Capítulo 20

51 13 27
                                    

Ximú adentrou os portões da mansão alguns minutos depois. O céu já estava totalmente escuro. O carro parou no jardim iluminado da mansão, e Camila saiu dele, batendo a porta, em seguida.

Viu algo que a fez ficar confusa. Ali, nos jardins da mansão, havia uma viatura de polícia. A sirene ainda estava ligada, fazendo as luzes vermelhas e azuis refletirem em seu rosto. Porém, não possuía som algum. Não estava com um bom pressentimento quanto a isso.

Escutou outra batida de porta e se virou. Ximú havia saído também.

— São quase oito e meia da noite. — Ela explicou ao ver seu olhar confuso. — É melhor eu ir com você. A irmã da Angelina não é fácil.

Fora o trajeto inteiro pensando na conversa que teve com Ximú, na frente da pequena casa, em Pandiógeis, que não havia pensado na possível reação de Carla.

— O que é esse carro com essa luz? — Ximú perguntou.

— Espero que não seja o que estou pensando.

As duas foram em direção à entrada. Quando adentraram o saguão, Camila viu Carla parada junto de Rosa e Bartolomeu, que pareciam preocupados. Ao lado deles. Havia um homem fardado, que Camila concluiu ser um policial. Os quatro a olharam surpresos quando elas passaram pela porta.

Uma expressão de fúria se formou no rosto de Carla, que foi em sua direção. Camila esperava tudo, menos o que aconteceu em seguida. Não teve tempo de reagir, e quase que na mesma hora, sentiu sua bochecha arder, o que a fez levar a mão até o local. Olhou para a mulher com um misto de medo e surpresa.

Carla havia lhe desferido um tapa.

— Irmã... — Ximú começou.

— CALA A BOCA! — Ela olhou com ódio para Ximú, que se encolheu. Ela olhou novamente para Camila, com o mesmo olhar. Seu rosto estava vermelho de raiva. — Por onde esteve?

— E-eu... eu f-fui passar a tarde com a minha tia.

— VOCÊ PRECISA AVISAR! QUANTAS VEZES AS PESSOAS PRECISAM TE EXPLICAR ISSO, SUA IDIOTA? VOCÊ É TÃO BURRA AO PONTO DE PERCEBER QUE ISSO NÃO SE FAZ, IMBECIL? VOCÊ JÁ TEM DEZESSEIS ANOS! VOCÊ FAZ PARTE DA SEGUNDA FAMÍLIA MAIS IMPORTANTE DO PAÍS! ACHA QUE FICAR ZANZANDO POR AÍ É SEGURO?

Ficou calada, sentindo um arrepio subir por sua espinha. De todas as vezes que a viu nervosa, nenhuma se comparava àquele momento.

— E você. — Carla olhou para Ximú. — Acha legal sair raptando minha filha?

— E-eu não...

— Estava tão bom sem você por perto todos esses anos. Você voltou para infernizar a minha vida?

— Eu só achei...

— Não me interessa o que você achou. — Ela se aproximou de Ximú, que se encolheu ainda mais. — Não quero você perto da minha filha! Não quero te ver nunca mais aqui. — Agora falava em um tom assustador e ameaçadoramente baixo. — E juro que se eu souber que você está se aproximando da Leyla, eu acabo com a sua vida!

Camila arregalou os olhos. Isso dificultaria tudo!

— Você não pode...!

— Claro que posso, sua infeliz. Eu sou sua mãe, portanto eu decido! — Carla disse sem se virar para olhá-la.

— Me desculpe. — Ximú lançou um olhar melancólico à Camila, antes de se virar e sair em direção aos jardins. O silêncio reinou no local antes de Carla se virar para encará-la.

— Me dê seu celular.

— O quê? — Ela arregalou os olhos. — Não...

— Me dê!

Como ela falaria com Ximú e Heliberto agora? Tudo parecia estar só piorando. Era a única comunicação, ao que parecia. Não podia ficar sem o aparelho.

— Mãe... por favor.

— Não me faça repetir, Leyla!

Camila sentiu o desespero crescer. Não podia contrariar Carla, pois sabia que seria bem pior. Então não teve outra escolha senão obedecer. Abriu a mochila, tirou o celular e entregou hesitantemente à Carla, que pegou de maneira bruta.

— Você vai lavar todas as privadas dessa casa, durante um mês!

Não era nada comparado com ficar sem um jeito de se comunicar com Heliberto e Ximú. Lavar privas era o que já fez muitas vezes, no orfanato.

— Que bom que não argumentou contra. Pelo menos sabe que está errada. Eu deveria fazer muito pior, sua estúpida. Você irá agora fazer tudo o que eu mandar e vai obedecer ao seu motorista. Você não tem permissão para ir a qualquer outro lugar que não seja a escola. Caso você fuja de novo, ou se quer tente, eu juro que dou sua guarda para a insuportável da sua vó! — Carla se virou e começou a subir as escadas, desaparecendo quando virou para o lado direito.

Sabia que ela não estava brincando ou dizendo alguma mentira. E com certeza morar com Delphine seria bem pior, considerando o jeito daquela mulher. Porém, só não era pior do que não poder se comunicar com Tiago ou algum de seus amigos novamente. Logo agora que o achara, não iria poder vê-lo. Tal pensamento a fez sentir um aperto no peito.

Rosa balançou a cabeça em negação, a olhando com reprovação, antes de sair do local.

— Impressionante. Não sossega mesmo, não é? Eu vou buscar os seus irmãos e você some. Que interessante. Por que não aproveitou e não sumiu de vez? — Bartolomeu disse sarcasticamente.

Dane-se.

Sinceramente, não se importava. Tinha mais coisas com o que se preocupar do que com as coisas idiotas que Bartolomeu falava. Apenas decidiu ignorá-lo e fazer o mesmo que Carla. Subiu as escadas e foi em direção a seu quarto. Quando achou que tudo estava começando a ir bem, voltou a piorar. Não veria Tiago novamente por bastante tempo.

 Não veria Tiago novamente por bastante tempo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora