Capítulo 2

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Pela manhã, os Zeladores estavam tentando conter o pânico de todos. Crianças e adolescentes pareciam ansiosos e desesperados, perto da escadaria. Tiago, porém, olhava a cena com um olhar vazio, ainda com os pensamentos em outro lugar, ou melhor, em outra pessoa. Para onde teria ido Camila? A essa altura, já estava convencido de que era sua amiga na cozinha, quando aquela coisa azul apareceu, e se sentia horrível só por pensar que não a veria novamente.

— Já chega! — O Diretor Walter ordenou de repente, e todas as vozes ansiosas e assustadas se calaram. Walter era um homem alto e corpulento. Sua careca calva e pálida reluzia contra a luz das lâmpadas do teto. Ele olhava para todos com um ar de superioridade e repugna, o que faziam muitos o temerem.

— Ma-mas, Diretor. — Uma garota que Tiago reconheceu ser a que havia sido arrastada até aquela coisa com ele, começou, ainda parecendo assustada e confusa. — Nós vimos uma coisa. E-era azul e grande.

— Não viram nada! Parem com isso, já!

O que ele estava fazendo? Estava tentando ocultar o que aconteceu? O que ele esperava? Que todos esquecessem de tudo? Que Tiago se esquecesse que sua amiga havia sido puxada por aquela coisa?

Uma onda de raiva o invadiu. O Diretor não estava se importando com o sumiço de Camila?

— O que o senhor acha que aconteceu, então? Que colocamos tudo o que estava na cozinha em nossos bolsos? — Tiago perguntou rispidamente.

Todos os olhares se voltaram para ele, parecendo surpresos. O Diretor o olhou furiosamente.

— Olha como você fala comigo, moleque!

— Minha amiga sumiu. Nós vimos que tinha alguém na cozinha, e que essa pessoa havia sido puxada até aquela coisa. Eu sei que foi...

— Sua amiga deve ter fugido, ninguém foi puxado para nada! Proíbo todos vocês de saírem contando essas mentiras por aí. O que iriam pensar os Oliveira? Não sei se sabem, mas tudo que temos aqui é graças a eles, que estão financiando o nosso orfanato! Então, agradeçam por terem comida descente para comer, pois vocês deveriam era comer restos do lixo! Se dependerem do governo, não terão nada!

— Financiando? — Tiago disse ironicamente. — Que financiamento? Os banheiros estão caindo aos pedaços. Ou está falando das "novas" poltronas rasgadas na sua sala? — Fez aspas com as mãos.

O Diretor arregalou os olhos.

— VOCÊ ENTROU NA MINHA SALA?

— Nós vimos! Fomos arrastados em direção àquela coisa! — A menina tornou a dizer.

— CALE A BOCA! VOCÊS NÃO VIRAM NADA, ASSUNTO ENCERRADO!

Todos se calaram novamente. Tiago sentiu a raiva crescer, mas não podia fazer nada, e isso era o pior de tudo. Por mais que falasse tudo o que sentia ou o que viu, nada iria ser feito. Sentiu raiva por conta de sua impotência; se sentiu pequeno e incapaz.

Uma tosse seca e rouca, já conhecida pelos moradores do orfanato foi escutada, e todos olharam na direção do barulho. Graça estava saindo do corredor, descabelada e com uma aparência abatida. Ela parou na entrada do saguão, e ficou fitando todos presentes ali, confusa.

— Graça, estou decepcionado com você. — O Diretor comentou. — Você estava caída em frente à minha sala, com uma garrafa quebrada perto de você. Estava bebendo de novo, não é?

— Quê? COF-COF. Eu não lembro disso não. — Ela arregalou os olhos, enquanto tossia.

— Nós já conversamos sobre você não ficar bebendo por aí! Isso pode estragar a imagem do nosso orfanato.

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora