Impulso

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JHON SANCHEZ

Já era muito tarde. O céu estava totalmente escuro, sem sinal de estrelas. Nem mesmo a lua apareceu dessa vez. O clima denso só piorava o quadro. Em cima da mesa havia vários papéis espalhados, e ao meu lado, Cecília se concentrava em arquivar o que já estava pronto.

Não tinha mais ninguém no escritório, o que me fez entender, que nós também não deveríamos estar.

- Acho que por hoje, chega de trabalho. - Disse, ao encará-la.
Cecília colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- Que horas são?
- 22:00 - Respondi, surpreso.
- É tarde mesmo. - analisou, afoita. - Posso levar e terminar em casa.
Sem nem ao menos esperar pela minha concordância, começou a juntar algumas folhas, e a colocá-las em uma pasta.
Resolvi ignorar o fato.

- Posso te levar para casa, se quiser. - ofereci.
- Não precisa, eu pego um ônibus.
Franzi a testa, me levantando junto com ela.
- Já é tarde, e pode ser perigoso.
- Estou acostumada, não se preocupe.
Segurei seu braço, quando começou a seguir rumo á porta.
- Eu a fiz ficar até tarde. Não é o seu horário. Por isso, faço questão de levá-la.
Seus olhos buscaram os meus.
- Você não está acostumado a ouvir não, não é?
Forcei um sorriso.
- É aí que se engana. Já ouvi bastante. - sussurrei.
Ela pareceu ouvir.
- É verdade o que dizem sobre sua mãe? - perguntou, sem rodeios.
Respirei fundo e acendi.
- Sim! Ela era um monstro.
- Sinto muito.
Sorri para mim mesmo.
- Minha história te comoveu a ponto de me deixar te levar?
Cecília semicerrou os olhos.
- Você é terrível, sabia?
Não segurei o riso.
- É um sim? Por que se não for, aviso que vou seguir você até o ponto de ônibus, ficar esperando, e então seguirei o ônibus também.
- Além de tudo, é louco. - Esbravejou. - Não quero que me leve.
- É só uma carona, mulher. Qual o problema?
- VOCÊ - gritou, ao sair da sala.
Fui atrás dela, mas a garota era rápida, e logo sumiu de vista.
Resignado, voltei para minha sala. Terminei de arrumar as coisas, e fui direto para minha cobertura.

Com Matheus e Fernanda casados, percebi que não tinha amigos para sair e me divertir. Pensei em ligar para Vinícius Belmonte, amigo do meu irmão, mas não tinha muito papo com ele, na verdade, nossa amizade era mais por causa do Matheus. Nem minha irmã e meu pai estavam por aqui, já que haviam viajado em lua de mel, de novo.

Definitivamente, deveria ter ficado trabalhando.

Sem alternativas, tomei um banho e deitei. Ao fechar os olhos, o rosto de Ester se fez presente.
O gosto do seu beijo ainda estava sob meus lábios, bem como, a sensação da sua pele na minha.

" MALDIÇÃO"

Rapidamente me levantei. Busquei por um espelho e me encarei.
Eu era Jhon Sanchez, filho de Suzana Cooper e José Alfredo Molina, dois seres malditos.
Não poderia seguir sentindo nada.

- Você não sente! Não sente - repetia para mim mesmo.

Às vezes, eu conseguia entender porque o Lucas fez o que fez. Pensei em fazer o mesmo, mas nunca tive coragem. Nem isso eu tinha.

A qualquer momento iria explodir.
Só lamentava pela pessoa que recolheria os pedaços, pois seriam muitos.

(...)

O sol forçou sua entrada pela fresta da cortina.
A luz, batendo nos meus olhos me fez acordar. Fiquei um tempo fitando um ponto nulo no teto, antes de me arrumar e sair.

APAIXONADO PELA MÃEOnde histórias criam vida. Descubra agora