APAIXONADO PELA MÃE

Pequenas ações

ESTER MOLINA

Quando se conhece bem uma pessoa, fica fácil saber agrada-la.

O ato gentil da noite passada, me motivou a fazer o mesmo. Jhon costumava sair bem cedo, para tomar café no starbucks, que ficava ao lado do escritório Sanchez. Ele tinha mania de algumas vezes na semana, chegar primeiro que os funcionários. Sabendo de antemão desse fato, me antecipei e fiquei esperando-o. Quando sua figura máscula, e enigmática cruzou a porta, seus olhos imediatamente caíram sobre mim. Um sorriso travesso surgiu em seus lábios, e eu me vi retribuindo o gesto.

- O que está fazendo aqui? - Perguntou, sentando-se á minha frente.
- Ainda gosta do Flat White?
- É simplesmente o melhor café daqui. - Sorriu - Esse é para mim? - Apontou para o copo sobre a mesa.
- Todo seu! - Garanti, animada.
Vi o exato momento, em que percebeu que havia uma mensagem escrita nele.

" Sou muito grata por ter você na minha vida. Minha caminhada se tornou muito mais especial, porque te tenho ao meu lado!"

Seus olhos buscaram pelos meus, e quando os encontraram ficaram fixos neles.

- Me sinto do mesmo jeito. - Sussurrou só para eu ouvir. - Não precisava disso. Mas, obrigado.
- Não seja por isso! Você também não precisava me mandar flores, então estamos quites.

Conversar com alguém que te deixa confortável, recarrega suas energias. As palavras fluem, e tudo se encaixa.

Ao consultar o relógio, porém, notei que não havia passado tempo suficiente para sentir que estava em outro mundo, embora não estivesse. Será que sempre foi assim?

- Quer ir comigo para o escritório? - Convidou, empolgado, afastando meus devaneios.
- Não vou atrapalhar?
- De jeito nenhum. Além disso, não tem ninguém lá agora. - Esfregou uma mão na outra. - Quero te dar uma coisa. - Me encarou - Comprei para o dia do desfile, mas quero que seja seu, hoje.
Semicerrei os olhos.
- Um presente? Sério? - Soltei uma risadinha involuntária. - Vim aqui e te dei um café como agrado, para compensar o buque de rosas, e você me vem com outra surpresa?
Se inclinou sobre a mesa, e pegou na minha mão.
- Você merece o melhor, sempre.

Uma voz na minha cabeça dizia para não ir. Contudo, deixei que me guiasse até sua sala.
De repente, Jhon estava rodeando sua mesa, e em seguida murmurava algo inaudível.

- Está tudo bem?
- Sim! É... - Sua expressão mudou, e sua voz morreu por um segundo. - Seu presente está aqui. - Abriu uma gaveta, tirou uma caixinha aveludada, e estendeu para mim.

Meu presente consistia-se em um colar de ouro, com um pingente de medalhão, todo trabalhado. Ao abri-lo, me deparei com a foto dos meus filhos, um de cada lado.

Pensei em abraça-lo como forma de expressar minha alegria, mas senti uma certa relutância da sua parte. Então, decidi agradecer de longe mesmo.

- O colar é magnifico. - Sorri de modo sincero. - Não tenho palavras para dizer o quanto gostei.
- Fico feliz. - Respondeu seco.
- Bom, obrigada mais uma vez.
- Quero que use no dia do desfile, se possível.
- Pode deixar. - Me debrucei sobre a mesa, e lhe deu um beijo na bochecha, antes de ir embora.
Sai daquele edifício, me sentindo valorizada. O que, não era comum.

Em determinadas fases da vida nós infelizmente nos deixamos levar pelo cansaço de rotinas exaustivas e passamos a agir no automático. Nós nos convencemos de que não merecemos nada além de respirar. Passamos a não acreditar na nossa capacidade, e começamos a nos auto sabotar. Eu infelizmente passei anos vivendo esse dilema. Todavia, hoje me sentia diferente.