Capítulo 57 - Não estamos condenados!

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A prova consistia em atravessar por pilares altos e desfiladeiros, com vários guinchos carregados com uma bola de ferro que tentava atingir. No caminho, outros tentariam impedi-la. Passando um por um, foi capaz de usar sua dobra para avançar sem ter risco de cair no chão. Nenhum deles foi capaz de impedi-la.

— Amaldiçoada! É esse poder negro que a conduz.

— Demônio. Culpa sua eu perdi minha irmã!

— Ela nem devia estar aqui no quartel. Só irá afundar todos na escuridão.

Diziam os Lins, sentindo-se injustiçados pela sua grande habilidade. A maneira como ela conduziu seu caminho até a vitória parecia trapaça para eles.

No intervalo, mesas redondas faziam parte do banquete dos cadetes para a celebração, junto com suas cores douradas e mobílias ornamentares com a madeira sagrada das florestas ocas Seguindo o desejo de Preha, estava prestes a se tornar uma Guerreira para defender as muralhas.

Ela estava sozinha na mesa, degustado após uma série de exercícios difíceis, comendo um ensopado em sua tigela, quando três apareceram à sua frente. Um deles, alto e com um olhar sínico, puxou suas mãos e deu um soco na mesa.

— Você não devia estar aqui, nosso mundo está sucumbindo e é tudo culpa sua, culpa do seu sangue amaldiçoado — exclamou Krahas.

Ehara segurou ele, uma jovem Lins, descendentes de alguns lordes que ousaram deixar seus filhos se aventureirem para os perigos dos Korkmas. — Não perca tempo com ela, meu Krahas. Deixe-a aqui sozinha, o lugar dela é este.

Elinor desviou seus olhos para outra direção, ignorou completamente suas palavras, já estava acostumada. Os três emburrados com sua expressão vazia seguiram para outra mesa e se sentaram. 

Então Lor sentou-se ao seu lado, encantado por suas habilidades na última prova. Suas penas eram brancas, o que chamava a atenção de outras fêmeas. Por sentar com ela, todos começaram a sussurrar, perguntando por que ele estava ali. 

— Ignore eles, sei do que és capaz. Duvido muito que sua tataravó seja responsável por esses monstros.

Elinor o encarou. Ele tinha olhos claros, diferentes de todos os outros. Mostrando ser um descendente primordial do império. Mais tarde descobriria que ele era realmente da realeza e seria seu maior erro.

— Para alguém nobre, não é estranho estar longe de sua muralha: A riqueza? — perguntou ela.

Ele sorriu com os olhos, soltou um grunhido com seu bico indo para baixo. — Aqueles nobres me cansam, enquanto o pessoal de Égide sofre com as invasões, eles ficam tranquilos lá.

— Mas me diga, chega de assuntos fúteis da nobreza. Eu li a história sobre sua tataravó. Não acha que trazer a relíquia que traz poder para nossos dobradores seria o motivo da tirania dos Deuses para o nosso povo?

Elinor deixou metade do seu ensopado na mesa e se levantou, ignorando sua afirmação. Estava cansada desse assunto, uma apatia sem fundo cresceu dentro de si, esse papo lhe cansava desde a sua infância, agora enfrentaria seus demônios ou nem ousaria mostrar sua face. Era sempre o mesmo assunto sobre seus descendentes e maldições.

A cada dia que passava, Lor incansavelmente buscava se aproximar cada vez mais dela, determinado a superar todos os obstáculos. Finalmente, o dia da formatura chegou, e com uma determinação inabalável, Lor e Elinor conseguiram passar, triunfando junto com Krahas, Elaha e os demais membros de sua turma.

— Acho que lá fora não é lugar para ricos e nobres. Conselho meu: desista disso e volte para a soberba de sua família — exclamou Elinor para Lor, que ajustava sua manopla até os ombros, lado a lado na formatura Lor a encarou e então sorriu.

Primeira missão de exploração. Elinor estava empolgada em matar as criaturas que assassinaram seus pais. No primeiro encontro, falaram que as pernas tremiam de tanto medo, que o pavor que transmitiam fazia o mais forte dos Lins correr. Talvez até criar asas e voar, diferente do planando de costume. Foi diferente para Elinor; ela somente os achou muito feios, porém essas lembranças estavam mais distantes, distante em cima da muralha poderia observar uma ou duas feras esgueirando pelas muralhas e os soldados insistente em proteger-nos.

Saíram com quinze Lins e somente oito voltaram junto com ela. Lor era um deles, estava ofegante, com todo o sangue espalhado por seu traje.

— Voltei, a dúvida sempre foi o maior inimigo dos bravos guerreiros — disse ele.

Elinor o encarou, com uma expressão de alegria escondida. — Nunca duvidei, você criou isso em sua cabeça. Somente disse que os ricos se escondem em suas casas, não que você se escondia.

Ele aquiesceu.

Guardaram suas lanças no estaleiro do Exército.

Muitas missões de exploração foram concluídas: Lins que foram resgatados fora das muralhas; caravanas que foram protegidas com alimentos exteriores. Elinor a cada dia se tornava mais notável, até que se tornou uma das Alvorazes, junto com Lor, Elaha e Krahas.

Uma reunião de comitê importante estava para acontecer naquela noite, reunindo todos os cinco Alvorazes. Eles eram considerados os dobradores mais fortes do império.

— Estou ansioso em relação à grande reunião — exclamou Lor, pendurou seu capacete junto com suas outras manoplas, vestiu sua camiseta amarela que estava ao lado.

— Que tal tomar um drinque esta noite para discutirmos sobre isso?

Elinor o ignorou. — Se aceitaste, poderei dizer o que se trata isso e tem a ver com sua família.

Quando ela se virou para ir embora, escutou palavras que atiçaram sua curiosidade.

— Uma papinha, e nada demais.

Chegando no local, o bar de Ani era próximo do quartel, com seu lámen específico de anfíbios natililonitos, era o mais conhecido de todos dentro da muralha de Égide, a terceira, onde o grupo de exploração fazia parte. Era um lugar predileto para se alojarem e descansarem depois de batalhas.

— Há tumulto no Norte — Lor tomou seu drinque lentamente, escorrendo por seu bico. Seus olhos piscaram de repente pelo amargor do álcool. — Rumores se espalham, as criaturas estão se agrupando e vindo para o sul.

Elinor entortou suas penas acima do olho, que formavam sua sobrancelha. Então disse — Impossível.

— É o que dizem, mas eles estão com fome. Dizem que para o nordeste, nossos aliados do reino de Hamudih foram destruídos, suas muralhas não aguentaram um ataque em conjunto. Dizem que eles estão vindo.

— Você acha que isso seria possível? Nossas muralhas nos protegeram desde sempre. Mesmo que eles se reúnam, não seriam capazes de atravessá-las.

— Sei que elas são fortes, mas nunca enfrentamos todos eles juntos. Na verdade — sua sobrancelha levantou, enquanto falava — nem sabemos se eles têm um alfa. Pelos rumores dos sobreviventes de Hamudih, eles têm. Boatos dizem que é possível confundir com uma montanha. Ele é o maior de todos, dizem que mede cem vezes o tamanho dos Korkmas normais. Mas essa reunião, trata-se de algo diferente...

Elinor suspirou. — Sobre minha avó? Era isso que eu queria saber a princípio.

— Sim...

— Então diga logo! Senão irei embora. Está perdendo meu tempo com essa ladainha.

— Temos um sobrevivente que possui informações importantes  e cruciais sobre tudo que vem acontecendo no nosso planeta.

— Você sabia que antigamente poderíamos ir para a praia livremente? Sim, dá para acreditar que havia uma praia. — Lor fechou os olhos e imaginou a praia. Desde criança, ele lia nos livros sobre um lugar com muita água, onde poderia navegar bastante. Um lugar próximo do litoral, onde o calor não era tanto, e tudo estava em equilíbrio.

Elinor não terminou de comer, então se levantou e foi em direção à saída. Deixando Lor sozinho ali mesmo, imaginando na praia. Elinor era carinhosa e destemida, mas a vida a tornou uma Lins rancorosa e impaciente.

— Sua ignorância me satisfaz, parece até com aqueles que tanto a julgam. Nos encontramos amanhã. Essa missão vai definir nosso destino — disse ele.

Zodíaco - SingularidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora