Capítulo 29

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— Mas você vai contar, não vai? — Paty perguntou enquanto andavam pelos corredores do quinto andar, em direção à sala de aula.

— Eu não sei ainda.

— Como assim não sabe? — A menina se pôs na frente de Camila, bloqueando seu caminho. — Você sabe que ele pode morrer, não sabe?

— E ela também! — Parou de andar, encarando a expressão confusa no rosto a sua frente.

— Camila, isso... — Ela pareceu incrédula. — Você precisa contar!

— Ela vai se entregar sem nem pensar, se eu fizer isso.

— Não é uma escolha sua! Ele pode morrer! — Repetiu. — Você não se importa com isso?

— É claro que eu me importo! Mas não quero que algo ruim aconteça à Ximú. Ela é minha amiga.

— E ele também, não é?

— Mais ou menos.

— Não é porque você não gosta dele que precisa deixar ele morrer.

— Não é que eu não goste dele, eu gosto, mas... se eu tivesse que decidir...

— Mas não é você quem tem que decidir! Ele é importante para ela, e sendo sincera, talvez seja muito mais que você! Eles se conhecem há anos, aparentemente.

— Vamos nos atrasar. — Tentou continuar o caminho, mas Paty a impediu se colocando em sua frente, novamente.

— Camila, eu entendo o seu ponto, eu realmente entendo. — Ela a olhava com uma expressão séria. — Você está pensando assim para proteger quem ama, só que essa escolha não cabe a você. Eu não a conheço, mas sei que se ela descobrisse que você sabia sobre esse prazo e que você não lhe falou, ela nunca iria te perdoar. Se você não contar sobre isso, e acontecer algo a esse tal de Godofredo, você terá uma parcela de culpa. Pense nisso.

Paty saiu andando em direção à sala, deixando Camila parada no meio do corredor, pensativa.

"Você fala tanto do Henry, mas está agindo igual a ele. Está fazendo isso pelo motivo certo, mas da maneira errada."

Se lembrou das palavras de Ximú sobre quando decidiu não contar a Kari e aos outros sobre Tiago. Parte de si, tentou mentir para si mesma ao pensar na possibilidade de a O.P.U não saber sobre a localização de Tiago. Mas no fundo, sempre soube que era verdade, e com o acontecido do dia anterior, suas suspeitas haviam sido confirmadas. E agora, não sabia como contar lhes sobre isso.

O remorso sobre essa situação estava cada vez maior, dentro de si. Saber que os outros Viajantes corriam perigo por conta de seu egoísmo, não a fazia se sentir melhor. Porém, que escolha ela tinha? Eles iriam pôr Tiago na rua, e seu amigo ficaria ainda mais exposto. Da mesma maneira, seria egoísmo seu não contar à Ximú sobre o prazo da O.P.U, e sabia que isso poderia acometer à morte de Godofredo.

Se sentia perdida. Não sabia o que fazer. Por que sempre ela se metia em situações como essa? Por que essas decisões difíceis todas as vezes cabiam a ela? Se contasse, provavelmente seria Ximú quem morreria. A O.P.U a queria para obter o conhecimento do Portal de Henry, e possivelmente, seria isso que fariam com ela em seguida.

O porquê de eles quererem o Portal ainda era um mistério. O que tinha de tão especial nele?

Entrou na sala depois de alguns segundos, e notou que Paty já estava em seu lugar. Porém, sua expressão era melancólica, e já sabia no que a menina estava pensando.

— Não acredito que a Leyla... — Ela começou, olhando para os braços cruzados sobre a mesa.

Camila se sentou, ainda a escutando. Eu deveria estar feliz sobre saber que a Leyla está viva, como eu teorizei. — Paty continuou. — Mas..., ela está do lado uma organização que mata pessoas inocentes?

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora