Nitrick - um encontro ao acaso

Crise

NINA
Me tornar mãe foi a minha maior realização na vida. Olhar pro meu colo e ver essa pessoinha com a boca no meu peito, tirando de mim o sustento pra viver... cara. Eu que fiz essa coisinha linda dentro de mim. Não dá pra acreditar. Juro. Eu me pego olhando ele assim sempre.
O primeiro chorinho dele nunca vai sair da minha memória. A gente chegando em casa. Nossas descobertas... o olho dele quando se conecta com o meu na hora que ele vai mamar. É um pertencimento imenso. Nada nunca vai me deixar tão completa como o fato de ser a mãe do Noah.
É lindo.
É mágico
É.
Muito.
Essa é a parte boa é linda.

Agora corta pra parte q não está exposta nos livros de contos de fadas e nem nas vida perfeitas de Instagram.

Dói amamentar? Pra caralho.
Meu corpo mudou e eu tô parecendo uma vaca leiteira? Sim.
Meu cabelo tá horrível.
Eu tenho olheiras maiores que as de uma família inteira de pandas.
Não consigo fazer a unha.
Não consigo ir ao banheiro em paz.
Hormônios alterados? Nem falo dessa parte.
Aí junta com casa a responsabilidade de ter a minha casa.
Aí junta com o terror de "faça um filho e tenha duas crianças pra criar: ele e o idiota do pai dele."

Caraaaaalho. Aaaarg.
Meu humor nunca foi dos melhores, não posso negar. Mas agora com todas essas mudanças eu tô milhões de vezes pior.

Abri os olhos as 04:00 da manhã de um dia daqueles.
Saltos de desenvolvimento. Algumas mudanças que o bebê passa em períodos determinados que fazem eles se readaptarem a algumas coisas. Nesses dias eles dormem menos, choram um pouquinho mais... tem q ter muita paciência. Muuuuita. Dar mais carinho, mais atenção.
Ou seja. Se ter um bebê de 3 meses já me pede dedicação total, essa semana o Noah tá de parabéns.
Eu nem lembro o dia que lavei o cabelo. Juro.

Parece q tem prego no berço dele. Ele não dorme lá por naaaada.
O cercadinho q ja estava desmontado e a gente so usava pra sair, voltou a ativa e tá colado na minha cama.
O Noah dorme do quarto dele desde sempre e eu monitoro pela baba eletrônica, mas essa já é a terceira noite q ele só dorme um pouquinho se for aqui do nosso lado.

Sentei cama com o cabelo todo bagunçado, olhando pro nada e juntando forças pra pegar ele mais uma vez no colo.
Ele chorava fraquinho, mas sem parar.
N: caaaaalma, mamãe. Eu já tô pegando você. Espera.

Botei ele no colo e fui conferir o q estava incomodando tanto.
Não era nada. Talvez uma cólica ou algo do tipo. Mas ele não se acalmava
Fiquei de pé tentando embalar ele.
Apertei seu corpinho no Meu e andei pelo quarto falando baixinho no ouvido dele.

N: calma, meu amor. Xiiiiiiiiii. A mamãe tá aqui com vc. Não chora. Xiiiiiiiiiiiiii

Depois de um tempinho ele se acalmou e voltou a dormir. Sentei na poltrona e aninhei ele no meu colo, encostando a cabeça e descansando um pouco.

Voltamos pra cama e dessa vez resolvi deixar ele comigo. Pertinho de mim tentando estender um pouco mais o tempo de descanso.

Adormecemos.
O dia amanheceu.
Eram pouco mais de 6:30 quando ele resmungou. Agora é fome.
Me sentei na cama, usei um travesseiro como apoio e iniciamos a mamada.

Eu passava os dedos nos seus cabelinhos e na sua testa. Ele abria os olhinhos com preguiça e logo fechava novamente.
Mamou. Arrotou. Trocamos frauda. E pronto!
Acordado, disposto. Sorridente. Pronto pra correr a prova dos 100m com o dindo dele se fosse preciso.
E eu? Morta.
Respirei fundo, coloquei ele no cercadinho brincando com móbile e fui ao banheiro. Coisas básicas como fazer xixi, escovar os dentes e pentear os cabelos. Tudo cronometrado antes q ele sentisse a minha falta. Eu tava saindo do banheiro qnd meu excelentíssimo namorado entrou.
Com cara de poucos amigos.
N: nooooossa. Bom dia pra vc tbm.
P: bom dia, amor. Tô morto.

Fiquei parada sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.

O patrick me ajuda sempre com o Noah. Mas essa noite foi foda e a única coisa q ele fez foi dormir. Aí a primeira coisa q ele fala é "tô morto"??? Como assim? Morto de que?

Respirei fundo, peguei o
Noah e desci.
Coloquei ele no bebê conforto e liguei uma musiquinha na sala. Fui pra cozinha procurar alguma coisa pra comer.

P: caralho, foi foda essa noite, né? O Noah acordou o q? De hora em hora?
N: que? Vc nem se mexeu, patrick
P: eu tava vendo Tudo. Se vc precisasse eu tava alerta pra te ajudar.
N: cara. Cala a boca, patrick.
P: sério q vc acha q eu nao acordei?
N: sério q eu acho que vc passou a noite toda deitado. Eu levantei de hora em hora pra trocar, alimentar e ninar ele. Sou eu que tô morta. Cala a boca.

Peguei um sanduíche e um copo de suco e fui pra sala. Ver mais uma vez os clipes da rádio bita.

PATRICK
A nina tá puta hoje. Caralho eu sei q eu não levantei. Mas eu tava ali com ela. Era so ela ter chamado. Eu não consegui dormir tbm. Tenho mil coisas hoje pela manhã e tô um caco. Eu sei q a mãe sofre um pouco mais porque dar o peito é uma coisa que eu não posso fazer, por exemplo, mas o pai também cansa.
Tá muito menos. Mas cansa.

Fiz um sanduíche tbm. Comi.
Subi pra tomar banho. Me arrumei. E desci.

P: to indo, tá? A gente se fala durante o dia. Qlq coisa me liga. E precisar grita.
N: já posso gritar de agora se vc preferir.
P: kkkkkkkkkk tá. Vou nessa.
Me aproximei e dei um selinho dela. Dei um beijo no noah e fui.

Passei na casa da jade e peguei o PA. Seguimos pros nossos compromissos. Não voltei pra almoçar. Mandei mensagem pra nina as 10:00 e ela so visualizou.
As 13:00.
13:10. 15:00.

Eram quase 4 da tarde qnd eu liguei pra ela.

N: oi.
P: não me respondeu o dia todo. Que foi?
N: nem peguei o celular.
P: mas vc visualizou
N: esqueci de responder. Respondi mentalmente e esqueci.
P: kd o Noah?
N: por obra de Deus tá dormindo ha quase 1 hora e 40 minutos.
P: ta. Eu chego em 1 hora no máximo.
N: tá bom.

Ela desligou. Estranha e fria. Deve tá cansada.

NINA
O patrick saiu e a gente ficou como dois zumbis. Uma mamãe zumbi e um baby zumbi.
O dia se resumiu em cochilos rápidos, mamadas, trocas de frauda... chorinhos, abusos, dengo.
Eu estava esgotada.
Só consegui tomar um banho quase 3 da tarde quando ele dormiu mais pesado.
Puxei o cercadinho pra porta do banheiro e tomei banho velando o sono dele.

Patrick chegou quase as 19:00.
P: amor? Cheguei. Trouxe comida pra gente.
N: graaacas a Deus. Segura ele aqui q eu tô apertada pra fazer xixi.
P: vem ca, filho. Vc se comportou bem hoje? Hum? Cuidou direitinho da mamãe?

Voltei do banheiro e passei direto pra cozinha.
Olhei pra eles e o Noah ria e se divertia com o pai. Inacreditável. Pra mim só tem choro e birra. Pro pai tem sorrisos e dengo.
Ele já tava alimentado e vestidinho pra dormir.
Patrick veio pra cozinha com ele, apoiou o bebê conforto na mesa e sentou pra gente jantar.
Eu tava abrindo as embalagens das saladas que ele nos trouxe.
Peguei os pratos e talheres. Derrubei uma porra de um prato. Espalhou vidro por todos os lados.

N: aaaaaarg que ódio. Puta que partiu.

Sentei na cadeira e chorei de raiva.

N: aaaai. Ainda cortei a porra do pé.
P: vem cá, senta. Não foi nada. Calma. Deixa eu te ajudar aqui.
N: afff ajuda mesmo. Por favor. Pelo menos dessa vez. Pq eu não sou um robô. Eu não consigo fazer tudo sozinha.
P: nossa. Calma aê. Foi só um prato.
N: não foi só um prato. É tuuuudo. eu não aguento maaaaaais. Aí que ooodio.

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... continua