JHONA chuva não cessava. Por duas semanas seguidas, parecia que o céu estava descarregando de uma só vez toda sua tensão. Eu não poderia odiar mais, viver em dias assim.
Porém, as ruas continuavam movimentadas, sempre com um amontoado de pessoas com suas sombrinhas, galochas e capas, passando de um lado para o outro. Até dava a impressão de que em vez de ficar em casa, era aí que o povo saía. O número de carros devido ao mau tempo, por exemplo, aumentou consideravelmente, também.
Minha cabeça andava a mil. As engrenagens dos meus pensamentos trabalhavam o dobro quando isso acontecia, deixando-me distraído ao que exterior oferecia. Acho que foi por isso, que não percebi uma grande posa de água na rua, bem como, a presença de uma moça que estava na calçada. Ao passar próximo ao meio fio, eu acabei molhando-a por completo.
Antes mesmo de sair do carro, para me desculpar, pude ouvir vários xingamentos. Bem diferente de mim, que só tinha alguns pingos de água sobre o paletó, a mulher á minha frente estava encharcada.
- Me perdoa! - apressei-me, em dizer.
- Você está de brincadeira? - abriu os braços, dando-me uma visão geral do caos. - Estou completamente molhada. - esbravejou, ao me encarar. - O senhor é cego, ou só um infeliz com prazer em se mostrar?
Semicerrei os olhos, e coloquei as mãos na cintura.
- O que disse?
- É surdo também? - questionou, ao mesmo tempo que tentava, inutilmente arrumar sua roupa.
- Eu escutei a senhorita. - Elevei um pouco a voz. - Mas, acredito que o fato de eu descer do meu carro e pedir perdão, signifique que não fiz de propósito.
Ela nem sequer olhou para minha cara.
- Deveria prestar mais atenção. Para que ter um carro desses - Apontou para o meu Drako GTE vermelho. - Se não sabe dirigir de verdade?
- Está dizendo que não sei dirigir? - Arqueei as sobrancelhas.
- Ah! faça o favor, e não finja estar ofendido. - Me olhou dos pés a cabeça. - A que se deu mal aqui, fui eu.
Engoli a raiva no seco, porque de certa forma, ela tinha razão.
- Tudo bem! Posso te dar dinheiro para comprar roupas novas. - disse, já abrindo a carteira.
- Sabe o que poderia fazer com esse dinheiro? - Buscou pelos meus olhos, e ao encontrá-los o sustentou, na base do ódio. - Enfiar no ....
- Ok! Entendi.
- Pelo menos burro, o senhor não é. - Disparou, ao me dar as costas e sair andando.
- Você não pode ... Minha voz morreu assim que ela se virou.
Sem dizer uma única palavra, sorriu e apontou o dedo do meio para mim, e se foi.
Entrei bufando dentro do meu carro, mal estacionado.
O dia que já havia amanhecido ruim, tinha acabado de piorar.
Entretanto, essa seria apenas a ponta do iceberg.(...)
Assim que cheguei no escritório, percebi uma fila de mulheres bem vestidas, e aparentemente bem preparadas. Para variar, eu havia esquecido completamente que hoje, eu faria entrevistas com possíveis candidatas para o cargo de minha assistente pessoal. Já que a anterior, casou e iria embora.
Sem paciência passei correndo pelo corredor, e não demorei muito com elas. Olhei os currículos. Verifiquei a desenvoltura, bem como, o fato de se eu poderia me dar bem com alguma delas, ou não, pois passaria grande parte do tempo grudada á tal pessoa.
Contudo, nenhuma me pareceu satisfatória.Durante 3 horas seguidas, falei com mais de 20 seres humanos diferentes, e já não aguentava mais. Sendo assim, dei as entrevistas como encerradas.
Cansado, joguei meu corpo sobre a cadeira, olhando diretamente para o teto.
Às vezes eu só queria poder fugir de mim, e outras, desejava me trancar comigo mesmo em um lugar isolado, para ter paz. O que não aconteceria naquele dia, com certeza.
Vozes alteradas vindas de fora do meu escritório, me alarmaram.
Ajeitei o paletó, e fui ver do que se tratava.Sobre o ombro de Anne, vi a silhueta de uma mulher, muito brava.
Dei um passo para a direita, a fim de ver quem era.
Um sorriso malicioso se formou nos meus lábios.- O que faz aqui?
Ao reconhecer minha voz, se sobressaltou.
- O que você, faz aqui?
- Sou um dos donos. - Respondi, de forma sínica.
Ela revirou os olhos.
- Não me diga que você é Jhon Sanchez.
Coloquei as mãos nos bolsos, e me inclinei.
- Pois eu diria, sim.
- Que porr...
- Olha a boca, senhorita. - Reprovei de imediato, aumentando sua fúria.
- Que seja. - Deu de ombros. - Vou embora.
- Espere! - Pedi bruscamente - Estava gritando até esse momento. Posso saber porquê? - Franzi a testa.
Rapidamente, escondeu uma pasta preta atrás de si.
- Não é nada.
Meu sorriso se alargou.
- Mentirosa! Você veio pela vaga. Mas chegou tarde.
- É que um IDIOTA, me molhou completamente a caminho daqui, e tive que parar para tentar me secar. - cuspiu na minha cara, com uma expressão de deboche.
Mordi o lábio inferior.
- Entre, quero entrevistá-la.
- Eu não quero mais.
- Não precisa do trabalho? - A desafiei com o olhar.
- Sim! - Sussurrou.
- Não ouvi.- Fiz uma concha com a mão, fingindo não escutar. - Poderia dizer mais alto?
- Eu preciso do trabalho. - Bufou, contrariada.
- Ótimo, então entre - A direcionei para minha sala. Mas ela ficou parada.
- Não!
- Tudo bem. - Respirei fundo. - Esta contratada e começa amanhã.
O olhar que me lançou foi de incrédulo, á confuso.
- Que?
- Espero que não tenha problemas de audição. É bem útil para função.
Ela veio com tudo na minha direção.
- Ouça aqui! - apontou o dedo para mim. - Não preciso de caridade. Você nem olhou meu currículo.
- Santo Deus mulher! - Exclamei, afoito. - Já disse, esta contratada. Ok? Agora se vira com a recepcionista.
Sem paciência, bati a porta do escritório, me trancando lá dentro.Desde pequeno, sabia que não batia bem da cabeça. E em dias como esses, a certeza que não teria mais remédio, só aumentava. Eu tinha acabado de contratar uma mulher para ser minha assistente, simplesmente porque a achei irritante.
Talvez era isso que me faltava, alguém com quem pudesse extravasar. Assim, não teria tempo para pensar em besteira. Como, por exemplo: na paixão.
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APAIXONADO PELA MÃE
RomanceJhon Sanchez cresceu encarando o amor como algo perigoso. Devido á traumas de infância, ele nunca se permitiu amar plenamente outra pessoa. Com medo de ter herdado as obsessões da mãe, sempre preferiu fugir de qualquer sentimento que seu coração pud...