamos embalar Jhon nos nossos braços e fazer o mesmo por ele, mas sabíamos que precisava de espaço. Só Deus, entenderia o quanto gostaria de vê-lo feliz. Morreria sendo grata, por tê-lo na minha vida. Após anos, ele me fez sentir sensações e emoções que me fez querer viver novamente. Não só como mulher, mas também como ser humano. Enfim era completa novamente, e me encantaria que ele também fosse.
Entretanto, a vida lhe deu uma grande rasteira, justamente quanto estava no topo dela.
- Precisamos estar prontos para quando ele desabar de verdade. - Ponderou, Eduardo.
- Já estamos prontos, amor. - Lia o acariciou no braço.De repente o motorista chegou. E a pessoa que saltou de dentro do carro, trouxe luz para o lugar imediatamente. Nós nos entreolhamos confiantes. A dose de endorfina que Jhon precisava tinha acabado de chegar.
JHON SANCHEZ
Vê-la morrer em meus braços, e ficar com seu sangue espalhado pelo meu corpo, me fez entrar em choque.
Muitas pessoas falavam comigo, mas não conseguia me concentrar em ninguém. Eu poderia estar sendo egoísta, mas perde-la daquele jeito, foi demais para mim. Aceitar tal fato, estava sendo mortificante. Não conseguia parar de pensar em como tudo aconteceu. Eu revivia a mesma cena uma e outra vez. Ao fechar os olhos o rosto dela, perdendo a vida, não saia das minhas lembranças. Meu peito doía. Sentia que poderia explodir a qualquer momento. A última vez que me vi tão perturbado foi quando presenciei a tortura que minha mãe fez meu pai passar, e logo depois sua própria morte. Claro que, a perda do Lucas também se tornou um gatilho.
Tentava falar, me mexer, mas não conseguia. Era como se algo invisível me impedisse.
Sabia que ainda precisam de mim são, só que minha cabeça e o meu coração, não atendiam os meus comandos.Ferit deveria estar preso, mas ele deu um jeito. Maldito sistema, e maldito seja eu, por não ter me atentado melhor ao caso. Nunca me perdoaria.
Consegui conquistar tudo que queria, e em um segundo depois, já não tinha mais nada.
Passei horas em silêncio, só existindo.
Quando Ester segurou firme minha mão, tentei reunir forças para passar um sinal. Queria que soubesse que lá, no fundo, estava me empenhando.(...)
O velório em si, foi difícil, mas o enterro, foi minha morte.
Não poderia nunca me despedir dela. Porque, teve que se sacrificar?
Minha vontade era de não sair do lado do seu túmulo. Me ajoelhei ali e comecei a recordar tudo que havíamos vivido.Recebi muitos abraços, bem como, palavras de apoio, e estava grato. No entanto, nada mudava dentro de mim.
Ler seu nome na lápide, me fazia querer gritar.
- Papai... - Valentina me chamou chorosa. - Levei um susto ao ouvi-la. Desde o acidente, eu não a via. Ela segurou minha mão, e foi nesse momento, que sai do meu transe. - Vou sentir muita falta dela.
- Eu também, princesa. - Confessei, ao nivelar nossos olhares. Ainda estava confuso.
- Nunca mais vou vê-la?
engoli em seco, tentando me realinhar.
- Quando dormir, tenho certeza, que estará em seus sonhos. E seja lá onde ela more agora, vai cuidar e proteger você.
- Tem certeza? - Tentou secar as lágrimas com a mãozinha.
Chorei sem vergonha nenhuma.
- Tenho sim. Ela nunca iria nos abandonar.Valentina sorriu, e olhou para o céu. Com uma fé genuína bandou um beijo para além das nuvens, e prometeu, com voz baixa, que se comportaria e cuidaria de mim. Meu coração naquele momento, voltou a bater. Recuperei o juízo, e a vontade de seguir em frente.
- Ela escolheu se jogar na frente, para me dar mais uma chance. - Sussurrei para mim mesmo.
Apesar da dor imensa, me sentia grado, afinal. Por isso, faria jus ao seu sacrifício.
O amor, pode sim, te levar ao lado mais sombrio da vida. Mas também pode te apresentar a luz. Essa lição, jamais esqueceria.
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APAIXONADO PELA MÃE
RomansaJhon Sanchez cresceu encarando o amor como algo perigoso. Devido á traumas de infância, ele nunca se permitiu amar plenamente outra pessoa. Com medo de ter herdado as obsessões da mãe, sempre preferiu fugir de qualquer sentimento que seu coração pud...